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Não quero ser apóstolo

 

Não Quero Ser Apóstolo

Os pastores possuem um fino senso de humor. Muitas vezes, reúnem-se e contam casos folclóricos, descrevem tipos pitorescos e narram suas próprias gafes. Riem de si mesmos e procuram extravasar na gargalhada as tensões que pesam sobre os seus ombros. Ultimamente, fazem-se piadas dos títulos que os líderes estão conferindo a si próprios. É que está havendo uma certa, digamos, volúpia em pastores se promoverem a bispos e apóstolos. Numa reunião, diz a anedota, um perguntou ao outro: “Você já é apóstolo?” O outro teria respondido: “Não, e nem quero. Meu desejo agora é ser semideus. Apóstolo está virando arroz de festa, e meu ministério é tão especial que somente o título de semideus cabe a mim”. Um outro chiste que corre entre os pastores é que se no livro do Apocalipse o anjo da igreja é um pastor, logo, aquele que desenvolve um ministério apostólico seria um “arcanjo”.

Já decidi! Não quero ser apóstolo! O pouco que conheço sobre mim mesmo faz-me admitir, sem falsa humildade, que eu não teria condições espirituais de ser um deles. Além disso, não quero que minha ambição por sucesso ou prestígio, que é pecado, se transforme em choça.

O apostolado consta entre os cinco ministérios locais descritos pelo apóstolo Paulo em Efésios 4.11. Não há como negar que os apóstolos foram estabelecidos por Deus em primeiro lugar, antes dos profetas, mestres, operadores de milagres e curas, aqueles que prestam socorro, aqueles que governam e aqueles que falam variedades de línguas. Mas resigno-me contente à minha simples posição de pastor. Já que nem todos são apóstolos, nem todos são profetas, nem todos são mestres ou operadores de milagres, como consta em 1 Coríntios 12.29, parece não haver demérito em ser um mero obreiro.

Meus parcos conhecimentos do grego não me permitem grandes aventuras léxicas. Mas qualquer dicionário teológico serve para ajudar a entender o sentido neotestamentário do verbete “apóstolo”, ou “apostolado”. Vejamos o que registra a Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã:

O uso bíblico do termo “apóstolo” é quase inteiramente limitado ao NT, onde ocorre setenta e nove vezes; dez vezes nos evangelhos, vinte e oito em Atos, trinta e oito nas epístolas e três no Apocalipse. Nossa palavra em português é uma transliteração da palavra grega apostolos, que é derivada de apostellein, enviar. Embora várias palavras com o significado de enviar sejam usadas no NT, expressando idéias como despachar, soltar, ou mandar embora, apostellein enfatiza os elementos da comissão — a autoridade de quem envia e a responsabilidade diante deste. Portanto, a rigor, um apóstolo é alguém enviado numa missão específica, na qual age com plena autoridade em favor de quem o enviou, e que presta contas a este.

Jesus foi chamado de apóstolo em Hebreus 3.1. Ele falava os oráculos de Deus. Os doze discípulos mais próximos de Jesus também receberam esse título. Parece que o número de apóstolos era fixo, porque há um paralelismo com as doze tribos de Israel. Jesus se refere a apenas doze tronos na era vindoura (Mt 19.28; cf. Ap 21.14). Depois da queda de Judas, e para que se cumprisse uma profecia, ao que parece, a igreja sentiu-se obrigada, no primeiro capítulo de Atos, a preencher esse número. Mas, na história da igreja, não se tem conhecimento de esforços para selecionar novos apóstolos para suceder àqueles que morreram (At12.2). Com o passar do tempo, as exigências para que alguém se qualificasse ao apostolado já não poderiam se cumprir:

É necessário, pois, que, dos homens que nos acompanharam todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós, começando no batismo de João, até ao dia em que dentre nós foi levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição (At 2.21, 22).

Portanto, alguns dos melhores exegetas do Novo Testamento concordam que as listas ministeriais de 1 Coríntios 12 e Efésios 4 referem-se exclusivamente aos primeiros, e não a novos apóstolos.

Há, entretanto, a peculiaridade do apostolado de Paulo. Uma exceção que confirma a regra. Na defesa de seu apostolado em 1 Coríntios 15.9, ele afirma que foi testemunha da ressurreição (viu o Senhor na estrada de Damasco), mas reconhece que era um abortivo (nascido fora de tempo): “Porque sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus” (1 Co 15.10). O testemunho de mais de dois mil anos de história é que os apóstolos foram somente aqueles doze homens que andaram com Jesus e foram comissionados por Ele para serem as colunas da igreja, comunidade espiritual de Deus.

O que preocupa em relação aos apóstolos pós-modernos é ainda mais grave. Está ligado à nossa natureza, que cobiça o poder, que se encanta com títulos e que faz do sucesso uma filosofia ministerial. Tem acontecido uma corrida frenética nas igrejas para ver quem é o maior, quem está na vanguarda da revelação do Espírito Santo e quem ostenta a unção mais eficaz. Tanto que os que se afoitam ao título de apóstolo são os líderes de ministérios de grande visibilidade e que conseguem mobilizar grandes multidões. Possuem um perfil carismático, sabem lidar com massas e, infelizmente, são ricos.

Não quero ser um apóstolo porque não desejo a vanguarda da revelação. Desejo ser fiel ao leito principal do cristianismo histórico. Não quero uma nova revelação que tenha sido despercebida por Paulo, Pedro, Tiago ou Judas. Não quero ser apóstolo porque não quero me distanciar dos pastores simples, dos missionários sem glamour, das mulheres que oram nos círculos de oração e dos santos homens que me precederam e que não conheceram as tentações dos megaeventos, do culto espetáculo e da vanglória da fama. Não quero ser apóstolo porque não acho que precisemos de títulos para fazer a obra de Deus, especialmente quando eles nos conferem status. Aliás, estou disposto até mesmo a abrir mão de ser chamado pastor, se isso representar uma graduação, e não uma vocação ao serviço.

Não desdenho as pessoas. Apenas sinto um profundo pesar em perceber que a ambiência evangélica conspira para que homens de Deus sintam-se tão atraídos à ostentação de títulos, cargos e posições. Embriagados com a exuberância de suas próprias palavras, crentes que são especiais aceitam os aplausos que vêm dos homens e esquecem que não foi esse o espírito que norteou o ministério de Jesus de Nazaré.

Jesus nos ensinou a não cobiçar títulos e a não aceitar as lisonjas humanas. Quando um jovem rico o saudou com um “Bom Mestre”, rejeitou a interpelação: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão um, que é Deus” (Mc 10.17, 18). A mãe de Tiago e João pediu um lugar especial para os seus filhos. Jesus aproveitou o mal-estar causado para ensinar:

Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos. (Mt 20.25-28.)

Os pastores estão se esquecendo do principal. Não fomos chamados para ter ministérios bem-sucedidos, mas para continuar o ministério de Jesus, que foi amigo dos pecadores e compassivo com os pobres, e identificou-se com as dores das viúvas e dos órfãos. Ser pastor não é acumular conquistas acadêmicas, não é conhecer políticos poderosos, não é ser um gerente de grandes empresas religiosas, não é pertencer aos altos escalões das hierarquias religiosas. Pastorear é conhecer e vivenciar a intimidade de Deus com integridade. Pastorear é caminhar ao lado da família que acaba de enterrar um filho prematuramente e que precisa experimentar o consolo do Espírito Santo. Pastorear é ser fiel a todo o conselho de Deus; é ensinar ao povo a meditar na Palavra de Deus. Ser pastor é amar os perdidos com o mesmo amor com que Deus os ama.

Pastores, não queiram ser apóstolos, mas busquem o secreto da oração. Não ambicionem ter megaigrejas, mas busquem ser achados despenseiros fiéis dos mistérios de Deus. Não se encantem com o brilho deste mundo, mas busquem ser apenas serviçais. Não alicercem seus ministérios sobre o ineditismo, mas busquem manejar bem a Palavra da verdade, aquela mesma que Timóteo ouviu de Paulo e que deveria transmitir a homens fiéis e idôneos, que por sua vez instruiriam a outros. Pastores, não permitam que os seus cultos se transformem em shows. Não alimentem a natureza terrena e pecaminosa das pessoas; preguem a mensagem do Calvário.

Santo Agostinho afirmou: “O orgulho transformou anjos em demônios”. Se quisermos nos parecer com Jesus, sigamos o conselho de Paulo aos filipenses: “Tende o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois Ele subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.5-8).

por Pr. Ricardo Gondim, líder da Assembléia de Deus Betesda.

julho 6, 2008 at 1:22 am 2 comentários

Uma inspiração

Frida Vingren foi uma mulher fantástica. Esposa do fundador das Assembléias de Deus no Brasil, ela tinha brilho próprio.

É possível conhecer sua têmpera pelo pouco de sua ternura que transbordou em um hino que compôs, e que faz parte do cancioneiro pentecostal.

A poesia de Frida Vingren contraria a onda triunfalista que assola os religiosos que ainda têm a petulância de se denominarem evangélicos –  coisa que não são.

Eu já cantei esse hino entre lágrimas e sempre que estou debaixo de muito estresse, gosto de citá-lo – já que não consigo cantar mesmo.

1
Bem-aventurado o que confia
No Senhor, como fez Abraão;
Ele creu, ainda que não via,
E, assim, a fé não foi em vão.
É feliz quem segue, fielmente,
Nos caminhos santos do Senhor,
Na tribulação é paciente,
Esperando no seu Salvador.

2
Os heróis da Bíblia Sagrada,
Não fruíram logo seus troféus;
Mas levaram sempre a cruz pesada,
Para obter poder dos céus,
E depois, saíram pelo mundo,
Como mensageiros do Senhor,
Com coragem e amor profundo,
Proclamando Cristo, o Salvador.

3
Quem quiser de Deus ter a coroa,
Passará por mais tribulação;
Às alturas santas ninguém voa,
Sem as asas da humilhação;
O Senhor tem dado aos Seus queridos,
Parte do Seu glorioso ser;
Quem no coração for mais ferido,
Mais daquela glória há de ter.

4
Quando aqui as flores já fenecem,
As do céu começam a brilhar;
Quando as esperanças desvanecem,
O aflito crente vai orar;
Os mais belos hinos e poesias,
Foram escritos em tribulação,
E do céu, as lindas melodias,
Se ouviram, na escuridão.

5
Sim, confia tu, inteiramente;
Na imensa graça do Senhor;
Seja de ti longe o desalento
E confia no Seu santo amor.
Aleluia seja a divisa,
Do herói e todo o vencedor;
E do céu mais forte vem a brisa,
Que te leva ao seio do Senhor.

Que o espírito de Frida Vingren volte aos arraiais pentecostais, ela sabia coisas que a atual geração ainda não aprendeu.

Soli Deo Gloria.

Ricardo Gondim é pastor da Assembléia de Deus Betesda.

junho 16, 2008 at 12:10 pm 2 comentários

Um novo modismo evangélico

Eu estava no culto em que um pastor alardeou que obturações de ouro seriam dadas por Deus. Em instantes, as pessoas passaram a examinar umas às outras e pasmas, choravam afirmando que muitos dentes estavam divinamente restaurados. Presenciei um evangelista norte americano soprando – pretensamente como Jesus fez em seu ministério – e pessoas sendo jogadas no chão. Assustei-me com a trivialidade com que alguns pastores relataram seus encontros com anjos. Estupefato ouvi um novo modo de orar entre os evangélicos; as preces, agora vinham entrecortadas com ordens, exorcizando demônios. Inquietei-me com uma geração de evangélicos amedrontados com maldições e pragas. Imperativos que “amarravam” demônios me deixaram desassossegado.

 

A igreja evangélica brasileira é muito frágil teologicamente. Por isso sofre com os mais diversos modismos. Lembro-me que, em um congresso para líderes, fui desafiado a falar sobre qual seria a próxima moda que varreria a igreja nacional. Recordo-me que precedi minha palestra afirmando que primeiramente, seria necessário entender que as forças do mercado agem com muita força na elaboração teológica. Qualquer movimento vindo do exterior e que tenha sido bem sucedido lá, será copiado. As lideranças evangélicas querem achar o método que alavancará suas comunidades. Se uma determinado estratégia mostra-se eficaz no exterior, aqui dificilmente se questionará a teologia que a alicerça. Segundo, o brasileiro é culturalmente místico. Tendemos aceitar acriticamente propostas teológicas que promovam experiências sobrenaturais. O brasileiro fascina-se pelo mistério e pela magia. Afirmei naquela palestra também, que, como o mundo pós-moderno, a igreja busca estratégias de resultado imediato.

 

Acredito que os modismo não podem ser detectados com antecedência. Mas qualquer que seja a próxima onda, a igreja precisa estabelecer alguns princípios. Eles ajudarão que se embarque em novidades sem discernimento crítico.

 

1) A teologia da Cruz.

 

Paulo escreveu a sua epístola aos Gálatas, preocupado que houvesse acréscimos à cruz. Os fariseus convertidos queriam que, além da doutrina da redenção, se acrescentassem alguns preceitos essenciais ao judaísmo, como a circuncisão. Sua carta procurava enaltecer a total suficiência do sacrifício de Cristo. Ele acreditava que qualquer acréscimo à expiação de Cristo não apenas enfraquecia as bases do Cristianismo, como anulava-as. “Eu, porém, irmãos, se ainda prego a circuncisão, por que continuo sendo perseguido? Logo está desfeito o escândalo da cruz”– Gálatas 5.11.

 

Não seriam os movimentos de “Cura Interior” que se alastram nas igrejas evangélicas um enfraquecimento da doutrina do novo nascimento? Recebi de um leitor do Ultimato um formulário com quatorze páginas de um seminário de cura interior ministrado em várias igrejas pelo Brasil. O seminário é para cristãos que ainda carregam seqüelas do passado de pecado. A pessoa passa por uma longa sabatina, revolvendo toda a sua vida e procurando encontrar aberturas espirituais no passado que tragam maldições no presente. Buscam ser exaustivos e chegam às raias da paranóia. Indagam se a pessoa comeu cocada no dia em que se celebra Cosme e Damião, se os seus pais ou avós freqüentaram reuniões de cultos afro brasileiros. Querem saber se a pessoa sonha freqüentemente com “negros” em um flagrante preconceito que fere, inclusive a Constituição. Há encontros em que se praticam regressões até a vida intra uterina. Pede-se à pessoa que visualize o esperma do pai encontrando-se com o óvulo da mãe e que detecte sinais de maldição que tenha desdobramentos em sua vida presente. Mesmo aceitando que haja escolas da psicologia que advoguem a regressão como técnica terapêutica. Ela é inaceitável como prática espiritual. Não há como negar que uma pessoa convertida ainda pode carregar seqüelas emocionais, traumas psicológicos e até desequilíbrios psíquicos. Entretanto, é inadmissível que um cristão nascido de novo ainda necessite “quebrar” maldições de sua vida passada. A Bíblia contém inúmeros textos afirmando o contrário: “Não vos lembreis das cousas passadas, nem considereis as antigas…Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e de teus pecados não me lembro”- Isaías 43.18,25. “Pois perdoarei as suas iniqüidades, e dos seus pecados jamais me lembrarei”- Jeremias 31.34. “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”- João 8.36. “E assim, se alguém está Cristo, é nova criatura, as cousas antigas já passaram; eis que tudo se fez novo”- 2 Coríntios 5.17. Mas uma cousa faço: esquecendo-me das cousas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”- Filipenses 3.13-14. Sessões de cura interior são inócuas para preservar qualquer pessoa espiritualmente, danosas na gestação de autênticos discípulos e um horror como cura psicológica. Alguém que se submeteu a uma sessão de “Cura Interior” corre o risco de entrar em uma paranóia espiritual e descobrir que continua sofrendo com seus traumas psicológicos, e pode facilmente se desesperar pois foi-lhe prometido que Deus a curaria instantaneamente.

 

O Evangelho Antropocêntrico.

 

Desde a Modernidade e com o apogeu do Iluminismo, homens e mulheres subiram em um pedestal. O mundo ocidental acredita que merecemos ser felizes e que tudo deve gravitar em torno de nos tornar plenos. Inclusive Deus. Devido a essa visão, aprendemos um conceito religioso egoísta. Entendemos como evangelho o anúncio de um Deus que nos faça bem. Que esteja ao nosso dispor. Assim, nossas preces se resumem a pedir. Queremos que nosso louvor seja agradável a nós mesmos. Compreendemos conversão como uma descoberta que nos fez mais felizes. Hoje, muitos evangélicos aprenderam a “reivindicar” direitos e “decretar” bênçãos. Recentemente vi um adesivo colado no vidro do carro de um crente que pedia: “Dê uma chance para Deus.” Quem será que necessita de uma chance? Deus ou homens e mulheres que se rebelaram contra Deus que é amoroso e bom? Estarrecido, soube que há encontros evangélicos onde as pessoas aprendem a “liberar” perdão para Deus. É o cúmulo! Inverteram-se os papéis. Deus agora precisa ser perdoado? Urge voltar ao anúncio do Reino em que ele é Senhor Soberano e amorosamente estende sua graça para todos.

 

Atalhos.

 

Tanto as forças do mercado como a tecnologia pós moderna condicionam esta geração ao imediatismo. Acredita-se que tudo pode ser resolvido no estalar de dedos. As propagandas na televisão conseguem solucionar os problemas de limpeza de uma casa, garantem seguro médico, prometem férias felizes, dão-nos prestígio. Tudo em 30 segundos. Buscamos também resolver nossos dilemas espirituais em rápidos momentos de um culto. Infantilmente acreditamos que bastam alguns momentos de êxtase espiritual para subirmos os penosos degraus da maturidade cristã. Paulo admitiu que necessitava mais do que surtos de adrenalina espiritual: “mas esmurro o meu corpo, e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado”- I Coríntios 9.27. Não há atalhos na escola de Deus. Nada substitui o discipulado. Nenhum método suplantaria a igreja como comunidade terapêutica. Experiências com Deus se acumulam com amargas derrotas e felizes triunfos. Dia a dia aprende-se a fidelidade de Deus. Devemos olhar com cautela ministérios que prometem que em um simples final de semana os imaturos serão transformados em líderes capazes. É potencialmente desastroso montar uma estrutura eclesiástica em técnicas tão velozes.

 

Os modismos são sinais dos tempos. Para não sermos levados por todo vento de doutrina, portemo-nos como os bereanos, conferindo com as escrituras todas as novidades que surgem no cenário religioso. Acreditemos que passarão os céus e a terra, mas a sua Palavra permanecerá.

 

Soli Deo Gloria.

 

Ricardo Gondim Rodrigues é teólogo, escritor e pastor da Assembléia de Deus Betesda.

maio 9, 2008 at 1:15 pm Deixe um comentário

O ‘cair no espírito’ é consistente com uma Cosmovisão Bíblica?

Hoje milhares de pessoas estão rotineiramente “caindo no espírito” em nome de uma demonstração moderna e palpável do poder do Espírito Santo. Os praticantes alegam ampla validação desse fenômeno na Escritura, na história da igreja e na experiência. Contudo, o fenômeno não apenas está claramente ausente no ministério de Jesus e dos Apóstolos, mas é totalmente inconsistente com uma cosmovisão bíblica.

Primeiro, como apropriadamente observado por fontes pro-Pentecostais, tais como o

Dictionary of Pentecostal and Charismatic Movements (DPCM) (Grand Rapids: Zondervan, 1988): “Um batalhão inteiro de textos-prova da Escritura é alistado para apoiar a legitimidade do fenômeno, embora a Escritura claramente não ofereça nenhum apoio para o fenômeno como sendo algo a ser esperando na vida cristã normal” (p. 790).

Além do mais, a experiência de “cair no espírito” pode ser atribuída à mera manipulação humana. De acordo com o DPCM, “em adição a Deus, a fonte da experiência pode ser uma resposta puramente humana à auto-sugestão, pressão do grupo, ou simplesmente um desejo de experimentar o fenômeno” (p. 789). Os sarcásticos podem escrever sobre o uso de estados alterados de consciência, pressão do grupo, expectações, e poderes sugestivos como mera manipulação sócio-psicológica, mas os cristãos devem perceber uma ameaça ainda mais significante – essas técnicas são solo fértil para o engano satânico e espiritual.

Finalmente, o fenômeno de “cair no espírito” tem mais em comum com o ocultismo do que com uma cosmovisão bíblica. Um popular praticante do “cair no espírito”, Francis MacNutt, confessa honestamente em seu livro Overcome by the Spirit, que o fenômeno é extremamente similar às “manifestações de vudu e outros rituais mágicos” e é “encontrado hoje entre tribos primitivas da África e América Latina”. Em rígido contraste, a Escritura deixa claro que como cristãos devemos ser “sóbrios e alertas” (1 Pedro 5:8), ao invés de estar num estado alterado de consciência ou “cair no espírito”.

Para estudo adicional, veja Hank Hanegraaff, Counterfeit Revival: Looking for God in All the Wrong Places, rev. ed. (Nashville: Word Publishing, 2001).

I PEDRO 5:8-9

“Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário,

anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem

possa tragar. Ao qual resisti firmes na fé.

