Pseudo-pentecostais: nem evangélicos, nem protestantes

outubro 17, 2008 at 11:24 pm 7 comentários

Um grande equívoco cometido pelos sociólogos da religião é o de por sob a mesma rubrica de “pentecostalismo” dois fenômenos distintos. De um lado, o pentecostalismo propriamente dito, tipificado, no Brasil, pelas Assembléias de Deus; e do outro, o impropriamente denominado “neopentecostalismo”, melhor tipificado pela Igreja Universal do Reino de Deus. Um estudioso propôs denominar essas últimas de pós-pentecostais: um fenômeno que se seguiu a outro, mas que com ele não se conecta, pois “neo” se refere a uma manifestação nova de algo já existente. Correntes de sociologia argentina já os denominaram de “iso-pentecostalismo”: algo que parece, mas não é. Lucidez e coragem teve Washington Franco, em sua dissertação de mestrado na Universidade Federal de Alagoas, quando classificou o fenômeno representando pela IURD de “pseudo-pentecostalismo”: algo que não é. Um estudo acurado dos tipos ideais, Assembléia de Deus e Igreja Universal do Reino de Deus, sob uma ótica sociológica, ou uma ótica teológica, nos levará à conclusão que se trata de duas manifestações religiosas diversas, que não podem — nem devem — ser colocadas sob uma mesma classificação. Ao se somar, a partir do Censo Religioso, esses dois agrupamentos, tem-se um alto índice de “pentecostais”, constituídos, contudo, pelos que o são e pelos que não o são. Equiparar ambos os fenômenos não faz justiça à Igreja Universal e ofende a Assembléia de Deus. 

Podemos afirmar, ainda, um segundo equívoco dos analistas: considerar a IURD e suas congêneres como “evangélicas”. Elas próprias, por muito tempo, relutaram em se ver como tal, pretendendo ser tidas como um fenômeno religioso distinto, e terminaram por aceitar a classificação “evangélica” por uma estratégia política de hegemonizar um segmento religioso mais amplo no cenário do Estado e da sociedade civil. O evangelicalismo é marcado pela credalidade histórica e pela ênfase doutrinária reformada na doutrina da expiação dos pecados na cruz e na necessidade de conversão, ou novo nascimento. 

Se o pseudo-pentecostalismo não é pentecostalismo, nem, tampouco, evangelicalismo, também não é protestantismo. O discurso e a prática dessa expressão religiosa indicam a inexistência de vínculos ou pontos de contatos com a Reforma Protestante do Século 16: as Escrituras, Cristo, a graça, a fé. Chamar o bispo Macedo de protestante é de fazer tremer o Muro da Reforma, em Genebra, e os ossos de Lutero e Calvino em seus túmulos. Muita gente tem incluído a IURD, e assemelhadas, como pentecostais, evangélicas ou protestantes, para inflar, de forma triunfalista, os números, ou por temor de retaliações legais, ou extralegais, vindas daquelas instituições. Se sociólogos têm denominado manifestações novas na cristandade, como as Testemunhas de Jeová, os Mórmons, ou a Ciência Cristã, como “seitas para-cristãs”, podemos denominar a Igreja Universal e congêneres de “seitas para-protestantes”. 

O que se constata, cada vez mais, é que o fenômeno pseudo-pentecostal tem concorrido para uma maior aproximação entre os pentecostais (já tidos como históricos, por sua antigüidade e mobilidade social e cultural) e as igrejas históricas. De um lado, os pentecostais redescobrem o valor da história, de uma confessionalidade e de uma teologia sólida; do outro, os históricos vão flexibilizando (ou ampliando) a sua pneumatologia, reconhecendo a contemporaneidade dos dons do Espírito Santo. O fosso entre pentecostais e pseudo-pentecostais tende a aumentar, não só pela aproximação entre pentecostais e históricos, mas também pela crescente adesão dos pseudo-pentecostais a ensinos e práticas sincréticas, com o catolicismo romano popular e os cultos afro-ameríndios. Quando estudantes de teologia assembleianos, batistas nacionais ou presbiterianos renovados aprendem com teólogos anglicanos (John Stott, J.I. Packer, Michael Greene, Alister McGrath, N.T. Wright), e anglicanos, luteranos ou presbiterianos usam de um louvor mais exuberante e oram por cura e libertação, na expressão de Gramsci, um novo “bloco histórico” vai se formando (retardado pelo extremo fracionamento entre ambos os segmentos), do qual, é claro, não faz parte o pseudo-pentecostalismo. Esse “bloco histórico” em formação, para se consolidar, não apenas deve se conhecer mais mutuamente, somando conceitos e subtraindo preconceitos, mas também responder aos desafios de um pluralismo que inclui a diversidade do catolicismo romano, o pseudo-pentecostalismo, o esoterismo, os sem-religião e um agressivo secularismo, emoldurado pelo relativismo pós-moderno. Isso passa, necessariamente, pelo aprender com a história da igreja — durante, depois e “antes” da Reforma — e pela superação de uma iconoclastia que, equivocadamente, equipara o artístico com o idolátrico. 

Contamos com estadistas do reino de Deus, com humildade, visão e coragem para consolidar esse bloco? 