 

Fonte: The Bible Answer Book, Hank Hanegraaff, Thomas Nelson p. 82-5.

Traduzido por: Felipe Sabino do site Monergismo.com

Autor: Hank Hanegraaff, presidente do Instituto Cristão de Pesquisas dos EUA.

 

 

março 7, 2008 at 2:27 pm 2 comentários

O Evangelho do Entretenimento

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Pr. Ciro Sanches Zibordi

“Que fareis pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação” (I Coríntios 14:26)

Nunca o mundo esteve tão religioso, e as igrejas tão mundanas. Não se faz mais distinção entre shows e cultos de “adoração”. Em algumas reuniões, os jovens utilizam gritos característicos das torcidas de futebol, como “Ê-ô, ê-ô, Jesus Cristo é o Senhor!” ou “Eu já falei, vou repetir, é Jesus Cristo que comanda isso aqui!”, além de dançarem ao som de ritmos pra lá de vibrantes.

Há igrejas cujo púlpito é uma prancha de surf, freqüentadas por jovens que, nos “cultos”, vestem bermudas, calçam chinelos de dedo, além de exibirem tatuagens e piercing. Para arrecadar fundos extras, algumas denominações realizam festas similares às juninas, permitindo que seus membros dancem quadrilha no “arraiá evangélico”. E há até igrejas que promovem uma espécie de Halloween – dia das bruxas –, alterando o nome para Elohin!

O que é o evangelho do entretenimento?

O evangelho do entretenimento tem transformado os cultos de Deus em meros ajuntamentos para pular, gritar, dançar, assobiar, fazer “trenzinho”, cantar, cantar e cantar. Trata-se de um evangelho “sem limites”, que pode ser comparado ao “fermento” de Herodes (Marcos 8:15) – os herodianos eram liberalistas, modernistas, secularistas, irreverentes e contextualizadores.

Nos “cultos-shows” não há espaço para a exposição da Palavra de Deus. Em muitas dessas reuniões de “adoração extravagante” – expressão muito em voga na atualidade –, a pregação, quando ocorre, é uma rápida palestra motivacional, voltada para o bem-estar dos espectadores, e não uma exposição da sã doutrina. Tudo é feito a fim de agradar e entreter a “galera”.

Fico imaginando como Paulo reagiria, em seu tempo, se os crentes fossem aos cultos em busca de entretenimento. Ele, que sempre combateu a desordem, deu as seguintes instruções sobre a Ceia do Senhor: “…se algum tiver fome, coma em casa, para que não vos ajunteis para condenação” (I Coríntios 11:34). E, quanto aos dons espirituais, enfatizou: “…faça-se tudo decentemente e com ordem” (I Coríntios 14:40).

Muitos músicos, em nossos dias, orientados pelos propagadores desse falso evangelho – essencialmente comercial e também voltado para as preferências humanas –, imitam os intérpretes mundanos, secularizando cada vez mais a liturgia do culto. Mas Deus não mudou; a Sua Palavra é a verdade. E nela está escrito: “Guarda o teu pé, quando entrares na Casa de Deus…” (Eclesiastes 5:1).

Comecemos pela música

É impossível imaginar o mundo sem a música. Ela está presente em todos os lugares: rádio, televisão, cinema, discotecas, atividades políticas e cívicas, eventos sociais ou desportivos, comemorações, funerais, etc. A música, além de ser a linguagem universal da humanidade, é uma ciência e uma arte. Daí o salmista ter dito: “…tocai bem [técnica] e com júbilo [arte]” (Salmos 33:3).

O vocábulo latino musica vem do grego mousiké, “a arte das musas”. Na mitologia grega, há nove musas que patrocinam as ciências e as artes. Calíope (poesia épica), Clio (história), Euterpe (música), Melpômene (tragédia), Tália (comédia), Urânia (astronomia), Érato (poesia amorosa), Terpsícore (dança) e Polímnia (hinos).

Segundo o dicionário da língua portuguesa, a música é a arte e a técnica de combinar sons de maneira agradável ao ouvido. Agradável, não em relação ao gosto musical, mas no que diz respeito aos bons efeitos que ela deve causar ao ouvido humano. Para isso, a música precisa ser composta de emissões vibratórias com freqüências bem definidas, que podem ser capturadas pelas limitações fisiológicas do ouvido.

Para o seguidor de Cristo, a música é muito mais que uma ciência, uma arte ou forma de expressão. É um meio pelo qual se adora ao Senhor, seja através dos cânticos, seja mediante a execução de instrumentos (Salmos 150). Como servos de Deus, devemos cantar ao Senhor um cântico novo e adorá-Lo na beleza de Sua santidade (Salmos 96:1,9).

Acredite se quiser!

Estilos musicais como o rock exigem um elevado volume de som. E o nosso ouvido não suporta altos níveis de ruído. Como a intensidade de som – medida em decibéis – aumenta de forma logarítmica, e não aritmética, um simples aumento de três decibéis implica em dobrar a intensidade do som. Como comparativo, um aspirador de pó chega a produzir oitenta decibéis; já uma turbina de avião, 120.

Já se constatou, por meio de estudos científicos, que o ouvido humano pode suportar, sem prejuízo auditivo, as seguintes taxas: a 111 decibéis, quase quatro minutos; a 120, cerca de 28 segundos; a 129, quase quatro segundos; e q 138 decibéis, o ouvido suportaria menos da metade de um segundo! Não é por acaso que há várias pessoas com deficiência auditiva.

Em algumas cidades brasileiras, as reclamações a respeito do barulho nas igrejas são tantas, que levaram as prefeituras a obrigar as instituições e espaços destinados a cultos religiosos a ter dispositivos de proteção acústica (bloqueadores de ruídos), prometendo multar, cassar a licença, retirar equipamentos sonoros ou até fechar os estabelecimentos em que o barulho ultrapasse os limites para cada zona e horário. Devemos encarar isso como uma perseguição aos evangélicos?

Alguns estilos são hipnóticos – isso em razão da pouca variação rítmica e da repetição de palavras, que criam um estado emocional tal que a mente deixa de funcionar normalmente. Há experiências sérias sobre hipnose e ritmo que comprovam o quanto certos estilos podem destruir o mecanismo inibitório normal do córtex cerebral, permitindo fácil aceitação da imoralidade, bem como o desrespeito de normas morais. 2

A guitarra rítmica, quando distorcida, confere carga emocional e agressividade à música. A guitarra solo, ao acentuar os sons graves e reforçar os agudos, prolongando-os, gera suspense, tensão e expressividade adequados para levar os ouvintes ao delírio. E a bateria, quando tocada de modo exagerado, tira o ouvinte a capacidade de raciocinar normalmente. Acredite se quiser!

Salmos, hinos e cânticos espirituais

Em Colossenses 3:16, está escrito: “A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais; cantando ao Senhor com graça em vosso coração”.

Salmos – eram os mesmos contidos no Antigo Testamento, transformados em hinos de adoração.

Hinos – eram as composições de louvor a Deus e ao Senhor Jesus Cristo cujas letras não tinham sido extraídas do livro de Salmos.

Cânticos espirituais – englobavam uma gama maior de composições líricas, inclusive os outros dois tipos mencionados. Considerando que cântico é o encontro entre a voz, a música e a letra, quando esses três elementos são consagrados a Deus e aceitos por Ele, temos um cântico espiritual.

Para termos a certeza de que o Senhor se agrada de um cântico (voz, música e letra), devemos submetê-lo ao crivo de Filipenses 4:8. É verdadeiro? É honesto? É justo? É puro? É amável? É de boa fama? Há nele alguma virtude e algum louvor? Tudo o que fazemos deve ser para a glória de Deus (I Coríntios 10:31).

É boa a fama do rock? Desde a sua origem, esses estilo está relacionado com imoralidade e drogas, ocultismo, drogas, e violência. Basta lembrarmo-nos do slogan “Sexo drogas e rock and roll”. E o que dizer dos estilos como funk, reggae, axé, hip-hop, samba e forró? Procure conhecer um pouco da história desses estilos antes de pensar que sou extremista.

Melodia, harmonia e ritmo, nessa ordem!

Existem três maneiras de se ouvir música:

Com o corpo – quem ouve com o corpo se deixa dominar pelo “embalo” da música.

Com a emoção – quem ouve emotivamente permite que a música comande os seus sentimentos e emoções.

Com o intelecto – essa é a forma correta de se ouvir, sabendo discernir a música. E isso só é possível quando não se prioriza o ritmo. O culto a Deus deve ser espiritual e, ao mesmo tempo, racional (João 4:24; Romanos 12:1; I Coríntios 14:15).

Muitos crentes cantam e tocam sem louvar ao Senhor, como acontecia nos dias do profeta Isaías (29:13). As palavras de louvor devem nascer em um coração preparado (Salmos 57:7), mas somente as letras cristãs e bíblicas não são suficientes para tornar um cântico apropriado para o louvor. Lembre-se de que o cântico só é espiritual quando todos os seus elementos (voz, letra e música) o são.

A música é formada por três elementos:

Melodia – sucessão ascendente e descendente de sons a intervalos e alturas variáveis, formando um fraseado; é adornada pela harmonia e acentuada pelo ritmo, embora possa ser compreendida isoladamente.

Harmonia – combinação de sons simultâneos, emitidos no mesmo instante, tendo como base a tonalidade; e como princípio gerador a estrutura do acorde.

Ritmo – Sucessão regular de tempos fortes e fracos cuja função é estruturar uma obra musical.

Esses três elementos, intrínsecos na música, se relacionam com o homem, que também é tripartido: espírito, alma e corpo. Nesse caso, o elemento mais importante da música, a melodia, relaciona-se com a parte mais profunda do ser humano, o seu espírito. E assim por diante.

Assim, o estilo musical apropriado para o cântico de adoração é o que tem como essência a melodia, pois é ela que se relaciona com o espírito (João 4:23,24). Há estilos carregados de agressividade e barulho, que apenas balançam o corpo, e não o coração, porque são rítmicos ao extremo; isto é, priorizam o ritmo, e não a melodia.

Melodia – relaciona-se com o espírito.
Harmonia – relaciona-se com a alma.
Ritmo – relaciona-se com o corpo.

Infelizmente, é uma tendência do ser humano inverter as prioridades. De acordo com I Tessalonicenses 5:23, Deus nos santifica a partir do espírito. Mas muitos ignoram isso e, como se o versículo dissesse: “corpo, alma e espírito”, priorizam o corpo. Meditemos no que Paulo, inspirado pelo Espírito, disse aos gálatas: “Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne?” (Gálatas 3:3).

Música profana na Casa de Deus?

Conquanto a música, uma das primeiras artes da civilização, seja atribuída a Jubal, filho de Lameque (Gênesis 4:21), ela teve origem no Criador (Jó 38:7). Os seres angelicais ocupam-se da adoração a Deus por meio da música (Lucas 2:13,14; Apocalipse 5:7-14). Na terra, o cântico com música sacra é uma das tarefas mais sublimes dos servos do Senhor (Salmos 149:1). E o louvor continuará sendo executado por toda a eternidade: “… o seu louvor permanece para sempre” (Salmos 111:10).

Entretanto, nesses últimos dias, até a música secular está corrompida. Estilos românticos, sentimentais, artistas e folclóricos dão lugar a agressivos, frenéticos, lascivos e erotizantes, como o funk dos morros cariocas até o axé baiano. Essa deturpação diabólica, infelizmente, atinge as igrejas. E a música sacra vem sendo submetida a uma dessacralização – isso é uma forma de apostasia da fé (I Timóteo 4:1).

Dessacralização é o ato ou o efeito de subtrair o caráter sagrado. É sinônimo de profanação (II Timóteo 3:2; Hebreus 12:6). No caso da música sacra, é desprovê-la dos elementos relacionados com o louvor a Deus, tornando-a vulgar, secular, mundana, como qualquer outra, chamando a atenção para os músicos e cantores, e não para Jesus, o único digno de louvor (Salmos 48:1). Lembre-se de que o Senhor habita entre louvores, e não entre os cantores e músicos (Salmos 22:3).

Embora Deus seja o autor da musica, isso não significa que todos os estilos musicais sejam dEle. A música é como o alfabeto. Por meio dele escrevem-se – com as mesmas letras – mensagens boas ou ruins; cristãs ou satânicas. Da mesma forma, compõe-se, com as mesmas notas, músicas próprias para o louvor ou impróprias; sacras ou profanas.

Joanyr de Oliveira, com muita criatividade, abordou essa questão da dessacralização da música:

A casa de Deus, Música Profana, não lhe pertence, não é o seu lugar. Seu lugar é nos palcos, nos auditórios de emissoras, nos vídeos, mas nunca e nunca nos templos onde se devem ouvir os límpidos cânticos espirituais e harmonias solenes e inspiradoras ao louvor de Deus, “na beleza da sua santidade”…

Por enquanto ainda somos compelidos (e constrangidos) a lhe dirigir parabéns pelos seus extraordinários triunfos, Música Profana. Mas Deus há de permitir que, em futuro próximo, possamos dizer em alto e bom som: A Igreja do Senhor venceu a Música Profana, que retornou aos salões de baile e aos auditórios seculares, de onde nunca deveria ter saído. 3

Vale tudo?

Uma das desculpas para se usar músicas “pesadas” é a de que elas atraem a juventude. De fato, a música é uma ferramenta poderosa para a comunicação do evangelho (Salmos 105:2; I Pedro 2:9). Todavia, ao se empregar estilos como rock, funk, reggae, forró, etc., a mensagem é comunicada da forma como as pessoas querem ouvi-la, e não da maneira como precisam ouvi-la. Lembre-se de que Jesus disse: “…negue-se a si mesmo” (Lucas 9:23).

Se, por um lado, as músicas “pesadas” atraem, por outro, devido às suas características, impedem que a mensagem chegue clara aos ouvidos das pessoas. John Blanchard, ao falar sobre o poder hipnótico do rock, disse:

Qualquer meio de apresentação que induza à perda do autocontrole ou consciência e torne o ouvinte incomumente susceptível a quaisquer sugestões feitas pela letra da música é certamente perigosa, e acabará por estimular uma resposta, em vez daquilo que Deus requer, que O adoremos “em espírito e em verdade” (João 4:24). 4

Muitos jovens podem até ir à frente de um palanque ou seguir a carros de som, por causa dos estilos musicais e das danças ali apresentadas. No entanto, conforme se infere de I Coríntios 14:26, o louvor (salmo) deve servir de preparação para a exposição da Palavra de Deus (doutrina).

Os defensores do evangelho do entretenimento afirmam que o mundo mudou, e as pregações modernas devem se adaptar às mudanças que vêm ocorrendo. O suposto embasamento para isso está em I Coríntios 9:22: “Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar a alguns”.

Não podemos, entretanto, interpretar essa frase de Paulo de forma exagerada, valendo-nos dela para justificar toda e qualquer atitude. O próprio apóstolo não se faz judaizante para ganhá-los; antes, reprovou a atitude de Pedro, que agira de forma “política” em relação a eles (Gálatas 2:14). Todas as coisas nos são lícitas, mas nem todas convêm (I Coríntios 6:12).

É preciso pular dentro de um barco para tirar alguém de lá? Ora, para ganhar os apreciadores de funk não é necessário agir como eles. Para alcançar os sambistas, não é preciso sambar no carnaval. Não é a identificação com o mundo que convence os pecadores, e sim a ação do Espírito (João 16:8). Quando nos associamos ao mundo, perdemos nossa identidade de povo separado (II Coríntios 6:14-17). Devemos ser sociáveis, e não complacentes ou coniventes com o pecado (Salmos 1:1).

Não devemos nos isolar das pessoas, dando a entender que somos perfeitos em absoluto (Filipenses 2:15). Isso, inclusive as irrita. No entanto, quando o mundo dá um passo em nossa direção, e nós o abraçamos, aceitando passivamente os seus entretenimentos, como poderemos mudar a sociedade? Uma igreja que faz as pazes com o mundo não consegue mudá-lo.

Por isso, os salvos em Cristo devem ter um diferencial, a fim de que haja o contraste entre a luz e as trevas (Mateus 5:14-16). Por que Jesus reprovou a igreja de Laodicéia? Porque não era nem fria nem quente (Apocalipse 3:15,16); isto é, não exercia nenhuma influência sobre a sociedade. O você, é um crente frio, quente ou morno?

Ah… Deus não gosta de shows?

Os shows se caracterizam por som alto e dançante, luzes coloridas, gelo seco, roupas extravagantes ou sensuais, paquera, linguagem chula, dança e muita diversão. Por incrível que pareça, há cultos ditos evangélicos em que toda essa parafernália está presente! Torna-se cada vez mais comum o emprego de elementos característicos dos shows em cultos “evangélicos”.

Em um artigo intitulado Show não é culto, o pastor Martim Alves da Silva, da Assembléia de Deus em Mossoró, Rio Grande do Norte, afirmou:

No culto, a pessoa mais importante é Deus; no show, é o artista. No culto a Deus ninguém paga, no show a entrada é mediante pagamento. No culto, Deus está presente; no show, Deus se faz ausente, pois Sua glória não dá a outrem. No culto, o ministro de Deus soleniza as celebrações; no show o apresentador é condescendente à desenfreada desordem. No culto, o povo glorifica a Deus; no show, só gritos e assobios para o artista. No culto, o povo reverencia a Deus em adoração; no show, só há bagunça incontrolável. 5

Como deve ser o verdadeiro culto a Deus? Deve caracterizar-se pelos elementos apresentados em I Coríntios 14:26: “Que fareis, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação”. Não está escrito: salmo, salmo, salmo, salmo e salmo! Está escrito: salmo (cântico), doutrina (Palavra de Deus), revelação, língua e interpretação (Dons do Espírito).

Nos dias do rei Ezequias, houve um grande reavivamento na área do louvor (II Crônicas 29). Ele começou a reinar em Judá aos 25 anos e fez o que era reto aos olhos do Senhor: abriu as portas da Casa de Deus, ajuntou os sacerdotes e levitas, ordenou que todos se santificassem, celebrou a páscoa, etc. (versos 2-20).

O louvor a Deus, naqueles dias, possuía as seguintes características:

Deus no controle. O louvor e a música davam-se por mandado do Senhor, e não por iniciativa humana (verso 25).

Ordem. Tudo era feito com ordem e decência (verso 26).

Submissão. Os músicos e cantores obedeciam ao líder (verso 27).

Preparação. Todos estavam preparados para o louvor (verso 27).

Reverência. Havia muita reverência, prostração e adoração profunda no momento de louvar a Deus (versos 28-30).

Renovação. Não havia espaço para más inovações e as imitações do mundo. Todos louvavam a Deus com as palavras de Davi e de Asafe, recuperando o que haviam perdido ao se distanciarem do Senhor (verso 30). Ao contrário do que muitos pensam, renovação implica reconquistar o que foi perdido, e não buscar inovações contrárias ao que havíamos recebido (Lamentações 5:21; Provérbios 24:21; Jeremias 6:16).

Alegria. Muita alegria (verso 30). Não era uma alegria carnal, com liberdade de movimentos corporais; todos estavam inclinados, prostrados diante de Deus.

Tenhamos, pois, temor e tremor na Casa do Senhor (Salmos 2:11). Deus quer de nós o “culto do coração”, e não o “culto da carne em ação” (Isaías 29:13). O templo não é um lugar para desfiles de celebridades, danças, “trenzinhos”, luzes coloridas, som “pesado”, assobios, etc. Não se precipite em pensar que estou sugerindo que os nossos cultos sejam reuniões sem vida, similares às missas. Não! Porém, precisamos ter reverência na Casa de Deus (Mateus 21:1-13).

Adoração extravagante?

Segundo o Dicionário Michaelis, “extravagância” significa: “Qualidade daquele ou daquilo que é extravagante; excentricidade; esquisitice; estroinice; dissipação; libertinagem”. Mas o adjetivo “extravagante” tem sido usado para definir aquela “adoração espiritual” sem amarras, livre, que permite todos os estilos musicais, danças, coreografias, gritos frenéticos, assobios, etc., desde que o coração dos cantores, músicos e dançarinos estejam voltados para Deus.

De acordo com Robert L. Brandt, a palavra “adoração” denota “reverência”, “temor ao Senhor” e “veneração”. Trata-se de uma demonstração de grande amor, devoção e respeito; implica homenagem a Deus. 6 A adoração estabelece o tom para o louvor, fazendo aquele que está cantando fixar o pensamento na Pessoa a quem se dirige e considerar os seus atributos e interesses.

Há como “casar” adoração e extravagância? É claro que essa expressão, em decorrência da secularização de muitas igrejas, é mais do que aceita no meio evangélico. Contudo, gostaria que você refletisse um pouco sobre a grande incompatibilidade que há entre esses dois elementos.

Não julgo se os executores da tal “adoração extravagante” são ou não crentes espirituais. Tampouco os julgo quanto à sua convicção interior. Mas é bom lembrar que os homens-bomba, seguidores do Islã, também matam e matam-se cheios de certeza. Por isso, precisamos refletir com base no que a Bíblia diz, e não à luz de nossas preferências ou convicções pessoais.

Alguns pretensos ministros de louvor – ou de entretenimento? –, tal como os animadores de um carnaval, em cima de trios elétricos, têm divertido a “moçada”. Uma influente líder de adoração declarou à revista Veja: “Nós não fazemos entretenimento. Queremos que as pessoas se divirtam, mas louvando ao Senhor, e não a nós”. 7 Confesso que admiro em parte o trabalho dessa jovem compositora, porém a sua declaração foi infeliz. O louvor a Deus nunca deveria produzir diversão!

De acordo com a Bíblia, toda gritaria deve ser tirada do nosso meio (Efésios 4:31), exceto as palavras de glorificação a Deus (Salmos 29:9). Jesus disse que a verdadeira adoração deve ser “em espírito” (João 4:23,24). Ou seja, ela não é, em essência, uma manifestação do corpo, e sim do coração (Salmos 57:7; Efésios 5:19; Colossenses 3:16). O que agrada a Deus, antes de tudo, é o espírito quebrantado, e não as manifestações sonoras ou gestuais (Amós 5:23; Isaías 29:13).

Se a adoração não é uma manifestação exterior, e sim do interior, como associá-la à liberdade de movimentos do corpo? A posição corporal que denota submissão e adoração a Deus, em espírito, não deve ser extravagante, e sim reverente. “E Esdras louvou ao Senhor, o grande Deus; e todo o povo respondeu: Amém, Amém! levantando as suas mãos; e inclinaram suas cabeças, e adoraram ao Senhor, com os rostos em terra” (Neemias 8:6).

Que tal substituir “adoração extravagante” por “adoração reverente”?

Dançar ou não dançar? Eis a questão!

As danças (não apenas a coreografia, que também é uma forma de dança) já fazem parte da liturgia de muitas igrejas. Para alguns pastores e ministros de louvor o culto a Deus não seria completo sem essas manifestações corporais. “Os mandamentos de Salmos 149:3 e 150:4“, justificam, “são mais do que claros. Além disso, Miriã e Davi dançaram”.

Devemos analisar as referências acima com cuidado, à luz do contexto do Antigo Testamento, levando em conta os destinatários originais, os israelitas: “Alegre-se Israel naquele que o fez, regozijem-se os filhos de Sião no seu Rei” (Salmos 149:2). Além disso, o termo hebraico empregado em ambas as passagens foi traduzido por “flauta”, em algumas versões da Bíblia. Não há, pois, nessas passagens, apoio à introdução de danças no culto a Deus.

A dança, para os israelitas, sempre esteve associada à alegria, figurando como o contrário de pranto (Eclesiastes 3:4; Lamentações 5:15). Quando o povo de Israel atravessou milagrosamente pelo meio do Mar Vermelho, a alegria da profetisa Miriã foi tão grande, que tomou um tamborim e pôs-se a dançar (Êxodo 15:20). A filha de Jefté, sabendo da vitória que Deus concedera a seu pai, recebeu-o com adufes e danças (Juízes 11:34). E Davi ficou tão alegre com o retorno a arca do Senhor, que também dançou (II Samuel 6:14).

Em Salmos 9:2, está escrito: “Em ti me alegrarei e saltarei de prazer, cantarei louvores ao teu nome, ó Altíssimo”. Este versículo mostra que podemos, em momentos de extrema alegria, saltar de prazer na presença de Deus. Mas a “adoração” que temos visto em nossos dias não tem nada de espiritual. Os jovens agem como se estivessem em um baile mundano, sem nenhuma reverência.

Miriã, Davi e outros dançaram e saltaram num momento de extrema alegria, de felicidade incontrolável. É plenamente compreensível o fato de uma pessoa dançar (do grego orcheõ, “saltar com regularidade de movimento”) 8 de felicidade, como aconteceu com o ex-coxo que ficava à entrada do Templo, em Jerusalém (Atos 3:8). Entretanto, movimentar-se num momento de grande alegria não equivale, em hipótese alguma, a dançar sob ritmos eletrizantes.

“E o ministério da dança?” – alguém poderá perguntar.

Ministério da dança?

Em todo o Antigo Testamento, não há menção à dança acompanhada de música dentro do Templo. Até mesmo Davi, que teve a iniciativa de dançar ao recuperar a arca do Senhor (II Samuel 6:16), em nenhum momento incentivou esta prática. Ele e Asafe organizaram o ministério do louvor com músicos e cantores (I Crônicas 25:1-7).

Se Davi e Asafe – considerados os principais artífices da organização primitiva da música cultual – acreditassem que a dança, de fato, era importante no culto, teriam estabelecido cantores, músicos, dançarinos e coreógrafos…

Ao falar da adoração, Jesus apenas disse: “Deus é Espírito, e importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade” (João 4:24). Paulo falou do dever universal de louvar a Deus nos seguintes teremos: “Louvai ao Senhor, todos os gentios, e celebrai-o, todos os povos” (Romanos 15:11). O autor de Hebreus, ao mencionar o sacrifício de louvor, nada falou sobre dança (Hebreus 13:15). E Tiago se limitou a dizer que, quando nos sentirmos alegres, devemos cantar louvores (Tiago 5:13).

João, que contemplou um pouco da adoração celestial, não viu nenhuma forma de louvo com dança (cf. Apocalipse 4 e 5), a menos que alguém queira entender como uma coreografia a movimentação reverente dos 24 anciãos que se prostraram diante do Senhor, dizendo: “Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder, porque Tu criaste todas as coisas, e por Tua vontade são e foram criadas” (Apocalipse 4:11).

Ns páginas do Novo Testamento, os Evangelhos mencionam a dança da filha de Herodias perante o perverso Herodes (Mateus 14:6; Marcos 6:22) e as analogias de Jesus em que as danças simbolizam alegria (Mateus 11:17; Lucas 15:25). Essas ocorrências também não servem de base para se introduzir qualquer tipo de dança na Casa do Senhor.

Como tem sido a sua atitude em relação à dança? Você se aproveita de passagens interpretadas fora de contexto para “curtir” todos os estilos musicais e dançar, inclusive dentro da Casa de Deus, sem peso na consciência? O que vale é o que você pensa e a sua vontade de dançar? Não se importa em fazer isso? Receio que você não esteja em conformidade com a vontade de Deus. E isso não é nada bom. Ou você não se preocupa com isso?

É proibido proibir

O evangelho do entretenimento não se restringe a música profana e shows – estes são apenas reflexo da falta de compromisso com a sã doutrina. Também não existe nenhuma restrição ou orientação pastoral aos seguidores desse evangelho quanto à linguagem, ao traje e ao comportamento. É proibido proibir. Chamam as proibições constantes da Bíblia de legalismo fanatismo, etc.

Há alguns anos, uma influente líder evangélica, em uma entrevista a um jornal de São Paulo, disse o que pensava sobre os jovens manterem relações sexuais antes do casamento: “Casei virgem e sou feliz. Biblicamente, é o que Deus ensina. Não vou dizer que sou contra, mas é meu conselho”. Não é difícil perceber que essa declaração foi dúbia e infeliz – sugere, de modo sutil, contrariando as Escrituras, que um casal pode relacionar-se sexualmente antes do casamento (I Coríntios 7:8,9; 6:18-20).

Essa conhecida líder cristã explicou ao jornal o motivo de ter resolvido fundar uma nova igreja: “Entrou um pastor muito doido…”, referindo-se ao dirigente da igreja que freqüentava; “…a gente saiu para curtir esse Deus do nosso jeito”. Observe como ela definiu com precisão o que é o evangelho do entretenimento; trata-se de um sistema de crença que se amolda aos desejos humanos: “curtir Deus do nosso jeito”.

Em Gálatas 5:1, está escrito: “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou e não torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão”. Os crentes que seguem o evangelho do entretenimento invertem a tônica dessa passagem, interpretando-a como uma autorização para agirem livremente. Em vez de autorizar a adoção de costumes mundanos, que outrora praticávamos, a Palavra de Deus enfatiza que não podemos voltar a eles. Somos livres, não para pecar, mas para servir a Deus.

O crente pode agir com liberdade, porém não deve se esquecer de que o seu limite está na Bíblia (I Coríntios 6:12; 10:23; I Tessalonicenses 5:22; Tito 2:8; I Timóteo 2:9,10). Por isso, Paulo, inspirado por Deus, disse: “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis, então, da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pela caridade” (Gálatas 5:13).

Verdade ou quantidade?

Medindo o sucesso apenas pela quantidade de membros, algumas igrejas deixaram de pregar o verdadeiro evangelho de Jesus Cristo. Contentam-se em manter as pessoas, principalmente os jovens, como membros, mesmo que eles não sejam fiéis à sã doutrina. E, para isso, valem-se do entretenimento.

Os pecadores estão se afogando no mar do pecado. O que é a igreja de Cristo, um barco cheio de diversão e entretenimento, ou um navio cheio de salva-vidas? Precisamos nos conscientizar de que a missão é fazer discípulos (Mateus 28:19, ARA), e não apenas conquistar o maior número possível de seguidores nominais (Mateus 7:13,14).

Embora desejemos que os templos estejam cheios de pessoas, a busca pela quantidade, sem o compromisso com as Escrituras, é perigosa, como vemos nas citações abaixo, extraídas de um livreto que discorre sobre as estratégias para a realização de reuniões “evangelísticas”, segundo o evangelho do entretenimento:

… há muita adrenalina, unção, vibração, entusiasmo, gente bonita, amizades sinceras, guerra espiritual, entretenimentos, colheitas fartas, influência positiva, mudança de valores, quebra de paradigmas, coreografias, pulos de alegria, saltos de júbilo, louvor e adoração, teatro, estratégias tremendas de evangelismo…
Nada de longas e cansativas orações…
Precisamos adaptar as mensagens bíblicas às necessidades comuns do homem de hoje! Faz-se necessário contextualizar o ensino das Sagradas Escrituras à realidade existencial da juventude e da maturidade destes tempos…
O que um sermão levaria 45 minutos ou uma hora para conseguir fazer, quando consegue, uma canção muitas vezes transmite num único compasso ou acorde, eliminando em pouco espaço de tempo as barreiras…

Percebemos nas declarações acima graves desvios em relação aos princípios da Palavra de Deus. Os cultos são considerados reuniões de entretenimento em que tudo é permitido! Não há compromisso com a ética, e a oração é vista como “um peso”. As pregações são “contextualizadas”, a fim de agradar aos ouvintes. Ademais, fica clara a falta de interesse pela exposição da Palavra, uma vez que um acorde musical pode ser tão eficaz quanto uma mensagem de 45 minutos!

Quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade?

Um dos atrativos para “segurar” a juventude é exatamente deixar de pregar a verdade, uma vez que esta afasta aqueles que não querem segui-la (João 6:60-69; Lucas 9:23). A palavra de ordem é “facilitar”. Contudo, de acordo com Mateus 7:13,14, não adianta alargar a porta. O caminho permanecerá estreito!

Isso nos remete ao que as Escrituras dizem em II Timóteo 4:3 (ARA): “… haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos”. Por isso, Jesus, em seu ministério terreno, mais pregou do que cantou. É por meio da exposição da Palavra que recebemos iluminação, entendimento e fé (Salmos 119:130; Romanos 10:17), e não pela música.

Não nos deslumbremos com o caminho das facilidades (Mateus 7:13,14). Fujamos da secularização. Não sejamos insensatos como os gálatas, aos quais Paulo dirigiu uma difícil pergunta: “Quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi já representado como crucificado?” (Gálatas 3:1).

Seguidores ou fãs?

Não devemos confundir salvação com reintegração social. Não é preciso nem falar de Jesus para integrar jovens à sociedade, tirando-os do submundo das drogas. Algumas organizações não governamentais conseguem isso por meio da música, do esporte, etc. Mas, e o novo nascimento, sem o qual ninguém entrará no céu?

Madre Tereza de Calcutá tem sido elogiada e honrada até por líderes evangélicos em todo o mundo. E ela merece ser honrada por seu denodado serviço ao povo de Calcutá. Não obstante, ela não pregou o verdadeiro evangelho de Cristo às almas perdidas! Aliás, ela sequer o conhecia! Da mesma forma, Cornélio, apesar de piedoso, temente a Deus, altruísta e um homem de oração, não era salvo (Atos 10:1,2).

Salvação é muito mais que fazer parte de uma denominação “contextualizada”! Participar de “marchas”, divertir-se à vontade com a “moçada” e usar camisetas com frases do tipo “Estou apaixonado” não garantem a salvação a ninguém! Não tenho nada contra a exibição de mensagens em camisetas, mas ser salvo é muito mais do que isso! É necessário nascer de novo, por obra do Espírito Santo (João 3:3; Tito 3:5,6), e renunciar-se a si mesmo, para seguir a Cristo (Lucas 9:23). Você está disposto a isso? Ou prefere ser apenas um fã de Jesus?

Aliás, de uns tempos para cá, ornou-se uma mania dizer e cantar: “Estou apaixonado por Jesus”. É claro que tal expressão é empregada com o intuito de demonstrar amor ou adoração a Jesus. Entretanto, adoração é muito mais do que paixão!

A paixão é irracional, ao contrário do nosso culto de adoração a Deus (Romanos 12:1).

A paixão é passageira e não leva em conta princípios; a adoração deve ser perene e verdadeira (João 4:24).

A paixão é apenas um sentimento que não passa da alma; a adoração envolve a parte mais profunda do ser humano: o seu espírito (Lucas 1:46,47; Salmos 57:7).

A paixão é um sacrifício que pode ou não ser correspondido; a adoração – verdadeira – nunca fica sem uma resposta da parte do Senhor (II Crônicas 7:14,15).

A paixão muda de objeto; ou seja, é possível se apaixonar por um e por outro, etc. Mas a adoração deve ser exclusivista: “Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele servirás…” (Mateus 4:10).

Na contramão

Antigamente, era comum ouvirmos pregações advertindo os crentes quanto aos desvios comportamentais apresentados no cinema e em programas de televisão. Pregava-se contra o álcool, o tabaco, os desvios morais e éticos, etc. Havia, ainda que de modo superficial, uma tentativa de separar a igreja do mundo. Hoje, muitos preferem andar de mãos dadas com o mundo.

No ano de lançamento desta obra, o grande avivamento da Rua Azuza, em Los Angeles (EUA), completa cem anos. Li um relato do pastor Frank Bartleman (1871-1936), um dos pioneiros daquele movimento, que me fez refletir sobre a atual realidade da igreja brasileira:

A “arca do Senhor” começou a se mover vagarosamente, mas com firmeza em Azuza. No princípio era carregada nos ombros dos sacerdotes indicados por Ele mesmo. Não tínhamos nenhuma “carroça nova” naqueles dias para agradar as multidões mistas e carnais. Tínhamos de combater contra satanás, mas a “arca” não era puxada por bois (bestas ignorantes). Os sacerdotes estavam “vivos para Deus”, através de muita preparação e oração.”

Os genuínos avivamentos não agradam asa “multidões mistas e carnais”. Não se deixe, pois, influenciar pela maioria. Prefira ser guiado pela Palavra de Deus, ainda que o tenham como persona non grata. Não foi o que aconteceu com Micaías, Jeremias, Ezequiel, João Batista, Jesus, Estevão e Paulo, e acontece com todos aqueles que não aceitam o abandono das verdades da palavra de Deus?

Imagine-se em uma estrada em que todos os veículos estão trafegando na contramão. O que acontecerá se você resolver trafegar na mão certa? Além de ficar com a impressão de que está na direção errada, todos os que de fato estão na contramão pensarão que estão certos! Essa é a estratégia do Adversário!

As igrejas se secularizam; e o mundo torna-se religioso. Não havendo diferença entre um e outro, qualquer que protestar contra o erro, ficará isolado! Mas, onde está o nosso diferencial? Somos a luz do mundo, ou a nossa luz se apagou? Como está a sua lâmpada? Ela ainda brilha nesse mundo tenebroso?

Arão ou Moisés?

Muitos líderes não entrarão no Reino de Deus porque não querem fazer a vontade do Pai (Mateus 7:21). E quem não faz a vontade do Senhor, restam-lhe apenas três alternativas: fazer a sua própria vontade, a do povo, ou a do Diabo. Não faça a vontade do povo! Não seja como Arão, que, diante da pressão dos que queriam um “culto diferente”, fez-lhes um bezerro de ouro (Êxodo 32:1-4).

Moisés, então, que fazia a vontade de Deus, tomou uma atitude: “E aconteceu que, chegando ele ao arraial e vendo o bezerro e as danças, acendeu-se o furor de Moisés, e arremessou as tábuas das suas mãos, e quebrou-as ao pé do monte, e tomou o bezerro que tinham feito, e queimou-o no fogo, moendo-o até que se tornou em pó; e o espargiu sobre as águas e deu-o a beber aos filhos de Israel” (Êxodo 32:19,20). Que Deus levante obreiros assim, zelosos, em nossos dias!

Lembre-se, pois, de que o mundo jaz no Maligno (I João 5:19, ARA), e que a amizade com ele é inimizade contra Deus (Tiago 4:4). Não faça como Demas que amou o presente século, isto é, o mundo (II Timóteo 4:10). E, como disse Paulo, que jamais pregaria esse evangelho do entretenimento, “… não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:2).

Qual é o seu referencial de liderança, Paulo ou Demas? Arão ou Moisés? Você é amigo do mundo ou do Senhor?

Espero que você não tenha ficado triste comigo, em razão da contundência com que tenho contestado esse evangelho do entretenimento. Afinal, como disse o imitador de Cristo:; “… persuado eu agora a homens ou a Deus? Ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo” (Gálatas 1:10).

Bibliografia

  1. BLANCHARD, John, Rock in Igreja?!, Editora Fiel, p. 21.
  2. MUGGIATI, Roberto, Rock, o Grito e o Mito, Editora Vozes, p. 122.
  3. OLIVEIRA, Joanyr de, A Igreja que Desejamos, Editora Vida, pp. 36, 37.
  4. BLANCHARD, John, Rock in Igreja?!, Editora Fiel, p. 17.
  5. Jornal Mensageiro da Paz, número 1455, agosto de 2006
  6. BRANDT, Robert L., BICKET, Zenas J., Teologia Bíblica da Oração, CPAD, p. 22.
  7. Revista Veja, edição 1964 de 12 de junho de 2006.
  8. Dicionário Vine, CPAD, p. 529.
  9. Manual do Obreiro, número 35, CPAD, p. 15.

 

 

 

 

 

Ciro Sanches Zibordi é pastor na Assembléia de Deus em Cordovil, Rio de Janeiro e articulista. Autor dos livros “Perguntas Intrigantes que os Jovens Costumam Fazer“, “Adolescentes S/A“, “Evangelhos que Paulo Jamais Pregaria“, “Erros que os Pregadores Devem Evitar” e “Mais Erros que os Pregadores Devem Evitar”, todos editados pela CPAD.

março 3, 2008 at 1:00 pm 3 comentários

Carta da CGADB que repudiou as heresias do Pr. Ouriel de Jesus

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Conselho de Doutrina e Comissão de Apologia CGADB repudiam modismos de Boston.

O Conselho de Doutrina e a Comissão de Apologia da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil (CGADB), presididos respectivamente pelos pastores Paulo Roberto Freire da Costa e Esequias Soares, reuniram-se mês passado em Campinas (SP) para elaborar manifesto repudiando os principais modismos que têm surgido especialmente em algumas igrejas brasileiras nos Estados Unidos, com repercussão no Brasil. O objetivo do manifesto é alertar o povo de Deus sobre ventos de doutrina advindos de Boston e que vão além da já propalada angelolatria, incluindo até o novo modismo da “unção da capa de Elias” (sic), que está se tornando comum em algumas igrejas brasileiras.

O estopim para a publicação deste parecer da Convenção Geral foi o lançamento do livro O Triunfo Eterno da Igreja, no final de agosto, de autoria do líder da Igreja do Avivamento Mundial Assembléia de Deus de Boston, pastor Ouriel de Jesus. Até então, o líder daquela igreja e seus seguidores insistiam em dizer que não estavam ensinando heresias, mas, muito pelo contrário, estavam sendo mal interpretados. Porém, com o lançamento do livro, toda essa argumentação caiu por Terra. A obra não só esposa os ensinamentos da igreja de Boston já difundidos, embora negados pela sua liderança, como também traz outras bizarrias teológicas, que chocam-se frontalmente com o ensino bíblico.

Os líderes da AD se preocupam ainda com a produção de modismos que surgem como subproduto das heresias de Boston. Um deles, que já está se tornando comum em algumas igrejas brasileiras, é a “unção da capa de Elias”. Alguns pregadores andam ensinando, baseados na passagem de 2 Reis 2.9-15, que se o crente quiser ser vitorioso em sua vida espiritual, deve receber a unção da capa de Elias. Tal unção repousaria sobre esses pregadores e poderia ser transmitida em série, bastando apenas que o pregador impusesse suas mãos ou jogasse seu paletó (que funcionaria como a tal capa) sobre seus ouvintes para que eles a recebessem.