Dom Robinson Cavalcanti é bispo anglicano da Diocese do Recife e autor de, entre outros, Cristianismo e Política — teoria bíblica e prática histórica e A Igreja, o País e o Mundo — desafios a uma fé engajada.
www.dar.org.br

Fonte: Revista Ultimato

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Fé Razão e Sentimentos As sutilezas do discurso pseudopentecostal

7 Comentários Add your own

  • 1. Cláudio Pires  |  novembro 20, 2008 às 3:36 pm

    Concordo plenamente com o artigo publicado pelo blog a respeito do Pseudo-pentecostais: nem evangélicos, nem protestantes, pois, apesar de um ancião da igreja Adventista do Sétimo Dia, e termos algumas diferenças doutrinárias, respeito e admiro muitos os pentecostais, mais precisamente a Assembleia de Deus, principalmente pelo seu fervor e zelo pelas coisas de Deus, porém não vejo nada que seja bíblico nessas igrejas “neo-pentecostais”.
    Deus os abençoe.

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  • 2. Danielle Ribeiro Santos  |  janeiro 23, 2009 às 6:41 pm

    Finalmente, alguém desmascarando essa seita chamada erroneamente de igreja (especificamente a IURD me refiro). Que tal, agora, ele demonstrar que realmente é um servo de Deus, desmascarar a sua própria denominação (Anglicana), que não passa de uma igreja MORTA E MUNDANA, ou seja, com a CARA DO MUNDO. Na igreja Anglicana há até ordenação até de transsexuais. Ou seja, o SUJO FALANDO DO MAL LAVADO.

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  • […] Excelente texto que encontrei aqui, Pentecostalismo, e que pode deve ser lido o restante aqui […]

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  • 4. Gilson  |  março 22, 2009 às 6:34 pm

    Pra mim é tudo uma questão de tempo. Um pouquinho de fermento leveda toda a massa, é so dar tempo. Nas ass. de Deus não ha (ainda) sal grosso, rosa vermelha, arruda, gruta do milagre, etc, mas tem as receitas (que imitam a ICAR) tais como faz 3 jejuns na semana (um a mais que os fariseus), faz uma campanha de 7 semanas de oração (ainda acrescentam so com muita oração), como se quantidade resolvesse (mateus 6). Estamos caminhando na mesma direção, os erros do passado voltam a ocorrer assim como o sol nasce todos os dias e a terra gira. A idolatria não é uma escultura ou objeto como alguns pensam e alguns lideres (concupiscentes) ensinam errado, para não serem enquadrados no flagrante delito, a idolatria é uma idéia, modo de pensar, atribuir poder a outrem ou coisa que não o próprio Deus. Adicionam alguns mais uma perola: Pouca oração, pouco poder.
    E Mateus 6 deve estar rasgado da bíblia de muitos, pois agem como verdadeiros pagãos da citação do Senhor Jesus. Precisamos de mais um Lutero (que não tenha rabo preso), urgente.

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  • 5. renato bernardino da silveira  |  junho 2, 2009 às 6:59 pm

    mar:9,32a34:mas eles não entendiam esta palavra,e receavam interrogá-lomas eles calaram-se;porque pelo caminho tinham disputado entre si qual era o maior;irmãos vcs não são diferentes,são farinhas do mesmo saco é repuguinante abrir sites evangélicos para ouvir,ler e ver tantas asneiras botem os juelhos no chão olhem para cima e tentem ver Jesus ascentado no trono que lhe é de direito,olhem para vossos umbigo e entenda vcs são como todos que estão em Cristo:trapo de imundicias,ponto pacífico!!!.

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  • 6. Arão I.Alves de Araújo  |  julho 22, 2009 às 8:21 pm

    O estudo da religião de constitui em um elemento extremamente comlexo, principalmente se considerado a partir de aporte científico, ou seja, como um objeto de estudo. Quando estudamos a História do pentecostalismo brasileiro percebemos que ele não esteve restrito à AD, embora o segmento assemblleiano de constitua hoje na maior igreja evangélica do Brasil. as mudanças nas práticas e crenças foram marcantes ao longo do século passado e convergiram para o surgimento de diversos movimentos “rebeldes” que deram origem a diferentes igrejas.
    O sociólogo Paul Freston em sua tese de doutoramento pela Unicamp classifica três momentos distintos que são por ele denominados de ondas. A universal estaria inserida na terceira onda.
    Os teólogos pentecostais, principalmente os assembleianos não concordam com o modelo classificatório, entretanto não podemos esquecer que as perspectivas são diferentes, visto que as análises destes são mais ou menos dogmáticas enquanto a dos cientistas tratam, ou deveriam tratar a religião como objeto.
    Faço essa observação pois vivo os dois lados, sou historiador e pesquisador do pentecostalismo e de outro lado sou pentecostal a 42 anos.

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  • 7. Dhanna  |  janeiro 27, 2010 às 2:26 am

    Que deus tenha misericórdia de todos nós que muitas das vezes falamos daquilo que não entendemos e não temos certeza. Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus. No final, veremos o destino dos que servem e dos que não servem a Deus. Cada qual estejam seguros naquilo que acreditam ( Bíblia) e continuem firme olhando para o autor e consumador de nossa fé, pois as coisas estão ai para tentar confundir, mas as ovelhas de Jesus Cristo conhecem a sua voz e o segue. Se existe pessoas com dúvidas, é porque não conhece a voz do mestre e isso não depende de placa de igreja, elas não entrarão no céu, mas lavados e remidos no sangue do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

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