Nessas sessões, algumas pessoas caem no chão, outras desmaiam e dizem ter “arrebatamentos”. O detalhe é que só o pastor da igreja ou o pregador podem despertar o “arrebatado” do seu transe, ninguém mais. As sessões da “capa” estão se tornando populares em alguns lugares e há até alguns “capistas” que estão fazendo novas versões desse modismo, onde a capa ou manto a ser recebido é invisível, pois seria “a capa de um anjo”.
Pastor José Wellington, líder da CGADB, analisa as razões pelas quais esses modismos infelizmente ganham terreno. Segundo ele, o relegar a Palavra de Deus e a ausência de avivamento são as principais causas. “Lamentavelmente, alguns perderam a visão do verdadeiro avivamento e estão criando os seus próprios meios para animar o povo, com marcas com e sem Jesus, cultos-show, recitais etc. Outros tentam o avivamento colocando atrás do pregador ‘abençoadas benzedeiras angelicais’, que invocam anjos. Tais métodos não apenas não produzem avivamento como também contrariam a Palavra de Deus”, afirma o líder.

Pastor Paulo Freire ressalta a importância de tal manifesto e condena esses novos modismos. “Precisamos combater esses modismos”, declara o líder.
Pastor Esequias Soares corrobora suas palavras, frisando a tal “unção da capa”. “Isso é uma invenção do homem e não uma doutrina, e está trazendo problemas para a igreja, porque a pessoa ora com imposição de mãos e quem recebe a oração tem de sentir um peso nas costas. Caso isso não aconteça, ela não recebeu a unção. É a mesma coisa ensinada no mormonismo, onde a pessoa precisa sentir um ardor no peito para ser abençoado, e se ela não sentir nada, ela não é fiel. Tudo isso não passa de pressão psicológica sobre as pessoas”, afirma o líder.
Parecer do Conselho de Doutrina e da Comissão de Apologia da CGADBO avivamento de Boston e o livro O Triunfo Eterno da Igreja

Em 23 de agosto de 2003, a World Revival Church Assembly of God (Igreja do Avivamento Mundial da Assembléia de Deus), liderada pelo pastor Ouriel de Jesus, com sede na cidade de Boston, Estado de Massachussets (EUA), publicou um livro sob o título O Triunfo Eterno da Igreja, cujo lançamento se deu no mês de setembro.

Considerando que princípios doutrinários bíblicos foram seriamente feridos no referido livro, e considerando ainda a liturgia que vem aquela Igreja praticando sob o suposto “avivamento”, distanciando-se, em muito, da adotada pelas Assembléias de Deus em todo o mundo, membros do Conselho de Doutrina e da Comissão de Apologia da CGADB reuniram-se nos dias 12 a 17 de outubro de 2003 para avaliar não só o livro em foco, mas também o tal “avivamento” que está sendo pregado por aquela igreja, e emitir, em razão disso, o seu parecer.

A publicação do livro O Triunfo Eterno da Igreja marca a ruptura definitiva da World Revival Church Assembly of God com as Assembléias de Deus, em particular, e com as demais igrejas cristãs evangélicas, pois o livro se apresenta como a última revelação de Deus. Seu representante – o pastor Ouriel de Jesus – considera-se a si mesmo como possuidor de uma unção especial, acima de todos os homens. Considera todas as demais igrejas fora do padrão divino, além de emitir vários outros ensinos contrários à Bíblia. São ensinos inovadores, eivados de aberrações doutrinárias, que estão causando divisão no Corpo de Cristo.

As seitas nasceram sob revelações adicionais a líderes, que se consideravam possuidores de unção acima dos outros homens. Há nesse livro muitas características que aparecem também nas seitas.
Fundamentos falsosO livro O Triunfo Eterno da Igreja (que passará a ser abreviado nesse texto como TEI) traz em suas Considerações do Pastor Ouriel de Jesus (pág 21) o seguinte depoimento:

“Registro aqui a minha perplexidade pela grandeza das revelações que tive a oportunidade de receber ao ter o privilégio de – juntamente com o Grupo de Oração em arrebatamentos de sentidos – adentrar à Sala das Escrituras para, juntos, lermos o livro que foi selado pelo profeta Daniel para o tempo do fim (Dn 12.4), que são, também, as coisas inefáveis que o apóstolo Paulo ouviu no Paraíso e não pôde dizer a sua geração (2Co 12.1-4), bem como o livrinho comido pelo apóstolo João (Ap 10.9-10)”.

O pastor Ouriel afirma que o conteúdo do seu livro é “o livro selado pelo profeta Daniel para o tempo do fim” (Dn.12.4), que é também “as coisas inefáveis” que o apóstolo Paulo ouviu no Paraíso “e não pôde dizer a sua geração (2Co 12.1-4)” e o “livrinho comido pelo apóstolo João (Ap. 10.9-10)”. Esse argumento é infundado e está baseado numa interpretação inventada que não resiste à exegese bíblica. O livro selado de Daniel é a parte apocalíptica do próprio livro do profeta Daniel, que conhecemos em nossa Bíblia. Quanto às coisas inefáveis ouvidas no paraíso por Paulo, nenhum registro deixa-nos a Bíblia para deduzir a revelação delas em qualquer tempo. Já o livrinho comido pelo apóstolo João trata-se de uma parte do livro selado com sete selos, que, após a abertura do último selo, aparece como “livrinho aberto” (Ap 10.2), e não selado.

A linha herética do TEI fica evidenciada nos subtítulos que aparecem na sua capa e que dão o tom de todas as supostas revelações. Se não, vejamos:

1) “Revelações do livro selado pelo profeta Daniel para o tempo do fim”
A referência de Daniel 12.1 e 4 trata-se de uma mensagem figurada de caráter antropomórfico – uso comum na literatura apocalíptica – que não pode ser interpretada com outro sentido senão o que lhe foi proposto. O livro acerca do qual Daniel está falando é apenas um modo figurado de falar e se refere a informações abscônditas que o profeta não tem condições de entender. Na literatura apocalíptica, um livro selado (Ap 5.1-3) indica uma questão que não pode ser revelada, ou que não pode ser entendida, embora possa ser lida (Is 29.11). Mais: a revelação divina transmitida a Daniel – e que o profeta não pôde entender – cobre um período específico na História; não ultrapassa este limite. Isto significa que qualquer interpretação literal do texto fere frontalmente à ciência da interpretação.
Não há aqui evidência alguma de um outro livro oculto no Céu, mas de uma ordem para se preservar e guardar a mensagem que Daniel recebeu para um tempo apropriado. Isso pode ser confirmado por qualquer expositor do Antigo Testamento ao longo da história do Cristianismo. O próprio Senhor Jesus Cristo deixou claro que isso já era de conhecimento dos judeus da sua geração (Mt 24.15). Portanto, a afirmativa de que o conteúdo do TEI é “o livro selado pelo profeta Daniel” é espúria, é de alguém imberbe, sem nenhum conhecimento dos fundamentos da exegese e da hermenêutica; são compreensões infantis, de cunho nostradâmico, e revela o despreparo teológico do autor.

2) “Revelações das coisas inefáveis que o apóstolo Paulo ouviu no Paraíso”
Com referência às palavras inefáveis que o apóstolo Paulo ouviu no Paraíso, encontra-se registrado em 2 Coríntios 14.4: “Foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, de que ao homem não é lícito falar”. Não há na descrição bíblica qualquer menção da existência de um livro. Além disso, o próprio texto sagrado afirma que ao homem não é lícito falar. No entanto o TEI acrescenta: “não pôde dizer à sua geração”, expressão que não se encontra na Bíblia. É, portanto, uma idéia sem sustentação bíblica.

3) “Revelações do livrinho comido pelo apóstolo João”
Relativamente ao livrinho que o apóstolo João comeu, assim se acha a descrição bíblica: “E fui ao anjo, dizendo-lhe: Dá-me o livrinho. E ele disse-me: Toma-o e come-o, e ele fará amargo o teu ventre, mas na tua boca será doce como o mel”, Ap 10.9. Há na interpretação exarada na obra do pastor Ouriel uma série de contradições relacionadas a esse “livrinho aberto”. Se trata-se de um livrinho aberto, logo nada há para ser revelado. Além disso, o ato de “comer um livro” indica dominar o seu conteúdo, recebendo-o no mais íntimo do seu ser.
Além disso, o suposto apóstolo João diz na página 51 da obra em tela, no seu primeiro parágrafo:

“Por essa razão, alegrei-me muito e me senti profundamente feliz e realizado ao saber que a Igreja do Cordeiro, nos dias de maior turbulência e angústia na Terra, viverá os melhores e maiores momentos da sua história, levará a término sua missão e conquistará todos os espaços em todas as áreas e segmentos da sociedade conforme o que está escrito no Livro Eterno, ao afirmar que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus”.

O contexto histórico do capítulo 10 de Apocalipse é escatológico. Trata-se aqui do período da Grande Tribulação. Já na página 354, penúltimo parágrafo, a obra afirma que o Arrebatamento da Igreja precederá à Grande Tribulação e isso se acha de acordo com o que cremos e pregamos. Como, então, a Igreja “viverá os melhores e maiores momentos da sua história?”
Unção especial

O TEI traz, logo na sua introdução, um teatro para exaltar o seu líder, na parte intitulada Considerações do Pastor Ouriel de Jesus, como se segue:
“O Céu se abriu e nós vimos e ouvimos o Pai dizendo ao Filho: ‘É hora de a Igreja ser tirada da Terra, pois não está conseguindo cumprir sua missão’, e Jesus Cristo, com um olhar de preocupação, não respondia palavra. Foi quando pudemos ver o Espírito Santo interceder pela Igreja pedindo ao Pai que lhe fosse dada mais uma oportunidade.”

“Foi no momento dessa experiência sobrenatural que eu disse a Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo que eu estava disposto a pagar o preço que fosse necessário para que um avivamento viesse sobre a Igreja ao redor da Terra.”

“Nesse momento, eu ouvi a voz do Pai de forma bem clara, dizendo: ‘O preço é muito alto. Você será caluniado. Vão tentar excluí-lo de sua denominação e vão persegui-lo muito e os seus próprios amigos o chamarão de herege’. Nesse momento, perguntei ao Pai: ‘Quais serão os benefícios de todo esse preço?’ Ele me respondeu: ‘Multidões de almas ao redor da Terra’. Então, eu disse a Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo que podiam contar comigo para o desafio desse grande e último avivamento do tempo do fim (págs. 21 e 22)”.

Com estas declarações – e não há como interpretá-las de outra maneira – o visionário, alegando ainda que esteve diante do Trono de Deus, coloca-se como a quarta pessoa na Deidade, impedindo o Arrebatamento da Igreja, postando-se como alguém capaz de fazer um trabalho que nem o Filho pôde fazer. Segundo ele, o Senhor Jesus, demonstrando-se preocupado, é censurado pelo Pai, quedando-se silente, sem qualquer resposta.

À luz da Bíblia essa invenção é blasfêmia, pois reduz a Divindade à condição humana. Além disso, nenhum personagem da Bíblia chegou diante do Trono de Deus e nenhum deles jamais falou diretamente com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo numa reunião. Aliás, não há reunião desse tipo descrita na Bíblia. Só na Vinda de Jesus veremos a Deus como Ele é (1Jo 3.2).

Jesus disse: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30). A Bíblia diz ainda: “O Espírito penetra todas as coisas, até as profundezas de Deus” (1Co 2.10). O texto do TEI afirma que o Filho permanecia calado, com preocupação, diante de uma censura do Pai. Isso é um ultraje à Santíssima Trindade, visto que os três são iguais em glória, poder e majestade (Mt 28.19; 1Co 12.4-7; 2Co 13.13; Ef 4.4-6).

O líder é apresentado no livro como “Anjo de Fogo”, com intimidade e convivência com as três Pessoas da Trindade e com os anjos, de modo que ele se coloca como alguém superior aos profetas e aos apóstolos da Bíblia. Coloca-se, sobretudo, como uma espécie de quarta pessoa na Deidade.
Revelação adicional como fonte de autoridade

A observação encontrada logo no início do livro de que o referido livro não pretende ser comparado à Bíblia, ou mesmo substituí-la, é desfeita ao longo da obra, com as prerrogativas que o TEI apresenta sobre si mesmo. Essa observação per si é suspeita. Desnecessário dizer que um determinado livro não é igual ou superior à Bíblia, pois todo o mundo tem ciência de que a Bíblia é um livro sui generis, inspirado e a única regra de fé e prática. Todavia, o TEI se coloca como revelação recebida de forma sobrenatural, diretamente de Deus, pelo autor do livro, juntamente com seus companheiros, vindo de uma suposta Sala das Escrituras no Céu, como literatura de caráter singular, cujas palavras são infalíveis para nortear as igrejas em toda a Terra. De fato, assim se acha registrado:

“Deste Livro, o qual foi recebido sobrenaturalmente por ele e pelo Grupo de Oração da World Revival Church Assembly of God entre outubro de 2002 e fevereiro de 2003” – (Prefácio, pág. 14).

“Literatura singular…feita de forma sobrenatural – do livro selado pelo profeta Daniel, comido pelo apóstolo João e das coisas inefáveis que o apóstolo Paulo ouviu no Paraíso acerca das quais não pode falar” (Prólogo, pág. 16).

“Ele nos falou diretamente acerca de profundos mistérios do Seu coração concernentes ao conteúdo deste Livro, bem como outros referentes a este grande e último avivamento do tempo do fim” (pág.19).

Como um livro com essas características não está reivindicando autoridade? A fé cristã está fundamentada exclusivamente nas Escrituras Sagradas (Is 8.20). Acrescentar algo à Palavra de Deus é pecado (Dt 4.2; 12.32; Pv 30.5-6; Ap 22.18-19). Os fundadores de seitas trouxeram revelações adicionais para os seus movimentos, como Maomé, Joseph Smith Jr., Allan Kardec, Ellen White, Charles T. Russell, Mary Baker Eddy, Reverendo Moon.
A autoridade dos profetas e apóstolos

O líder, subscritor de O Triunfo Eterno da Igreja, considera-se portador de uma unção acima de todos os homens, igual ou até superior a dos apóstolos do Novo Testamento, afirmando, ainda, que recebeu a mesma unção recebida pelo rei Davi. Em outras palavras, toda a raça humana deve prestar a ele a mesma obediência prestada à Bíblia. De fato, em seu livro se acham os seguintes registros:

“Eu, João, agradeço muito a Deus por saber que na eternidade estarei ao lado dos maiores apóstolos e profetas que farão, juntamente com o Pai, o Filho e o Espírito Santo, a Grande Colheita dos últimos tempos. Já me foi revelado que, nos últimos dias, o Pai escolherá um homem que será conhecido como ‘Anjo de Fogo’ e, juntamente com ele, será formado e discipulado pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo, um grupo que será conhecido como apóstolos e profetas do grande e último avivamento” ( pág. 128).

“Pude vê-lo também trabalhando ao lado de um servo de Deus que será conhecido no mundo espiritual como ‘Anjo de Fogo’ devido à autoridade, à fé, à coragem, à ousadia e à unção que ele estará recebendo do Deus Altíssimo para ver a Terra ser envolvida pela glória do Senhor e pela abrangência que essa obra do tempo do fim alcançará, visto se tratar da última missão do arcanjo Jadiel, o qual, recebendo as ordens do Altíssimo, estará cumprindo a sua ultima missão com determinação e fidelidade absoluta” (pág. 338).

“Esse líder, o qual será o primeiro a receber a visão da grande obra do tempo do fim, assumirá sem restrição alguma o desafio com a ajuda do Altíssimo e introduzirá essa obra do tempo do fim em toda a Terra sem se preocupar com o preço a ser pago, com as renúncias que terá que fazer e com as perdas de amizades que terá ao se apresentar voluntariamente para introduzir e ver a grande obra do tempo do fim ao redor da Terra ser realizada com os seus frutos em abundância” (pág. 338).

“…ocasiões específicas, fui levado a uma tão intensa e profunda comunhão e intimidade com o Senhor, que recebi dEle essas revelações estando no Paraíso…” (pág. 342).

“E há de ser que, nos últimos dias, Eu levantarei um homem junto com os seus valentes. Da mesma forma que ungi Davi, Eu, o Espírito Santo, o ungirei, e do mesmo modo que ungi seus valentes, assim ungirei os valentes que estarão com ele e eles serão chamados de ‘a nova geração de apóstolos e profetas do Avivamento’ levantada para preparar o caminho como precursores da Volta de Cristo” (pág. 131).

Esse texto se parece com a profecia messiânica de Jeremias 23.5-6.
A suposta apostasia da Igreja

O TEI parece afirmar, como fazem as seitas (Mórmons, Adventistas do Sétimo Dia, Testemunhas de Jeová, entre outras), que a Igreja se apostatou no início do segundo século de nossa era, vindo a ser restaurada só em 14 de setembro de 2001. Isso essas seitas o fazem para dizer que todos aqueles que a elas não pertencem se acham em caminhos errados e necessitam se converteram à religião deles. No teatro forjado sobre a suposta reunião da Trindade, afirma o TEI que a Igreja não está cumprindo a sua missão na Terra.

“Felizmente, essa brecha foi imediatamente fechada no dia 14 de setembro de 2001 AD, com a chegada do grande e último Avivamento do tempo do fim” (pág.85).

“Devido às brechas abertas a começar a reinar no ano 101 da Era Cristã por descuido da liderança da época…” (pág. 249).

“Para os inimigos do grande e último Avivamento, essas revelações e manifestações trarão confusão, nervosismo, irritação e grande ira, pois não poderão crer, visto que o seu entendimento estará endurecido para tais maravilhas e manifestações, porém a Igreja ao redor da Terra desfrutará dessa dimensão até o arrebatamento” (pág. 124).

“Os santos do grande e último Avivamento serão rejeitados por líderes religiosos que não vão querer abrir mão de certos privilégios” (pág. 184).
“Essas ações anularão tradições, costumes, sistemas, resistências impostas pelos líderes que não entenderam e não aceitaram o propósito de Deus para a Sua Igreja no derramamento do Espírito Santo nesse tempo do fim, bem como não entenderam o tempo da visitação de Deus nos últimos dias: o tempo do grande e último Avivamento do tempo do fim” (pág. 237).

O Senhor Jesus Cristo garantiu que as portas do inferno não prevaleceriam contra a Igreja (Mt 16.18). A Bíblia diz ainda: “A esse glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém!”, Ef 3.21. Não é verdade, pois, que a Igreja não está cumprindo sua missão na Terra.
Sobre os anjos

O TEI apresenta um número considerável de “mistérios de Deus” ou “segredos ocultos”. Além disso, defende manifestações exageradas de anjos. Tudo leva a crer que o livro tem o propósito de promover o líder da Igreja em Boston, com o seu grupo, e legitimar o exagero dos anjos no seu movimento.

Comportamento que se identifica perfeitamente com os gnósticos dos dois primeiros séculos da Era Cristã, os quais fundamentavam sua crença nos “mistérios de Deus” e na teoria da emanação, o “culto dos anjos”, questões feridas pelo apóstolo Paulo em Colossenses 2.18.

O TEI revela ainda a existência de anjos extra-bíblicos, como Elifelete e Jadiel (pág. 337). É verdade que a Bíblia não revela tudo o que aconteceu no período bíblico e nem tudo o que está no Céu, mas o compromisso do cristão é com o que está escrito (1Co 4.6).
Conclusão

No conteúdo da obra examinada, como exposto, há previsões exageradas e repetitivas em torno do movimento que vem ocorrendo em Boston, EUA, sob a liderança do pastor Ouriel de Jesus.

As palavras provindas do “Trono” (no dizer do líder do livro), de que o preço a ser pago é muito alto (será caluniado, excluído da sua denominação, chamado de herege pelos próprios amigos), são uma exteriorização do que se acha instalado no seu íntimo. É a chamada “síndrome de perseguição”. Com receio de que suas visões não serão aplaudidas, nem muito bem recebidas, pelos que se acham atentos às profecias bíblicas para os últimos dias, já previamente faz a sua defesa. Aliás, é comportamento esposado por todos os implantadores de seitas. De outro lado, em todo o livro e na descrição das suas visões, o indigitado líder deixa transparecer a teomania de que se acha tomado.

Em face de todo o exposto, é do parecer do Conselho de Doutrina e da Comissão de Apologia da CGADB, que o pastor Ouriel de Jesus, uma vez que se acha vinculado à Igreja no Brasil, propor à Mesa Diretora da CGADB convocá-lo para justificar seu comportamento destoante da doutrina bíblica pregada pela Igreja, bem assim se retrate das aberrações doutrinárias registradas no livro O Triunfo Eterno da Igreja, por ele subscrito.
Pastor Paulo Roberto Freire Costa

Presidente do Conselho de Doutrina

Pastor Esequias Soares

Presidente da Comissão de Apologia

Mesa Diretora da CGADB comunica o desligamento do Pr. Ouriel de Jesus e da AD em Boston – EUA

A Mesa Diretora da CGADB esteve reunida nesta quarta e quinta na sede da Convcenção geral, no Rio, para deliberar sobre diversos assuntos pendentes desde a última reunião, principalmente sobre os acontecimentos advindos de Boston, nos Estados Unidos, sobre o comportamento e práticas usadas pela “World Revival Church”, liderada pelo Pr. Ouriel de Jesus.
De acordo com os últimos acontecimentos ocorridos naquela igreja, principalmente do lançamento do livro “O Triunfo Eterno da Igreja”, onde o referido pastor alega ter recebido de Deus as revelações do “Livro selado por 7 selos”, do “Livrinho comido por João” e das “Coisas inefáveis vistas por Paulo no paraíso”, o presidente da CGADB, Pr. José Wellington Bezerra da Costa, solicitou pareceres da Comissão de Apologética e do Conselho de Doutrinas da CGADB, os quais repudiaram tais afirmações e as práticas liturgicas daquela igreja. Estes pareceres foram publicados no Jornal Mensageiro da Paz n° 1422 – Novembro/2003.
Nesta quarta-feira, 29/10/2003, a Mesa Diretora da CGADB homologou o desligamento do Pr. Ouriel de Jesus do rol de ministros da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil

fevereiro 26, 2008 at 12:17 pm 2 comentários

A teologia da prosperidade à luz da Bíblia

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, tem sido apregoada aos quatro cantos do mundo um ensino exagerado sobre a prosperidade cristã. Segundo este ensinamento, todo crente tem que ser rico, não morar em casa alugada, ganhar bem, além de ter saúde plena, sem nunca adoecer. Caso não seja assim, é porque está em pecado ou não tem fé. Neste estudo, procuraremos examinar o assunto à luz da Bíblia, buscando entender a verdadeira doutrina da prosperidade.

I – O QUE É PROSPERIDADE.

No Dic. Aurélio, encontramos vários significados em torno da palavra prosperidade.:

1. PROSPERIDADE (do lat., prosperitate). Qualidade ou estado de próspero; situação próspera.

2. PROSPERAR. Tornar-se próspero ou afortunado; enriquecer; ser favorável; progredir; desenvolver.

3. PRÓSPERO. Propício, favorável, ditoso, feliz, venturoso.

4. BIBLICAMENTE, prosperidade é mais que isso. É o que diz o Salmo 1. 1-3.

II – A MODERNA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE EM CONFRONTO COM A BÍBLIA.

1. NOMES INFLUENTES.

1.1. KENYON. Nasceu em 24.04.1867, Saratoga, Nova York, EUA, falecendo aos 19.03.48. Nos anos 30 a 40, desenvolveram-se os ensinos de Essek William Kenyon. Segundo Pieratt (p. 27), ele tinha pouco conhecimento teológico formal. ‘Kenyon nutria uma simpatia por Mary Baker Eddy’ (Gondim, p. 44), fundadora do movimento herético ‘Ciência Cristã’, que afirma que a matéria, a doença não existem. Tudo depende da mente. Pastoreou igrejas batistas, metodistas e pentecostais. Depois, ficou sem ligar-se a qualquer igreja. De acordo com Hanegraaff, Kenyon sofreu influência das seitas metafísicas como Ciência da Mente, Ciência Cristã e Novo Pensamento, que é o pai do chamado ‘Movimento da Fé’. Esses ensinos afirmam que tudo o que você pensar e disser transformará em realidade. Enfatizam o ‘Poder da Mente’.

1.2. KENNETH HAGIN.

Discípulo de Kenyon. Nasceu em 20.08.1918, em McKinney, Estado do Texas, EUA. sofreu várias enfermidades e pobreza; diz que se converteu após ter ido três vezes ao inferno (Romeiro, p. 10). Aos 16 anos diz ter recebido uma revelação de Mc 11.23,24, entendendo que tudo se pode obter de Deus, desde que confesse em voz alta, nunca duvidando da obtenção da resposta, mesmo que as evidências indiquem o contrário. Isso é a essência da ‘Confissão Positiva’.

Foi pastor de uma igreja batista (1934-1937); depois ligou-se à Assembléia de Deus (1937-1949), em seguida passou por várias igrejas pentecostais, e , finalmente, fundou seu próprio ministério, aos 30 anos, fundando o Instituto Bíblico Rhema. Foi criticado por ter escrito livros com total semelhança aos de Kenyon, mas defendeu-se , dizendo que não era plágio, que os recebera diretamente de Deus.

OUTROS.

Kenneth Copeland, seguidor de Haggin, diz que ‘Satanás venceu Jesus na cruz’ (Hanegraaff, p. 36). Benny Hinn. Tem feito muito sucesso. Diz que teve a revelação de que as mulheres originalmente deveriam dar à luz pelo lado de seus corpos (id., p. 36). Há muitos outros nomes, mas este espaço do estudo não permite registrá-los.

III – OS ENSINOS DO EVANGELHO DA PROSPERIDADE EM CONFRONTO COM A BÍBLIA.

Os defensores da ‘teologia ou do evangelho da prosperidade’ baseiam-se em três pontos a serem considerados:

1. AUTORIDADE ESPIRITUAL.

1.1. PROFETAS, HOJE.

Segundo K. Hagin, Deus tem dado autoridade (unção) a profetas nos dias atuais, como seus porta-vozes. Ele diz que ‘recebe revelações diretamente do Senhor’; ‘…Dou graças a Deus pela unção de profeta…Reconheço que se trata de uma unção diferente…é a mesma unção, multiplicada cerca de cem vezes’ (Hagin, Compreendendo a Unção, p. 7). è

O QUE DIZ A BÍBLIA:

O ministério profético, nos termos do AT, duraram até João (Mt 11.13). Os profetas de hoje são os ministros da Palavra (Ef 4.11). O dom de profecia (1 Co 12.10) não confere autoridade profética.

1.2. ‘AUTORIDADE DAS REVELAÇÕES’.

Essa autoridade deriva das ‘visões, profecias, entrevistas com Jesus, curas, palavras de conhecimento, nuvens de glória, rostos que brilham, ser abatido (cair) no Espírito’, rejeição às doenças, ordenando-lhes que saiam, etc. Ele diz que quem rejeitar seus ensinos ‘serão atingidos de morte, como Ananias e Safira’ (Pieratt, p. 48). è

O QUE DIZ A BÍBLIA.

A Palavra de Deus garante autoridade aos servos do Senhor (cf. Lc 24.49; At 1.8; Mc 16.17,18). Mas essa autoridade ou poder deriva da fé no Nome de Jesus e da Sua Palavra, e não das experiências pessoais, de visões e revelações atuais. Não pode existir qualquer ‘nova revelação’ da vontade de Deus. Tudo está na Bíblia (Ver At 20.20; Ap 22.18,19).

Se um homem diz que lhe foi revelado que a mulher deveria ter filhos pelos lados do corpo, isso não tem base bíblica, carecendo tal pessoa de autoridade espiritual. Deveria seguir o exemplo de Paulo, que recebeu revelação extraordinária, mas não a escreveu (cf. 2 Co 12.1-6).

1.3. HOMENS SÃO DEUSES!

Diz Hagin: ‘Você é tanto uma encarnação de Deus quanto Jesus Cristo o foi…’ (Hagin, Word of Faith, 1980, p. 14). ‘Você não tem um deus dentro de você. Você é um Deus’ (Kenneth Copeland, fita cassete The Force of Love, BBC-56). ‘Eis quem somos: somos Cristo!’ (Hagin, Zoe: A Própria Vida de Deus, p.57). Baseiam-se, erroneamente, no Sl 82.6, citado por Jesus em Jo 10.31-39. ‘Eu sou um pequeno Messias’ (Hagin, citado por Hanegraaff, p. 119).

O QUE A BÍBLIA DIZ. Satanás, no Éden, incluiu no seu engodo, que o homem seria ‘como Deus, sabendo o bem e o mal’ (Gn 3.5). Isso é doutrina de demônio. Em Jo 10.34, Jesus citou o Sl 82.6, mostrando a fragilidade do homem e não sua deificação: ‘…Todavia, como homem morrereis e caireis, como qualquer dos príncipes’ (v. 7). ‘Deus não é homem’ (Nm 23.19; 1 Sm 15.29; Os 11.9 Ex 9.14). Fomos feitos semelhantes a Deus, mas não somos iguais a Ele, que é Onipotente (Jó 42.2;…); o homem é frágil (1 Co 1.25); Deus é Onisciente (Is 40.13, 14; Sl 147.5); o homem é limitado no conhecimento (Is 55.8,9). Deus é Onipresente (Jr 23.23,24). O homem só pode estar num lugar (Sl 139.1-12). Diante desse ensino, pode-se entender porque os adeptos da doutrina da prosperidade pregam que podem obter o que quiserem, nunca sendo pobres, nunca adoecendo. É que se consideram deuses!

2. SAÚDE E PROSPERIDADE.

Esse tema insere-se no âmbito das ‘promessas da doutrina da prosperidade’. Segundo essa doutrina, o cristão tem direito a saúde e riqueza; diante disso, doença e pobreza são maldições da lei.

2.1. BÊNÇÃO E MALDIÇÃO DA LEI.

Com base em Gl 3.13,14, K.Hagin diz que fomos libertos da maldição da lei, que são: 1) Pobreza; 2) doença e 3) morte espiritual. Ele toma emprestadas as maldições de Dt 28 contra os israelitas que pecassem. Hagin diz que os cristão sofrem doenças por causa da lei de Moisés.

O QUE DIZ A BÍBLIA.

Paulo refere-se, no texto de Gl 3 à maldição da lei a todos os homens, que permanecem nos seus pecados. A igreja não se encontra debaixo da maldição da lei de Moisés. (cf. Rm 3.19; Ef 2.14). Hagin diz que ficamos debaixo da bênção de Abraão (Gl 3.7-9), que inclui não ter doenças e ser rico. Ora, Abraão foi abençoado por causa da fé e não das riquezas. Aliás, estas lhe causaram grandes problemas. Muitos cristãos fiéis ficaram doentes e foram martirizados, vivendo na pobreza, mas herdeiros das riquezas celestiais (1 Pe 3.7).

Os teólogos da prosperidade dizem que Cristo, na Cruz, ‘removeu não somente a culpa do pecado, mas os efeitos do pecado’ (Pieratt, p. 132). Mas isso não é verdade, pois Paulo diz que ‘toda a criação geme’, inclusive os crentes, aguardando a completa redenção.

2.2. O CRISTÃO NÃO DEVE ADOECER.

Eles ensinam que ‘todo cristão deve esperar viver uma vida plena, isenta de doenças’ e viver de 70 a 80 anos, sem dor ou sofrimento. Quem ficar doente é porque não reivindica seus direitos ou não tem fé. E não há exceções (Pieratt, p. 135). Pregam que Is. 53.4,5 é algo absoluto. Fomos sarados e não existe mais doença para o crente.

O QUE DIZ A BÍBLIA:

‘No mundo, tereis aflições’ (Jo 16.33). São Paulo viveu doente (Ver 1 Co 4.11; Gl 4.13), passou fome, sede, nudez, agressões, etc. Seus companheiros adoeceram (Fp 2.30). Timóteo tinha uma doença crônica (1 Tm 5.23). Trófimo ficou doente (2 Tm 4.20). Essas pessoas não tinham fé? Jesus curou enfermos, e citou Is 53.4,5 (cf. Mt 8.16,17).

No tanque de Betesda, havia muitos doentes, mas Jesus só curou um (cf. Jo 5.3,8,9). Deus cura, sim. Mas não cura todos as pessoas. Se assim fosse, não haveria nenhum crente doente. Deve-se considerar os desígnios e a soberania divina. Conhecemos homens e mulheres de Deus, gigantes na fé, que têm adoecido e passado para o Senhor.

2.3. O CRISTÃO NÃO DEVE SER POBRE.

Os seguidores de Hagin enfatizam muito que o crente deve ter carro novo, casa nova (jamais morar em casa alugada!), as melhores roupas, uma vida de luxo. Dizem que Jesus andou no ‘cadillac’ da época, o jumentinho. Isso é ingênuo, pois o ‘cadillac’ da época de Cristo seria a carruagem de luxo, e não o simples jumentinho.

O QUE DIZ A BÍBLIA.

A Palavra de Deus não incentiva a riqueza (também não a proíbe, desde que adquirida com honestidade, nem santifica a pobreza); S. Paulo diz que aprendeu a contentar-se com o que tinha (cf. Fp 4.11,12; 1 Tm 6.8);

Jesus enfatizou que só uma coisa era necessária: ouvir sua palavra (Lc 10.42); Ele disse que é difícil um rico entrar no céu (Mt 19.23); disse, também, que a vida não se constitui de riquezas (Lc 12.15). Os apóstolos não foram ricaços, mas homens simples, sem a posse de riquezas materiais. S. Paulo advertiu para o perigo das riquezas (1 Tm 6.7-10)

3. CONFISSÃO POSITIVA.

É o terceiro ponto da teologia da prosperidade. Ela está incluída na ‘fórmula da fé’, que Hagin diz ter recebido diretamente de Jesus, que lhe apareceu e mandou escrever de 1 a 4, a ‘fórmula’.

Se alguém deseja receber algo de Jesus, basta segui-la:

1) ‘Diga a coisa’ positiva ou negativamente, tudo depende do indivíduo. De acordo com o que o indivíduo quiser, ele receberá’. Essa é a essência da confissão positiva.

2) ‘ Faça a coisa’. ‘Seus atos derrotam-no ou lhe dão vitória. De acordo com sua ação, você será impedido ou receberá’.

3) ‘Receba a coisa’. Compete a nós a conexão com o dínamo do céu’. A fé é o pino da tomada. Basta conectá-lo.

4) ‘Conte a coisa’ a fim de que outros também possam crer’. Para fazer a ‘confissão positiva’, o cristão dever usar as expressões: exijo, decreto, declaro, determino, reivindico, em lugar de dizer : peço, rogo, suplico; jamais dizer: ‘se for da tua vontade’, segundo Benny Hinn, pois isto destrói a fé.

Mas Jesus orou ao Pai, dizendo: ‘Se é da tua vontade…faça-se a tua vontade…’ (Mt 26.39,42). ‘Confissão positiva’ se refere literalmente a trazer à existência o que declaramos com nossa boca, uma vez que a fé é uma confissão’ (Romeiro, p. 6).

IV – A VERDADEIRA PROSPERIDADE.

A Palavra de Deus tem promessas de prosperidade para seus filhos. Ao refutar a ‘Teologia da Prosperidade’, não devemos aceitar nem pregar a ‘Teologia da Miserabilidade’.

1. A PROSPERIDADE ESPIRITUAL.

Esta deve vir em primeiro lugar. Sl 112.3; Sl 73.23-28. É ser salvo em Cristo Jesus; batizado com o Espírito Santo; é ter o nome escrito no Livro da Vida; é ser herdeiro com Cristo (Rm 8.17); Deus escolheu os pobres deste mundo para serem herdeiros do reino (Tg 2.5); somos co-herdeiros da graça (1 Pe 3.7); devemos ser ricos de boas obras (1 Tm 6.18,19); tudo isso nos é concedido pela graça de Deus.

2. PROSPERIDADE EM TUDO.

Deus promete bênçãos materiais a seus servos, condicionando-as à obediência à sua Palavra e não à ‘Confissão Positiva’.

2.1. BÊNÇÃOS E OBEDIÊNCIA. Dt 28.1-14. São bênçãos prometidas a Israel, que podem ser aplicadas aos crentes, hoje.

2.2. PROSPERIDADE EM TUDO (Sl 1.1-3; Dt 29.29; ). As promessas de Deus para o justo são perfeitamente válidas para hoje. Mas isso não significa que o crente que não tiver todos os bens, casa própria, carro novo, etc, não seja fiel.

2.3. CRENDO NOS SEU PROFETAS (2 Cr 20.20;). Deus promete prosperidada para quem crê na Sua palavra, transmitida pelos seus profetas, ou seja, homens e mulheres de Deus, que falam verdadeiramente pela direção do Espírito Santo, em acordo com a Bíblia, e não por entendimento pessoal.

2.4. PROSPERIDADE E SAÚDE (3 Jo 2). A saúde é uma bênção de Deus para seu povo em todos os tempos. Mas não se deve exagerar, dizendo que quem ficar doente é porque está em pecado ou porque não tem fé.

2.5. BÊNÇÃOS DECORRENTES DA FIDELIDADE NO DÍZIMO (Ml 3.10,11). As janelas do céu são abertas para aqueles que entregam seus dízimos fielmente, pela fé e obediência à Palavra de Deus.

2.6. O JUSTO NÃO DEVE SER MISERÁVEL. (Sl 37.25). O servo de Deus não deve ser miserável, ainda que possa ser pobre, pois a pobreza nunca foi maldição, de acordo com a Bíblia.

CONCLUSÃO.

O crente em Jesus tem o direito de ser próspero espiritual e materialmente, segundo a bênção de Deus sobre sua vida, sua família, seu trabalho. Mas isso não significa que todos tenham de ser ricos materialmente, no luxo e na ostentação. Ser pobre não é pecado nem ser rico é sinônimo de santidade. Não devemos aceitar os exageros da ‘Teologia da Prosperidade’, nem aceitar a ‘Teologia da Miserabilidade’. Deus é fiel em suas promessa. Na vida material, a promessa de bênçãos decorrentes da fidelidade nos dízimos aplicam-se á igreja. A saúde é bênção de Deus. Contudo, servos de Deus, humildes e fiéis, adoecem e muitos são chamados á glória, não por pecado ou falta de fé, mas por desígnio de Deus. Que o Senhor nos ajude a entender melhor essas verdades.

Autor: Elinaldo Renovato de Lima 

 

fevereiro 19, 2008 at 5:05 pm 6 comentários

O triunfalismo

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O triunfalismo é um dos principais ensinos da teologia da prosperidade que se aproveita do materialismo dominante dos nossos dias.

 

INTRODUÇÃO

 

– Na lição anterior, vimos as bases da chamada “teologia da prosperidade” e sua total discordância com a Bíblia Sagrada. Nesta lição, prosseguiremos o seu estudo, desta feita, avaliando um dos seus mais funestos efeitos e a sua forma de execução, a saber, o “triunfalismo”.

 

– O “triunfalismo” é um comportamento de sutileza típica: aproveitando-se das circunstâncias que estão ao redor do crente, o adversário levanta homens e mulheres que geram expectativas de um “paraíso na terra”, desviando os olhares do povo daquilo que é relevante e permanente: a vida eterna.

 

I – O FALSO PRESSUPOSTO DO TRIUNFALISMO

 

– Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a palavra “triunfalismo” surgiu em nosso idioma em 1965, com o significado de “atitude, crença ou doutrina de que determinado credo religioso é superior a todos os outros”. Mas, em 1980, adquiriu novo significado, a saber, “atitude excessivamente triunfante; sentimento exagerado de triunfo”. Já na própria história da palavra, vemos como é recente a sua infiltração no meio do povo de Deus e como se teve uma distorção dos corretos ensinos provenientes das Escrituras Sagradas.

 

– A palavra “triunfalismo” advém de “triunfo”, palavra de origem latina, “triumphus”, que era o nome que recebia “a entrada solene em Roma de um general vitorioso”, e que, por extensão, passou a significar “vitória”. Em Roma, além da entrada solene em Roma, era costumeiro construir “arcos do triunfo”, ou seja, “…um tipo de monumento introduzido pela arquitetura romana originalmente utilizado como um símbolo da vitória em uma determinada batalha. Cada arco do triunfo romano, portanto, remete-se a uma batalha e a um imperador específicos na história romana e sua memória era celebrada através desta construção.…” (WIKIPEDIA. Arco do triunfo. http://72.14.203.104/search?q=cache:qJ8-DhbWAdgJ:pt.wikipedia.org/wiki/Arco_do_Triunfo+%22arco+do+triunfo%22&hl=pt-BR&gl=br&ct=clnk&cd=1 Acesso em 26 abr. 2006).

 

– Ao falarmos em “triunfalismo”, portanto, estamos nos referindo a “uma atitude excessivamente triunfante”, a um “sentimento exagerado de triunfo” que tem tomado conta da vida de muitos crentes, que, insuflados por pregadores de um falso evangelho, evangelho este baseado na “teologia da prosperidade”, passam a se considerar “super-crentes”, pessoas que se encontram acima das dificuldades e das adversidades da vida e que, portanto, confundem vida espiritual com prosperidade material e imunidade aos males desta vida.

 

– O “triunfalismo”, como vimos na lição anterior, é uma atitude típica dos chamados “movimentos da fé” ou “teologia da prosperidade”. Como tivemos ocasião de observar, esta falsa doutrina parte da noção de que, na criação do homem, Deus entregou ao homem o domínio sobre a criação terrena, dando-lhe, pois, “direitos” que ele pode reivindicar diante da Divindade. Tanto assim é que, quando do episódio da queda, o que teria havido seria um “legítimo direito” do homem em transferir a Satanás o domínio desta mesma terra. Evidentemente que Deus não iria permitir isto e, por isso, teria elaborado o plano da salvação do homem, a fim de que o homem pudesse, legalmente, reaver o que havia transferido ao diabo.

 

– Como Jesus veio ao mundo e cumpriu este desejo do Senhor, o homem que aceita a salvação teria retornado a esta qualidade de “detentor de direitos” diante de Deus e, por isso, não há que se falar em adversidades, dificuldades ou quaisquer outros problemas para o salvo, uma vez que ele tornou a ter os “direitos” que lhe advieram pela “nova criação”. É a partir deste conceito, pois, que surge, no bojo da “teologia da prosperidade”, um triunfalismo, vez que o salvo se sente um “mais do que vencedor”, alguém que “triunfou sobre o diabo” e que, por isso, não tem mais que “pagar coisa alguma ao diabo”, que tem, simplesmente, de “fazer o diabo desaparecer da sua vida, dos seus bens, da sua família e da sua saúde”.

 

– Não obstante, não é isso que dizem as Escrituras Sagradas. Relembrando o que já estudamos na lição anterior, vemos que, em primeiro lugar, o homem não é portador de qualquer “direito” diante de Deus. Quando da criação, Deus fez o homem um simples “mordomo”: o domínio sobre a criação terrena não significa, em absoluto, propriedade, mas, sim, poder de administração. Tanto assim é que o homem foi feito “imagem e semelhança de Deus”, ou seja, embora tivesse pontos de contacto com o Senhor, não fora equiparado a Ele, o que, a propósito, é reconhecido pelo próprio Satanás que, valendo-se desta diferença entre Deus e os homens, levou o primeiro casal a desejar ser igual a Deus (cf. Gn.3:5).

 

– Ao se verificar o texto de Gn.1:26, vemos que, no hebraico, o verbo utilizado para designar o “domínio” do homem é “radah”, ou seja, “governar”, “dar regras”, que, na versão grega da Septuaginta é “archétosan” (αρχέτωσαν), que também significa “governar”, “administrar”. Não bastasse este significado, o texto bíblico mostra claramente que Deus mantém o controle de toda a situação, seja porque, encontramos Deus ordenando ao homem (Gn.2:15-17), seja porque a narrativa bíblica demonstra que o homem só exerce suas faculdades mais excelentes, entre as quais, a de dar nome aos demais seres (que é o símbolo de sua superioridade), sob os auspícios e a devida supervisão do Senhor (cf. Gn.2:19-23).

 

– Como se ainda isto não fosse suficiente, as Escrituras são claras ao afirmar que, enquanto o homem tem o governo sobre a criação terrena, o reino, a soberania permanece sendo de Deus, o “dono”, o “proprietário”, ou seja, aquele que tem “poder absoluto sobre a coisa”, pois esta é a noção de propriedade. É o que se verifica no Sl.24:1; 47:8; 59:13; 93:1; 96:10; 97:1; 99:1; Is.52:7 e Ap.19:6, entre outras referências. Nestes trechos, aliás, os verbos são diversos, pois dão a idéia do domínio absoluto. É o verbo “reinar” que está em foco, que, em hebraico é “malak” e, em grego, “ebasileuein” (εβασιλευειν).

 

– O “triunfalismo”, portanto, perde já na sua base, pois todo o edifício que dá ao homem uma qualidade de “super-crente” parte do pressuposto de que ele é “detentor de direitos” diante de Deus e que, por isso, Deus é “obrigado” a praticar determinadas ações em favor dos “salvos”, por força dos “direitos” existentes no relacionamento entre Deus e a humanidade. Nada mais falso. Se é verdade que Deus nos resgatou do pecado e da perdição eterna, fê-lo porque é amoroso e tudo nos concede por “graça”, ou seja, “favor não merecido”, conceito bem diverso do de “direito”. Para nos utilizarmos da linguagem jurídica, tão ao gosto dos “triunfalistas”, a salvação do homem e as bênçãos decorrentes dela são fruto de uma “liberalidade” divina, não de uma “obrigação”.

 

OBS: “Liberalidade”, como nos diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa é ” disposição daquele que, em seus atos ou em suas intenções, dá o que não tem obrigação de dar e sem esperanças de receber nada em troca”. (grifo nosso)

 

– A idéia de “triunfo” por parte do ser humano é alheia ao texto bíblico. Na Versão Almeida Revista e Corrigida, a única vez em que aparece a palavra “triunfo” é no Sl.47:1, tradução esta, entretanto, que não é a melhor, vez que a palavra hebraica “rinnah” significa “voz alta”, “clamor”, “alegria”, “júbilo”, sendo estas as palavras utilizadas pelas demais versões, a começar da Almeida Revista e Atualizada.

 

– O verbo “triunfar” aparece em dois versículos da Versão Almeida Revista e Corrigida. A primeira vez, em Mt.12:20, quando o evangelista faz referência a uma profecia de Isaías, dizendo que o “servo do Senhor” (ou seja, o Messias) iria “triunfar em juízo”, palavra repetida pela Tradução Brasileira, mas que é tradução de “nikos” (νικος), que significa “vitória”, tanto que a Versão Almeida Revista e Atualizada prefere utilizar a palavra “vencedor”. De qualquer maneira, quando se fala em “triunfo”, está-se referindo a Jesus, Ele, sim, o triunfante contra o mal e o pecado.

 

– A segunda vez que se fala em “triunfar” na Versão Almeida Revista e Corrigida é no texto de II Co.2:14, um dos textos mais caros aos “triunfalistas”, onde temos o verbo grego “thriambeuonti” (θριαμβεύοντι), cujo significado é, efetivamente, “triunfar”. Para que verifiquemos se, neste texto, encontramos base para o pensamento triunfalista, nada melhor que transcrevê-lo para uma devida análise de sua literalidade:

 

E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar o cheiro do seu conhecimento.

 

– Neste texto, é inegável que a idéia do triunfo está associada à imagem da entrada do general vitorioso em Roma. Temos, assim, a verdadeira reprodução, na Bíblia Sagrada, da cena que dá origem ao “triunfo”. Mas, então o crente pode se comportar como um verdadeiro “general vitorioso”, que entra na sua cidade orgulhoso de sua condição de vitória, pronto a desfrutar das benesses dela decorrentes, ou seja, dos “direitos” resultantes da sua vitória militar, o que, em Roma, quase sempre, significa concessão de poder e de autoridade?

 

– A despeito de ter sido esta a interpretação dada pelos “triunfalistas”, o texto não nos autoriza a pensar desta maneira. O apóstolo Paulo, ao nos trazer a imagem do triunfo, está, sim, pondo o crente não na posição do general vitorioso, mas, ao contrário, o crente, diz Paulo, faz parte do “despojo” do vitorioso. Com efeito, quando o general ingressava em Roma, no seu “triunfo”, era seguido pelos bens e prisioneiros que eram capturados durante a guerra.

 

OBS: Flávio Josefo dá-nos uma idéia de como isto se dava, quando descreveu o “triunfo” de Tito, o general que destruiu Jerusalém e o templo no ano 70. Diz o historiador judeu: “…O dia de pompa tão soberba chegou e não houve uma só pessoa naquela infinita multidão de povo, que enchia toda Roma, que não quisesse presenciá-la.(…). É impossível descrever a magnificência desse festejo triunfal.(…). Viam-se todas as espécies de vestuários de púrpura (…). Havia estátuas de deuses, das diversas nações, de tamanho surpreendente.(…). Havia ainda várias espécies de animais raros e estimados, pela sua qualidade(…). Nada, porém, causava tanta admiração aos espectadores do que as diversas representações, como grandes armações de três ou quatro andares.(…). Eram imagens de cenas da guerra, as mais notáveis representadas ao natural.(…). Sobre cada uma dessas cidades, estava representado aquele que as havia defendido e de que maneira havia sido aprisionado. Vinham em seguida vários navios; entre a grande quantidade de despojos, os mais notáveis, eram os que tinham sido feitos no templo de Jerusalém; a mesa de ouro, que pesava vários talentos, o candelabro de ouro, feito com tanta arte(…). Simão, filho de Gioras, que depois de ter tomado parte no desfile triunfal, entre os outros escravos,…” (JOSEFO, Flávio. Tradução de Vicente Pedroso. Guerra dos judeus contra os romanos VII, 16,17. In: História dos hebreus, v.3, p.197-8).

 

– Ao dizer que Deus nos faz “triunfar em Cristo”, o apóstolo está nos dizendo que fazemos parte do “despojo” de Cristo, ou seja, somos o resultado da Sua vitória sobre o mal e o pecado, da Sua vitória sobre o adversário das nossas almas. O crente é um troféu que Cristo apresenta a Deus como prova da Sua vitória sobre o adversário das nossas almas. Daí porque a expressão da Versão Almeida Revista e Atualizada, qual seja, “nos conduz em triunfo” ou, na Nova Versão Internacional, “nos conduz vitoriosamente em Cristo”, ou seja, somos parte do espetáculo que Deus mostra a todo o universo para celebrar a vitória de Cristo sobre a morte e o inferno.

 

– Destarte, também este texto, em absoluto, põe o salvo no lugar do “general vitorioso”, nem estabelece qualquer base para que “esmaguemos a cabeça da serpente”, “amarremos o diabo”, ou, muito menos, “exijamos os nossos direitos” diante de Deus, mas, tão somente serve para nos mostrar que o vitorioso é Cristo e que, graças à Sua vitória, fomos por Ele conquistados para desfrutar, na Sua companhia, da vida eterna na cidade celestial.

 

II – A VIDA DE COMUNHÃO COM DEUS NÃO NOS IMPEDE DE TERMOS ADVERSIDADES NESTA VIDA

 

– A base do “triunfalismo” é dizer que, a partir do momento em que o homem aceita a Jesus como seu único e suficiente Senhor e Salvador, não é mais possível que o homem passe a ter problemas na vida sobre a face da Terra, pois a sua comunhão com Deus, a sua salvação lhe traz uma posição de “triunfo”, de vitória sobre o diabo. Portanto, é impossível que o salvo venha a sofrer enfermidades ou quaisquer outras necessidades, em especial, as relativas à vida econômico-financeira.

 

– Este raciocínio, como vimos na lição anterior, é antiqüíssimo, já se encontrava na teologia distorcida dos “amigos de Jó” e, conforme também visto, não representa um pensamento correto a respeito de Deus, como o denunciou o próprio Senhor em Sua conversa com Elifaz (Jó 42:7).

 

– A salvação é a maior bênção que um mortal poderia receber. Ela é a solução para o problema insolúvel do homem, qual seja, a sua separação de seu Criador por causa do pecado. Sem condições de resolver esta questão, o homem estava irremediavelmente perdido, mas Deus, desde o instante em que sentenciou o homem pelo seu pecado, prometeu reverter o quadro, o que se deu na pessoa de Cristo Jesus.

 

– Assim, a salvação é, sobretudo, uma bênção espiritual, tem a ver com o reatamento do relacionamento entre Deus e o homem e isto é o mais importante, pois a questão da eternidade é fundamental para o ser humano, que não foi criado para deixar de existir, mas cuja existência perdurará para sempre, na companhia de Deus, ou não.

 

– Não é por outro motivo que a questão relativa à vida eterna tem de ser tratada prioritariamente pelo ser humano. As Escrituras não cessam de mostrá-lo ao longo de suas páginas. Desde Abel, a Bíblia não nos cansa de mostrar que o segredo da vitória do homem está em buscar, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça (Mt.6:33). Segundo Jesus nos mostrou no sermão do monte, é este o fator distintivo entre os “gentios”, entendidos estes como os que não têm compromisso com Deus e os verdadeiros adoradores do Senhor.

 

– Aceitando a Cristo como único e suficiente Senhor e Salvador, ocorre o maior milagre que poderia acontecer, qual seja, o de passarmos da morte para a vida (Jo.5:24), de sair das trevas e ir para a luz (Jo.3:20,21), tornando-se novas criaturas (II Co.5:17; Gl.6:5), cuja posição, agora, é a de estar nos lugares celestiais em Cristo, onde é abençoado com toda a sorte de bênçãos espirituais(Ef.1:3).

 

– Notamos, portanto, que, de pronto, a promessa de Deus que advém da salvação é a do desfrute de todas as bênçãos espirituais. Não há qualquer registro nas Escrituras de promessa de “todas as bênçãos materiais”, mas, sim, de “todas as bênçãos espirituais”. É esta a promessa dada por Deus e Ele vela pela Sua Palavra para a cumprir (Jr.1:12). As Escrituras, coerentemente, dão a devida importância e relevância para o aspecto espiritual, pois é isto que temos de buscar em primeiro lugar, isto é o que importa. Aliás, foi esta a ordem de Cristo: “Trabalhai não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará, porque a este o Pai, Deus, o selou” (Jo.6:27).

 

– Não só o crente deveria se preocupar em ter uma vida espiritual abundante, cada vez mais crescente, como também deveria, em sua vigilância contínua, zelar, prioritariamente, também pelo seu bem-estar espiritual. É, também, orientação do Senhor: “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer, no inferno, a alma e o corpo” (Mt.10:28). Como podemos verificar, a preocupação do cristão deve ser com a sua vida eterna, com o seu relacionamento com Deus, deixando todas as demais coisas, conquanto necessárias, num segundo plano.

 

– Esta é a mesma conclusão que tiramos da vida do mais sábio homem que houve sobre a Terra, depois de Jesus. Salomão, no seu livro da velhice, o livro de Eclesiastes, com a autoridade que tem alguém que recebeu de Deus todas as bênçãos materiais possíveis, diz, ao término de sua pregação, que, diante de todas as bênçãos materiais recebidas, de tudo o que granjeou e desfrutou, chegava à conclusão seguinte: “De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os Seus mandamentos, porque este é o dever de todo o homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau” (Ec.12:13,14). Ao verificar toda “a vida debaixo do sol”, que é o tema do livro de Eclesiastes, Salomão concluiu que tudo o que importa é o nosso relacionamento com Deus, o dever de todo o homem de obedecer-Lhe, pois é diante do Senhor que nos apresentaremos para prestar contas daquilo que fizemos nesta vida

 

– Dentro desta perspectiva é que devemos entender que, sobre a face da Terra, a vida nos reserva tanto alegrias quanto tristezas, tanto dias bons quanto dias maus. Quando vemos o que a Bíblia diz a respeito disto, constatamos, para desmentido dos triunfalistas, que o justo não está livre de sofrer contratempos na vida, de ter problemas e dificuldades. As Escrituras, quando falam da adversidade, nunca excluem o justo dele. Senão vejamos:

 

– No Sl.27:5, o salmista diz que, o dia da adversidade, será escondido no pavilhão de Deus, ou seja, além de o salmista admitir que sofrerá esta adversidade, ainda nos informa que esta adversidade tanto não é prova de que está sem Deus, que será o próprio Deus quem o acalantará durante este período difícil da sua vida. Nem se diga que se trata de um “derrotista”, de um “crente sem fé”, como costumam dizer os triunfalistas, pois quem escreveu este salmo foi Davi, um “homem segundo o coração de Deus”, um exemplo de guerreiro e de vencedor de batalhas e, como se isto não bastasse, num salmo em que se louva a falta de medo, em que se louva a coragem daquele que confia em Deus. Entretanto, a coragem, a fé em Deus não retiram o fato de que o justo passa, sim, por problemas e dificuldades e disto Davi dá testemunho na sua vida.

 

– No Sl.35:5, o salmista não só fala que o justo passa por adversidade, como ainda que, por causa da adversidade, os seus inimigos se vangloriavam e festejavam. O salmista, apesar desta situação aflitiva e de confiar que ela será revertida, não deixa de mostrar que se encontra em comunhão com o Senhor, que se humilha e jejua na presença de Deus, não tendo, pois, perdido a sua salvação. Isto, porém, não impediu que houvesse a adversidade.

 

– Em Ec.7:14, é dito que Deus fez tanto o dia da prosperidade, quanto o dia da adversidade e, com uma finalidade, a saber: “para que o homem nada ache que tenha de vir depois dele”. Assim, um dos motivos pelos quais Deus permite a todo ser humano passar por adversidades é para que entenda a efemeridade da existência sobre a Terra e o seu correto lugar na ordem do universo. O sábio, pois, faz questão de nos mostrar que esta sucessão de dias se dá a todo o ser humano, indistintamente, seja ele alguém que serve a Deus, seja ele alguém que não O serve.

 

– Mas, dirá alguém, que, quando se fala em adversidade, temos o Sl.10:6, onde é dito que “Não serei abalado, porque nunca me verei na adversidade”. Tal pensamento, bem apropriado para os “triunfalistas” que, como veremos, são mestres na arte de retirar textos fora do contexto nas Escrituras para alicerçar seus conceitos, não resiste a uma análise superficial. Quem diz que nunca estará em adversidade, à moda dos triunfalistas? São os ímpios, como vemos a partir do Sl.10:2, onde é dito que “os ímpios, na sua arrogância, perseguem furiosamente o pobre”; no Sl.10:3, diz-se que “o ímpio gloria-se do desejo da sua alma”; no Sl. 10:4, “por causa do seu orgulho, (…) não investiga,…”; no Sl. 10:5, “os seus caminhos são sempre atormentadores”, para então, no versículo 6, dizer que “não será abalada, nunca se verá na adversidade”. Temos, pois, que o texto, tão do gosto dos triunfalistas, mostra-nos, bem ao contrário do que eles desejam, que a idéia de que não se passará jamais por adversidade é uma idéia típica de quem não serve a Deus, é a idéia típica do arrogante, do auto-suficiente, daquele que “dispensa Deus” das suas vidas, do orgulhoso, do pecador.

 

OBS: A Nova Versão Internacional apresenta um texto que bem traduz as pregações dos triunfalistas dos nossos dias: “…’Nada me abalará! Desgraça alguma me atingirá, nem a mim nem aos meus descendentes’…” (Sl.10:6).

 

– O que verificamos, neste Salmo 10, é uma das muitas lições da Bíblia a respeito da evidência de que o justo, apesar de ser justo, nem por isso está livre de passar por adversidades. A “vida debaixo do sol” possui esta característica. Jesus disse aos discípulos que, no mundo, teriam aflições (Jo.16:33), ou seja, “thlipsis” (θλιπσις), cujo significado é “angústia”, “problema”, “tribulação”, “perseguição”, expressão que designava o ato de moer o grão para produção de farinha. Tal palavra foi dada aos discípulos, isto é, aos que serviam a Jesus. Esta foi a única garantia e certeza dada por Cristo aos Seus, sendo até uma das “bem-aventuranças” mencionadas no intróito do sermão do monte, qual seja, a dos injuriados e perseguidos por causa do nome de Jesus (Mt.5:11,12).

 

– Como, então, dizer que o crente, se em comunhão com Deus, jamais sofrerá dificuldades? Como afirmar, com base nas Escrituras, que a vida do salvo é imune a qualquer tipo de problema, seja ele enfermidade, conflito familiar, injustiça, carência econômico-financeira, carência afetiva ou outras coisas mais?

 

– No mesmo sermão do monte, Jesus fez questão de ensinar Seus discípulos de que as dificuldades ocorridas durante a “vida debaixo do sol” ou “vida debaixo do céu” (Ec.1:13) são de três origens, que tanto ocorrem para os sábios, que são os servos do Senhor, como para os insensatos, que são aqueles que não servem a Deus, a saber (Mt.7:25,27):

 

a) dificuldades surgidas por ação direta de Deus, as chamadas provações divinas, que foram representadas pelo Senhor pela chuva, que vem do céu.

 

b) dificuldades surgidas por ação direta das hostes espirituais da maldade, as chamadas tentações ou ações malignas, que foram representadas pelo Senhor pelos rios, que vêm de debaixo do solo, das regiões inferiores.

 

c) dificuldades surgidas da aplicação da “lei da ceifa” (Gl.6:7), ou seja, conseqüências das atitudes dos próprios homens na sua convivência com o semelhante, que foram representadas pelo Senhor pelos ventos, que vêm dos lados.

 

– Um dos graves erros dos “triunfalistas” está em repetir o gesto do ímpio do Salmo 10, que “não investiga”, ou seja, dentro da teoria “triunfalista”, todo e qualquer mal que sobrevém ao crente seria uma “obra de Satanás”, uma “obra demoníaca”, motivo por que se deve “determinar”, ou seja, como vimos na lição anterior, na definição dada por R.R. Soares, “… não é ordenar a Deus e sim ao diabo que tire de nós suas garras e desapareça de nossas vidas, de nosso dinheiro e de nossas famílias.” (Curso Fé. Aula 1. Determinação. http://www.ongrace.com/cursofe/licoes.php?id=1″>http://www.ongrace.com/cursofe/licoes.php?id=1 Acesso em 20 abr. 2006).

 

– Contudo, Jesus nos ensina que nem sempre uma adversidade é resultado da obra do inimigo. Muito pelo contrário, muitas vezes estamos a padecer por causa de atitudes que nós mesmos tomamos ao longo de nossas vidas, esquecendo-se de que o controle de todas as coisas está nas mãos do Senhor, que não Se deixa escarnecer e que faz valer a Sua soberania, inclusive para que haja o cumprimento da Sua Palavra. Em outras oportunidades, o que está acontecendo nada mais é que uma provação divina, uma permissão divina de sofrimento ao justo para que, por meio desta tribulação, este Seu servo adquira paciência, experiência e esperança, tudo tendo em vista o seu crescimento espiritual (Rm.5:3,4).

 

– Não podemos agir como os ímpios, mas, diante de uma dificuldade ou adversidade, proceder a uma investigação, a uma apuração dos fatos, como nos dá a entender o verbo hebraico “darash”. É preciso que, ante um problema, paremos e nos examinemos, verifiquemos qual é a causa, a razão de estarmos a passar por isso. Se não for encontrado um caminho mau em nós, após esta sondagem profunda, não só empreendida por nós, mas que encontre, também, a ajuda do Espírito de Deus (cf. Sl.139:23,24), então saberemos que se trata de uma prova divina e, como tal, devemos suportá-la, sabendo que tudo o que se passar será para o nosso bem (Rm.8:28).

 

– Os “triunfalistas”, porém, trazem um outro conselho, verdadeiro conselho de ímpio (Sl.1:1), que deve ser evitado, que é o de “determinar”, “recusar”, “não aceitar” a dificuldade. Para tanto, como entendem que tudo o que sobrevier ao crente salvo será obra maligna, exigem que expulsemos o adversário e, “usando da fé”, repudiemos o maligno, usando a “autoridade” que tem o verdadeiro e genuíno crente. Tal situação somente valerá para as hipóteses em que se estiver diante de uma tentação, de uma obra maligna, quando, então, no nosso auto-exame, recorrendo ao Senhor, teremos o livramento COMO e QUANDO o Senhor assim o desejar. Se, no entanto, tratar-se de aplicação da “lei da ceifa”, como podemos resistir ao Senhor e à soberania da Sua Palavra? (II Cr.20:6; At.11:17) De igual modo, como lutar contra a provação que nos é posta pelo próprio Deus?

 

– “Enfrentar Deus”, “pôr Deus contra a parede”, como defendem os triunfalistas é um comportamento reprovável e absurdo. É a conduta que os ímpios, como nos mostra o Salmo 10, tomam, já que, “em sua presunção, o ímpio não O busca; não há lugar para Deus em nenhum dos seus planos.” (Sl.10:4 NVI). No entanto, como Deus é prioridade em nossos corações, como é Ele a nossa própria razão de viver, jamais poderemos agir como se não O levássemos em consideração. Todavia, é assim que os triunfalistas nos mandam agir, o que, não é preciso sequer dizermos, será a causa de nossa ruína, pois um tal proceder é pura rebelião, e, como sabemos, “…a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniqüidade e idolatria…” (I Sm.15:23 “in medio”). Que Deus nos guarde, pois, porque, como sabemos, os feiticeiros e os idólatras ficarão do lado de fora da cidade santa (cf. Ap.21:8; 22:15).

 

– Não fossem já estes conceitos que extraímos da Palavra do Senhor suficientes para demonstrar que a vida espiritual não significa, em absoluto, imunidade a dificuldades e adversidades ao longo da vida, o fato é que a Bíblia, também, nos dá muitos exemplos de homens e mulheres de Deus que, apesar de sua vida de comunhão com o Senhor, sofreram terrivelmente e não foram poupados de adversidades e de problemas na sua “vida debaixo do sol”.

 

– É até interessante observar que, na galeria dos chamados “heróis da fé”, ou seja, o capítulo 11 da epístola aos Hebreus, que é como que um “desfile triunfal” dos servos de Deus, uma demonstração de que vale a pena ter fé em Deus, o escritor, a despeito de considerá-los homens e mulheres dignos de nota, verdadeiras testemunhas do Senhor que animam os crentes de todas as gerações a ter uma vida de comunhão com Deus (cf. Hb.12:1-3), não deixa de mostrar que este heroísmo, este triunfo não representou qualquer isenção, por parte de Deus, de dificuldades ou de tribulações, muitas das quais sem sequer a reversão do quadro desfavorável quando o servo do Senhor ainda em vida se encontrava.

 

– Assim, a começar por Abel (um dos quais o quadro desfavorável não foi revertido, vez que, pela sua justiça, foi morto sem que tivesse sequer chance de “triunfar”), o escritor fala-nos de diversas personagens, os quais, como aduz ao término da exposição, “…experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados (dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra. E todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa” (Hb.11:36b-39). Onde, pois, a imunidade diante da adversidade de quem serve a Deus? Não eram todos estes “heróis da fé”? Não são todos estes “testemunhas” que servem de estímulo para nós? Por que, então, não “determinaram” e evitaram o mal sobre suas vidas? Temos, assim, a prova cabal de que a vida de comunhão com Deus jamais significou a impossibilidade de sofrer adversidades e problemas e, por vezes, até mesmo a morte sem que tivesse havido a suplantação da situação adversa.

 

– Diante de tão explícito texto, não demoram os triunfalistas em alegar que o escritor aos hebreus está a narrar a situação “antes da morte de Cristo”, quando o “mundo ainda estava legalmente nas mãos de Satanás”. Nada mais falso. Estes homens e mulheres mencionados pelo escritor aos hebreus são os “heróis da fé”, ou seja, embora tenham vivido antes da realização da redenção pelo Senhor Jesus, nela creram e, por causa desta fé, são também santos e se encontram num estado de salvação igual ao nosso. Quem o diz é o próprio escritor, na continuação do texto do capítulo 11, “in verbis”: “Provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados”. Como se percebe, tanto estes “heróis” quanto nós devemos ser “aperfeiçoados”, ou seja, gozamos da mesma condição espiritual.

 

– Mas os triunfalistas prosseguem, dizendo que o texto nos fala de “alguma coisa melhor a nosso respeito” e esta “coisa melhor” seria a imunidade às “obras do mal”. Na nova aliança, dizem eles, não há que termos o mesmo sofrimento dos patriarcas e dos profetas, pois existe “alguma coisa melhor”. Não resta dúvida de que o escritor aos hebreus nos diz que existe “alguma coisa melhor”. Aliás, esta “alguma coisa melhor” é, precisamente, a mensagem de todo o livro, pois podemos resumir a mensagem crística de Hebreus nas palavras “Jesus é melhor”.

 

– Esta “alguma coisa melhor” não é, para tristeza dos triunfalistas, a imunidade a provações ou dificuldades, mas o próprio Jesus. Como, na continuação do texto, mostra-nos o escritor da carta, os crentes, ao contrário dos “heróis da fé”, têm, além do testemunho dos próprios heróis, o exemplo de Jesus(Hb.12:2,3), que foi revelado à Igreja e que ainda não havia sido plenamente revelado aos santos do Antigo Testamento. Esta “alguma coisa melhor” é a possibilidade que temos de olhar para Jesus, que a nós foi revelado, algo que foi muito desejado, mas não alcançado por aqueles justos (Mt.13:17; Lc.10:24) e, diante deste olhar, nos mantermos firmes, apesar de todas as provações e dificuldades que venhamos a enfrentar. Provações e dificuldades? Sim, pois, também para tristeza dos triunfalistas, o escritor aos hebreus, ao falar do exemplo de Cristo, anima os crentes hebreus a resistir na fé apesar de todas as adversidades (Hb.12:4).

 

– Por fim, para provarmos que as dificuldades e as adversidades não são coisas que caracterizaram o Antigo Testamento, como defendem os triunfalistas, basta mencionarmos as aflições e sofrimentos dos apóstolos e demais discípulos na igreja primitiva, como o martírio de Estêvão e de Tiago, sem falar nas diversas adversidades do ministério de Paulo (II Co.11:23-27). A conclusão só pode ser, pois, uma: a Bíblia nunca ensinou que o crente não sofre por ter fé em Deus.

 

III – PRÁTICAS TRIUNFALISTAS A SEREM EVITADAS

 

– Como dissemos desde a lição anterior, a teologia da prosperidade e seu principal subproduto, que é o triunfalismo, tem infestado como erva daninha as igrejas evangélicas nestes últimos dias desta dispensação, gerando erros doutrinários, quando não apostasia, na medida em que desvia a atenção dos servos do Senhor do que é prioritário e relevante.

 

– O triunfalismo tem se instalado na vida de muitas igrejas locais e de muitas pessoas em função de muitos fatores, mas, notadamente, porque encontra um ambiente sócio-econômico-ideológico-espiritual favorável para a sua disseminação.

 

– As sociedades têm se interligado como nunca, com o aumento da tecnologia e da ciência, fazendo com que seja cada vez mais realidade o que se denominou de “aldeia global”, ou seja, todos têm acesso a muitas informações, como se todos vivessem numa pequena aldeia, onde todos conhecem a todos. Entretanto, estas sociedades são relacionadas por intermédio dos meios de comunicação, pela mídia, que, como se verifica em todo o mundo, está nas mãos de poucas pessoas que, se dominadas pelo espírito do anticristo, como são em sua grande e esmagadora maioria, disseminam os valores mundanos, fazendo imperar tudo aquilo que desagrada a Deus. O resultado é que, a cada dia que passa, o pecado se multiplica e, com ele, todas as mazelas, que tornam o ambiente social cada vez mais aviltante ao ser humano, cada vez mais hostil. A dura e triste realidade é, então, ardilosamente escamoteada, estereotipada, ou seja, passa-se a difundir uma imagem irreal, ilusória da realidade, de que é prova, nos nossos dias, o crescimento da indústria do entretenimento e das iniciativas para que as pessoas vivam um “mundo virtual”. Esta “fantasia” que é vendida aos homens é também estendida à área espiritual, de maneira que as pessoas também passam a ser presas de “fantasias”, “mágicas” e “ilusões” que se apresentam travestidas de Bíblia Sagrada e de Palavra de Deus.

 

– Não é difícil entender, pois, porque uma das principais marcas do triunfalismo seja a promoção de “campanhas”, expressão, aliás, que vem diretamente do “marketing”, área do conhecimento humano que se desenvolveu grandemente no século XX e que é, precisamente, a utilização da técnica da “fantasia” e da “ilusão” para se obter resultados concretos na realidade da disputa selvagem pela preferência das pessoas, reduzidas hoje a simples consumidoras de produtos e serviços que lhes são oferecidos.

 

OBS: Campanha, em “marketing”, é o “conjunto de mensagens e ações comunicacionais (anúncios, promoções, eventos etc.) com o objetivo de exaltar as qualidades de determinado produto comercial, para torná-lo vendável, ou para tornar mais conhecido e aceito o nome de alguém, a marca de uma empresa, um serviço, uma idéia, uma causa etc.”

 

– Não vemos como possamos denominar de “campanhas” a adoração a Deus e o culto que Lhe é devido. Jesus mandou-nos anunciar o Evangelho (Mc.16:15), ou seja, dizer ao mundo que Ele salva, cura, batiza com o Espírito Santo e nos leva para o céu, esta mensagem simples mas eficiente que, há cem anos, tem promovido o maior e mais longo avivamento que a Igreja experimentou em toda a sua história, a verdadeira “chuva serôdia” que antecederá a colheita dos salvos desta Terra, o que se dará no dia do arrebatamento, que está tão próximo.

 

– O anúncio do Evangelho é, em primeiro lugar, a pregação da Palavra (Mc.16:20), como vemos na igreja primitiva, em especial no livro de Atos dos Apóstolos. Ao se pregar a Palavra, o Senhor coopera conosco e confirma esta mesma Palavra com os sinais que se seguem. Todavia, os triunfalistas fogem da Palavra, porque ela não os sustenta, e têm trocado a Palavra por “campanhas”, ou seja, por estratégias e técnicas de comunicação que buscam emocionar o povo, persuadi-los a adotar comportamentos quase sempre vinculados ao consumo de produtos e de serviços. Como bem afirmou o sociólogo da religião, Flávio Pierucci, “…as religiões mais bem-sucedidas são aquelas que (…) passaram a oferecer serviços lábeis [ i.e., instáveis, que passam rapidamente, observação nossa], que na linguagem das ciências sociais da religião desde os clássicos (…) são definidos como vias de salvação mágicas ou mágico-místicas. Caracteriza tais serviços o fato de serem tópicos[i.e., externos, superficiais), não permanentes e de consumo imediato, o mais das vezes oferecidos em troca de pagamento.…”(Religião. Folha de São Paulo, caderno Mais!, 31 dez. 2000, p.20-1)

 

– A prática da “campanha” é, portanto, uma clara demonstração do que é e o que representa o triunfalismo. Ao se adotar uma estratégia voltada para o consumo de bens e de produtos, o triunfalismo revela sua postura materialista, seu intento de se aproveitar das dificuldades sociais da atualidade para arrecadação de fundos e de dinheiro. Em nome de uma “fantasiosa” imunidade contra o mal, os triunfalistas mostram-se, na verdade, como escravos do dinheiro, como os falsos mestres dos últimos dias que fariam dos crentes negócio por causa de sua avareza (II Pe.2:3). São verdadeiros “mercenários da fé”, que concebem a fé como “algo”, a saber, como “fonte de enriquecimento material”.

 

– Não encontramos na Bíblia qualquer “campanha” que tenha sido feita por Cristo ou por Seus discípulos. Tal prática era completamente desconhecida da Igreja, não porque estivéssemos na Antigüidade, mas porque não se trata de um procedimento que tenha guarida nas Escrituras. A oração e a apresentação de pedidos ao Senhor deve ser uma constante na vida da Igreja (I Ts.5:17), sendo, também, biblicamente prevista a reunião da igreja para pedidos especiais (At.12:5), mas nada disto se confunde com as “campanhas” que se têm difundido e propagado, cujo único intuito é “pôr Deus contra a parede”, “amarrar o diabo”, criar um clima emocional e sem qualquer espiritualidade, cuja principal intenção nada mais é senão a arrecadação de fundos e de numerário para os cofres de algumas organizações religiosas.

 

– Encontramos, então, o outro aspecto explorado pelos triunfalistas nestes dias tão difíceis: a crescente dificuldade econômico-financeira da população, diante da concentração de renda cada vez mais intensa provocada pela chamada “globalização”, que é a internacionalização de todo o processo econômico, prenúncio do surgimento de uma nova ordem mundial, em que o poder político estará acima dos países, que outro não será senão o governo do Anticristo.

 

– Como as pessoas passam a ter crescentes dificuldades econômicas, mas, ainda assim, não deixam de dar prioridade às coisas terrenas, às coisas desta vida, pois é esta a característica daqueles que não têm compromisso com Deus (cf. Mt.6:32a), torna-se uma mensagem agradável aos ouvidos do povo aquela que apregoa que o Evangelho traz prosperidade material e imunidade contra a pobreza e a doença. Muitos, então, vão atrás de Jesus não porque queiram ter vida eterna, mas apenas para obter estas vantagens, que, a cada dia que passa, o sistema econômico lhes vai negando. Querem não servir a Jesus, mas, sim, se servir de Jesus e é precisamente esta a mensagem do triunfalismo, a mensagem antropocêntrica da “teologia da prosperidade”.

 

– Estas pessoas, como diz o apóstolo Paulo, são as mais miseráveis criaturas humanas da face da Terra(I Co.15:19), porque, sabendo quem é Jesus e o que veio fazer neste mundo, querem apenas dEle se servir para terem bens e tesouros que nada lhes representará na eternidade. São pessoas que, infelizmente, não seguem a doutrina de Cristo que, tão explicitamente exposta no sermão do monte, nos manda ajuntar tesouros no céu e não na terra, pois onde estiver o nosso tesouro, ali estará o nosso coração (Mt.6:19-21).

 

– O triunfalismo é uma tentativa de justificação deste apego às coisas materiais por intermédio de uma roupagem evangélica, de uma aparência bíblica, mas um exame acurado das Escrituras desmente cabalmente o que é dito por estes homens enganadores. As multidões, impregnadas do amor ao dinheiro, raiz de toda a espécie de males (I Tm.6:10), são tão avarentas e desgraçadas quanto os “mercenários da fé”. Tanto um quanto o outro são idólatras, servem às riquezas e quem serve às riquezas, não serve a Deus (Mt.6:24).

 

– Neste passo, são, também, práticas triunfalistas condenáveis os “sacrifícios”, os “carnês” e toda e qualquer espécie de contribuição financeira que é dada com o intuito de estabelecer uma barganha com Deus. Muitos têm tratado os dízimos, as ofertas e demais contribuições como “investimentos”, como um “toma-lá-dá-cá”, como se Deus Se prendesse a gestos feitos pelos homens. Deus tem compromisso com a Sua Palavra e é evidente que há uma regra bíblica para as finanças da igreja local, mas nada disso é previsto nas Escrituras como um laço que obrigue Deus a enriquecer quem quer que seja. Tais práticas em nada diferem das “indulgências” do Romanismo, que são concebidas como perdão de pecados que a Igreja Romana pode dar em troca de obras meritórias feitas pelos fiéis, entre as quais a contribuição financeira para a organização religiosa. É triste ver que, quinhentos anos depois de Lutero, serem alguns “evangélicos” os maiores distribuidores de “indulgências” na atualidade. É a apostasia que caracteriza, sempre, os dias finais de uma dispensação na história da humanidade…

 

– A Bíblia diz que Deus ama a quem dá com alegria (II Co.9:7 “in fine”), não a quem dá com ganância. Se participarmos destas atitudes, destas práticas, estaremos não só ajudando a enriquecer pessoas inescrupulosas, como também selando a nossa própria condenação, pois, com este gesto, denunciaremos que, tanto quanto estes exploradores da fé, também amamos o dinheiro e, por causa deste amor, nos desviamos da fé, tornando-se idólatras, já que avarentos e gananciosos (Cl.3:5). Se tivermos uma verdadeira vida santa, contentar-nos-emos com o que temos (Hb.13:5) e, portanto, não seremos seduzidos pelas promessas de “enriquecimento súbito” trazidas pelos triunfalistas, que são descritos pelo apóstolo Pedro como “tendo o coração exercitado na avareza, filhos da maldição” (II Pe.2:14 “in fine”).

 

– Também aqui se insere outra prática triunfalista, qual seja, a “restituição”, idéia que ficou popularizada no cântico cujo refrão é ” Restitui…eu quero de volta o que é meu”. Esta prática é, também, uma fonte de dinheiro para muitos inescrupulosos que, através de “campanhas de restituição”, têm levado multidões a “exigir de Deus o que foi tomado, o que é meu” e, além de lhes causar a abominação do Senhor, ainda por cima acabam tomando o que havia ficado, por meio de ofertas e “sacrifícios”, habilmente solicitados nestas mesmas campanhas.

 

– Como bem afirmou o pastor e professor José Mathias Acácio, “…Vivemos pela graça. Graça foi, é e sempre será favor imerecido. TUDO o que recebemos das mãos de Deus é graça. Não temos direito a nada(…). O que é a graça, senão recebermos de Deus tudo aquilo que não merecemos, que não nos pertence e que nos é dado gratuitamente por Aquele que é Senhor de tudo e de todos? Quando eu acho que sou dono das minhas coisas e que tenho ‘direito’ sobre elas, automaticamente excluo o verdadeiro dono. Ninguém pode servir a dois senhores. Ou Deus é o dono de minha vida e, por conseqüência, dono de tudo o que me é dado, ou EU sou o dono de tudo e aí, sim, sirvo a mim mesmo, tendo direitos exclusivos sobre aquilo que é ‘meu’…” (Modismos evangélicos. Resumo escrito da aula inaugural do 2. trimestre de 2006 da Escola Bíblica Dominical, proferida na Assembléia de Deus do Belenzinho, São Paulo/SP em 1 abr. 2006, p.3-4)

 

– Não podemos compactuar com estas práticas de “restituição” e de tudo o que envolva esta idéia, pois ela é pura e simplesmente manifestação de rebelião contra Deus, porquanto ao acharmos que algo é “nosso”, que deve ser devolvido, estamos afirmando uma ilusória independência do homem em relação a Deus, exatamente o que fez o primeiro casal pecar e perder a comunhão com o Senhor. Ao invés de “querer de voltar o que é nosso”, devemos ter o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, que foi expresso pelo apóstolo Paulo numa das suas frases lapidares: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim.” (Gl.2:20).

 

IV – ORAÇÃO E LEITURA DA BÍBLIA – AS ARMAS EFICAZES CONTRA O TRIUNFALISMO

 

– No tópico anterior, vimos que o triunfalismo tem alcançado grande êxito por causa do ambiente sócio-econômico-ideológico-espiritual dominante nos nossos dias, mas, como deve ter se percebido, apenas enfocamos os fatores sociais e econômicos. Falta-nos, portanto, analisar o aspecto ideológico e o aspecto espiritual.

 

– Ao falarmos em aspecto “ideológico”, estamos a tratar de “ideologia”, que é, no significado que estamos a utilizar, o “sistema de idéias (crenças, tradições, princípios e mitos) interdependentes, sustentadas por um grupo social de qualquer natureza ou dimensão, as quais refletem, racionalizam e defendem os próprios interesses e compromissos institucionais, sejam estes morais, religiosos, políticos ou econômicos.” (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).

 

– Quando estudamos os dias atuais, no quarto trimestre de 2005, observamos que o nosso tempo é caracterizado por uma ideologia que não leva em conta a figura de Deus e que é centrada no homem, ele próprio considerado um “deus”. A religiosidade que ressurgiu com toda a sua força a partir da Segunda Guerra Mundial tem se caracterizado por uma busca do sobrenatural a partir da própria figura humana, o que explica o sucesso que as religiões orientais têm tido no Ocidente.

 

– Há, assim, uma “divinização” do ser humano, uma exaltação exagerada do homem, um “humanismo” que, com busca de uma sobrenaturalidade, procura se diferenciar do elogio que se fez ao homem logo depois da Idade Média, quando se entendia que a razão e, por extensão, a ciência resolveria todos os problemas da humanidade. Como o homem, ao invés de resolver seus problemas, criou outros mais, passou a culpar este fracasso pelo seu “materialismo”, passando, então, não a voltar-se para Deus, o que seria o certo, mas tão somente a buscar “dentro de si”, o “sobrenatural”, o “místico”, a “espiritualidade”, que seria o que lhe estaria a faltar para atingir uma “nova era”.

 

– Pois bem, é dentro deste contexto que se insere o triunfalismo. Ainda que com roupagem bíblica e evangélica, o triunfalismo deixa Deus de lado e passa a valorizar o crente. Já perceberam que o culto a Deus passou a ser uma exaltação do crente em vez de ser voltado para o Senhor? Já perceberam que os “louvores” que têm alcançado número recorde de vendas pouco falam de Deus e muito do crente, pouco falam da majestade divina e mais dos sentimentos “puros” e “profundos” que o crente tem ao se apresentar diante do Senhor?

 

– Uma prática triunfalista é, portanto, tornar o homem o centro do culto, o centro da adoração. Não Se adora a Deus, mas se busca, na “adoração”, sentir-se bem, aliviado, livre da tensão do dia-a-dia, o que, aliás, explica porque, normalmente, os triunfalistas recorrem às mesmas técnicas e estratégias de relaxamento mental que são usadas pelas “terapias alternativas” esotéricas e holísticas da Nova Era …

 

OBS: Já há pessoas que ensinam que não se deve orar sem que se tenha uma música suave ao fundo…

 

– Como resultado direto desta ideologia humanista, antropocêntrica, o triunfalismo menospreza, quando não critica abertamente, os dois pilares da vida devocional do cristão: a oração e a leitura da Bíblia Sagrada. Fazem, assim, o que as lideranças romanistas fizeram durante séculos na Idade Média.

 

– Quando o crente não está voltado para si, mas, sim, para o Senhor, ou seja, quando Deus é o centro da vida da pessoa, ela não consegue viver sem que esteja em constante comunicação com o seu Senhor e isto se dá seja pela oração, seja pela meditação constante das Escrituras. Crente que se volta para Deus precisa ouvi-lO falar e falar com Ele constantemente, ininterruptamente e é por isso que a Bíblia diz que devemos orar sem cessar(Ef.6:18 “in initio”, I Ts.5:17) e meditar na Sua Palavra de dia e de noite (Js.1:8; Sl.1:2).

 

– O crente que ora incessantemente, que tem uma vida de oração, não precisa participar de “campanhas”, nem é levado por elas, porque conhece a voz de seu Senhor e por Ele é conhecido (Jo.10:14), não se baseando, assim, em climas emocionais superficialmente criados, porque desfruta de uma intimidade com Deus (Mt.6:6). É um crente que não substitui a sua oração sincera e que vem do profundo de seu espírito, uma verdadeira oração no espírito (Ef.6:18), por “fórmulas de fé”, “correntes de oração”, “determinações”, “novenas”, “meditações”, “concentrações”, que nada mais são que nomes novos para as “vãs repetições” condenadas por Jesus e que já eram praticadas pelos gentios há séculos (Mt.6:7,8).

 

– Infelizmente, quando o crente não ora, nos momentos de dificuldade e de necessidade, tem a tendência de recorrer a estas “fórmulas mágicas”, a estes verdadeiros “mantras” e “rezas” dos triunfalistas, achando que, desta maneira, conseguirá o favor divino. É muito cômodo para o crente relapso, que não tem intimidade com Deus, usar destes subterfúgios para ter um “atalho” ao trono da graça, mas, como todos sabemos, se não for pelo caminho traçado por Deus, jamais conseguirá algo.

 

– Precisamos, nos dias em que vivemos, levar o povo de nossas igrejas locais à prática da oração. Falta oração nas igrejas, nós, mesmos, temos nos dedicado pouco à oração. Por isso, não temos visto tanto a presença de Deus em nossas reuniões e em nossas vidas, porque não pedimos e é necessário que peçamos para que o Senhor nos atenda (Mt.7:7; Lc.11:9; Jo.16:24).

 

– A oração não é uma fórmula mágica, um “abracadabra” que se dirige a Deus, como ensinam os triunfalistas, nem tampouco uma exigência de supostos “direitos” que tenhamos diante de Deus, mas uma expressão da nossa comunhão com Deus, uma troca de vivências e de experiências entre Deus e o homem, um contínuo aprender de Deus, uma continuada submissão da nossa vontade, a ser clara e explicitamente revelada e confessada ao Senhor, à vontade de Deus, que também no-la revelará em toda a Sua plenitude. O crente que ora é aquele que pode dizer como Jesus, “…tudo quanto ouvi de Meu Pai vos tenho feito conhecer” (Jo.15:15 “in fine”).

 

– Se levarmos o povo a orar, se nós mesmos orarmos incessantemente, ouviremos coisas grandiosas de Deus, aprenderemos muito dEle, saberemos como e o que pedir e não necessitaremos correr daqui para ali, nem dar dinheiro aqui e ali, para sentirmos a presença de Deus e para obtermos as bênçãos de Deus. As maravilhas, os sinais e as coisas extraordinárias que os triunfalistas nos lembram em suas pregações podem, sim, realizar-se nos nossos dias, mas dependem da mesma vida de oração que era mantida pelos homens de Deus que forma os instrumentos do Senhor. É necessário pagar o preço para sermos vasos para honra e santificação, pois nós somos filhos de Deus e não magos ou feiticeiros.

 

– Mas, além da vida de oração, temos de ter uma meditação constante das Escrituras, devemos manejar bem a palavra da verdade (II Tm.2:15). O desconhecimento da Palavra de Deus é a causa da destruição do povo (Os.4:6) e não é coincidência que os triunfalistas sejam, simultaneamente, os principais inimigos do estudo da Bíblia Sagrada na atualidade.

 

– Quando conhecemos as Escrituras, logo percebemos as sutilezas do adversário e, logicamente, os falsos mestres, que são agentes do inimigo, não querem que os desmascaremos. Quem estuda as Escrituras, quem se dedica a uma leitura metódica e devocional do texto sagrado não se deixa seduzir facilmente pelo triunfalismo.

 

– Os triunfalistas sempre dão a suas pregações egocêntricas e megalomaníacas uma roupagem bíblica. Assim, não faltam imagens e narrativas bíblicas para ilustrarem as suas “campanhas” e os seus “movimentos”. Um dia, é a “campanha da derrubada das muralhas de Jericó”; outro dia, o “jejum de Moisés”; depois, vem “os trezentos de Gedeão”, para não nos esquecermos dos “trinta valentes de Davi” e por aí afora. São, porém, verdadeiras “peles de ovelhas” que se colocam atrás destes movimentos que são “lobos cruéis”, prontos a devorar não só o bolso dos incautos (que é o que pretendem estes mercenários), mas, e isto é mais grave e o mais relevante, a própria fé e a alma dos que se decepcionarão com o não cumprimento destas promessas (que é o que pretende aquele que está por detrás destes movimentos).

 

– Como bem salienta o nosso comentarista, uma noção ainda que superficial das regras da chamada “hermenêutica”, ou seja, da ciência da interpretação da Bíblia, é suficiente para desbaratar e desmontar todas estas armadilhas criadas pelos triunfalistas e que têm enganado a muitos. O problema é que a grande maioria dos crentes não lê a Bíblia e os poucos que a lêem não têm a mesma prudência demonstrada no diálogo entre Filipe e o eunuco (At.8:26-40). Ali, verifica-se que, de um lado, o evangelista Filipe tinha a preocupação não só de anunciar a Palavra de Deus, mas de fazê-la entendida por quem a ouvisse, enquanto que, de outro lado, o eunuco também era um leitor atento, alguém que, além de querer ler, queria entender o que estava lendo e estava disposto a ouvir a explicação a respeito do que está escrito.

 

– Meditar na Palavra de Deus, envolve, portanto, dois pontos: a leitura e o entendimento. Ora, a leitura só caminha até o entendimento se houver a explicação. Foi, por isso, que os apóstolos se dedicaram, com prioridade, ao ministério da palavra (At.6:2,4) e que Jesus constituiu mestres para o aperfeiçoamento dos santos (Ef.4:11,12). Somente se cada crente for ensinado convenientemente na Palavra, de modo a ter uma vida devocional diária de meditação nas Escrituras, como também motivado a participar das reuniões de ensino da igreja local, que devem ser prestigiadas e valorizadas pelo ministério, é que poderemos escapar da armadilha do triunfalismo, como, de resto, de toda e qualquer falsa doutrina.

 

– Não é nosso propósito aqui fazermos um curso de hermenêutica, mas, a grosso modo, podemos alinhavar algumas regras que devem orientar a leitura da Bíblia Sagrada e cuja aplicação, de pronto, elimina toda a “força” da aparência bíblica da mensagem triunfalista. Para tanto, valemo-nos aqui do artigo “Hermenêutica”, de Natanael Nogueira de Sousa e Kleber Paulo de Santana, que se encontra em http://sites.uol.com.br/revistadominical/Estudo/hermeneutica.htm”>http://sites.uol.com.br/revistadominical/Estudo/hermeneutica.htm (acesso em 27 abr. 2006).

 

– A primeira regra é a melhor intérprete para a Bíblia é a própria Bíblia, ou seja, a Bíblia explica a si mesma. Sempre que encontrarmos um determinado pensamento ou conceito num determinado texto bíblico, devemos confrontá-lo com a própria Bíblia, a fim de que não sejamos induzidos a erro. É por isso que um texto isolado, solitário JAMAIS poderá dar base uma doutrina bíblica.

 

– A segunda regra é o que diz que “É preciso, o quanto seja possível, tomar as palavras em seu sentido usual e comum”, ou seja, devemos sempre entender o texto com o significado imediato que ele se nos dá. É muito perigoso querermos sempre ver o texto como um “símbolo”, uma “figura”, uma “alegoria”. Verdade é que boa parte da Bíblia Sagrada é composta de textos que contêm figuras, símbolos, tipos e alegorias, mas, num primeiro instante, devemos sempre considerar o texto assim como ele está escrito, sem elucubrações. Precisamos ler a Bíblia para saber O QUE ela contém, não para enxergamos o que PENSAMOS que ela tem.

 

Exemplo: Em Mt.12:46, é dito que pretendiam falar com Jesus Sua mãe e Seus irmãos. Ora, a palavra “irmãos” deve ser entendida em seu sentido usual, ou seja, pessoas que têm os mesmos pai e/ou mãe, não havendo motivo algum para ser entendido que esta palavra tenha outro significado.

 

OBS: O grande filósofo e teólogo Erasmo (autor do “Textus Receptus”, que é a versão das Escrituras que serviu de base para a maioria das versões protestantes da Bíblia, inclusive para a Versão de João Ferreira de Almeida) (1467-1536) costumava afirmar que deveríamos agir como Isaque, que removeu as pedras que haviam sido postas para tapar os poços abertos por seu pai Abraão por parte dos filisteus. De igual modo, os crentes devem procurar a água, que é a Palavra de Deus, retirando das suas mentes todos os conceitos e idéias que tenham antes de ler o texto sagrado (os “pré-conceitos”), pois podem ser idéias e conceitos que foram colocados pelo inimigo, assim como os filisteus eram inimigos do povo de Deus.

 

– A terceira regra, que é decorrência da segunda, diz que “É de todo necessário tomar as palavras no sentido que indica o conjunto da frase.”Além de verificarmos o significado da palavra, tomada ela isoladamente, é fundamental que verifiquemos este significado no conjunto, pois cada palavra tem diversos significados (que o digam os dicionários), mas somente um ou alguns são apropriados num determinado conjunto de palavras.

 

Exemplo: Ainda em Mt.12:46, quando verificamos a palavra “irmãos”, vemos que ela se encontra num contexto de indicação de parentesco, já que, na mesma oração, temos a palavra “mãe”. Por isso, embora “irmão” tenha, também, o significado de “discípulo”, de “quem compartilha da mesma fé” (como se vê em I Co.15:58), não é este o significado aqui, porque o conjunto das palavras nos leva à constatação de que se trata de parentesco.

 

– A quarta regra diz-nos que “É necessário tomar as palavras no sentido indicado no contexto, a saber, os versículos que estão antes e os que estão depois do texto que se está estudando,” ou, em outras palavras, estudar o “texto no contexto”. Quando vemos alguém ler um livro qualquer, nunca aceitamos que ele leia o pedaço de uma página e, depois, nos diga que já entendeu toda a história do livro. Por que, então, aceitamos que isto se faça com a Bíblia Sagrada, que é a Palavra de Deus? Esta é a principal distorção causada pelos triunfalistas. Eles retiram o texto do contexto e criam um “pretexto”, ou seja, “motivo que se declara para encobrir a verdadeira razão de algo”, que é, precisamente, o que procuram para fazer a sua “arrecadação de fundos”.

 

Exemplo: Costuma-se dizer que “diante de Deus até a tristeza salta de prazer” (aliás, ensino muito repetido pelos triunfalistas) e, para tanto, se usa como base Jó 41:22b. Entretanto, quando vamos ao texto, verificamos que este versículo se encontra inserido num capítulo em que Deus faz uma série de interrogações a Jó e, mais, que, neste capítulo, Deus está a fazer uma comparação entre o leviatã e o homem. Portanto, este “ele” do versículo 22 é o leviatã e não, Deus.

 

– A quinta regra diz-nos que “É preciso levar em consideração o objetivo ou desígnio do livro ou passagem em que ocorrem as palavras ou expressões obscuras.” Não basta termos conhecimento do significado das palavras, seja isoladamente, seja em conjunto. É preciso, também, sabermos qual é o propósito do texto, ou seja, se o escritor quis narrar uma história, se está a expressar a sua sensibilidade (poesia) ou, ainda, se está a descrever uma visão, um sonho ou, ainda, se está a explicar ou a ensinar algo. Sem termos noção deste propósito do livro ou do texto, nunca encontraremos o seu real significado.

 

Exemplo: No Sl.23, sabemos que o salmista não diz que os crentes são animais que vão ser postos num pasto literal, mas, diante do propósito poético do texto, sabemos que a consideração do crente como uma ovelha é uma alegoria, é uma figura para nos explicar o relacionamento que Deus tem para com o homem.

 

– A sexta regra ensina-nos que “É necessário consultar as passagens paralelas, “explicando cousas espirituais pelas espirituais” (I Cor. 2.13). Como já vimos, a Bíblia explica-se a si própria, de forma que sempre há passagens que se relacionam, que tratam de mesmos temas, assuntos, que contêm os mesmos ensinos. Daí a importância das referências bíblicas que sempre aparecem à margem ou no rodapé das bíblias.

 

Exemplo: Em Gl.6:15, é dito que o que importa é ser “uma nova criatura”. Mas o que é “nova criatura”? O texto de II Co.5:17 explica-nos que “nova criatura” é “alguém que está em Cristo”. Mas, o que é “estar em Cristo”? O texto de Jo.15:1-8, por sua vez, mostra-nos que “estar em Cristo” é “ser discípulo de Cristo”. Por fim, para ser discípulo de Cristo, vemos, em Jo.3 e em Mt.16:24, é necessário nascer de novo, renunciar a si mesmo e seguir a Jesus.

 

– Com estas regras básicas, muito do que é apregoado pelos triunfalistas é desfeito e destruído, pois simplesmente não se sustenta. Por que haveremos de passar por uma “corrente de trezentos servos de Deus” para obter uma bênção? A simples leitura do texto em que se fala dos trezentos homens de Gedeão é suficiente para nos mostrar quais os ensinos bíblicos que se fazem a respeito e que nada têm que ver com “correntes” ou coisa parecida. Também uma simples leitura do texto bíblico nos desencoraja a participar de qualquer campanha para retirar a “amargura da vida” mediante a “entrega de ervas amargas”. Quem lê e entende a Bíblia, porque busca sua explicação na própria Bíblia, no Espírito Santo e nos mestres constituídos pelo Senhor na igreja local, terá a mesma vitória sobre estes enganos como teve Nosso Senhor quando enfrentou o inimigo no deserto da Judéia. Caro(a) professor(a) e aluno(a) da Escola Bíblica Dominical, tens entendido o que lês? (se é que lês?).

 

Autor: Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco.

fevereiro 19, 2008 at 12:06 pm Deixe um comentário

Cair no espírito

 

Irmãos… aprendais a não ir além do que está escrito!(Apóstolo Paulo aos Coríntios)

O “cair no espírito” é um dos mais famosos e proliferados modismos na igreja evangélica. Em várias reuniões e cultos, pessoas caem após sopros, empurrões e jogadas de paletós de pregadores sensacionalistas. Hoje, inúmeros crentes estão em busca desse novo e conhecido movimento. Mas onde começou essa onda? Quais os termos que o descreve? Esse fenômeno faz parte do pentecostalismo? O cair no espírito tem apoio escriturístico e histórico?

Divulgação do “cair no espírito”.

No ano de 1994, na Toronto Airport Chiristian Fellowship (Comunhão da Videira do Aeroporto de Toronto), o fenômeno do cair no espírito começou a ser divulgado por meio de um conferência ministrada pelo pastor Randy Clark, convidado do pastor John Arnott e da pastora Carol Arnott, dirigentes da igreja em Toronto. Antes, os Arnott já tinham conhecido esse fenômeno por meio do evangelista neopentecostal Benny Hinn, que já praticava o “cair no espírito” em suas reuniões[1]. Benny Hinn aprendeu essas manifestação exóticas por meio do ministério de Kathryn Kuhlman, uma famosa “evangelista” norte-americana que morreu em 1976, onde em sua reuniões, dezenas de pessoas caiam ao mesmo tempo mediante sua oração.

Classificações do fenômeno na teologia pentecostal.

Na teologia pentecostal, o modismo de “cair no espírito” é classificado como “pentecostalismo manikos”, que segundo Joseph L. Castleberry – Deão acadêmico do Seminário Teológico das Assembléias de Deus em Springfield, Missouri (EUA)- é uma “adoração caracterizada por manifestações maníacas que distorcem e abusam dos dons espirituais”[2]. O hermeneuta Esdras Costa Bentho, pastor de confissão pentecostal, lembra outro termo que pode descrever manifestações excêntricas: a carismania. Carismania é mistura de carismata (dons) e manikos (manifestações exóticas). Bentho comenta:

Não é sem razão que manifestações pseudo-pneumáticas (espiritualmente falsas), que geralmente são gerenciadas por “figurões” do pentecostalismo, são chamadas de “carismania”- uma mistura de charismata com manikos.[3]

Esses fenômenos neopentecostais, são também conhecidos como “Bênção de Toronto”, devido a divulgação dessas práticas pela igreja da Videira localiza em Toronto- Canadá, como acima descrito. Alguns apologistas (a maioria pentecostais) preferem chamar, de forma irônica, o “cair no espírito” de movimento “cai-cai”.

Posição dos neopentecostais em relação ao fenômeno.

Apesar de vários nomes ligados ao “cair no espírito”, com Kathryn Kuhlman, Benny Hinn, Kenneth Hagin, Charles Hunter, foi a igreja de Toronto por meio do pastor John Arnott, que espalhou o fenômeno do “cair no espírito” para o mundo inteiro, como um grande avivamento do Espírito Santo. Hoje, esse modismo é amplamente aceito na maioria da denominações neopentecostais, com exceção da Igreja Universal do Reino de Deus[4] e da Igreja Internacional da Graça de Deus[5]. Muitas paróquias que pertencem a RCC (Renovação Católica Carismática) praticam o “cair no espírito”, que entre os católicos carismáticos é denominado de “repouso no espírito”.

Posição dos Pentecostais Clássicos em relação ao fenômeno.

Algumas igrejas ou instituições relacionadas a denominações pentecostais incentivam a prática do cair no espírito. Todavia, a Assembléia de Deus, por meio da CGADB (Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil) é contra o “cair no espírito”. Na oitava ELAD, que é um encontro de pastores assembleianos ligados a CGADB, na cidade de Porto-Seguro- BA, em outubro de 2002, foi reafirmado a posição contrária da Assembléia de Deus em relação aos modismos neopentecostais[6]. No relatório da ELAD, está escrito:

Sob o esfuziante tema “Não extingais o Espírito” o 8° ELAD trouxe a tona os fenômenos promovidos pelos movimentos neo-pentecostais como: “cair no Espírito”, “sopro do Espírito”, “benção de Toronto”, “dançar no Espírito”, “dentes de ouro” e outras enxurradas de práticas inovadoras que andavam perturbando o seio da igreja. Nas palestras ministradas pelos pastores José Wellington Bezerra da Costa, Antonio Gilberto, Elienai Cabral e Elinaldo Renovato de Lima, os mais de 700 pastores e evangelistas inscritos no encontro, puderam constatar que a Bíblia não oferece nenhum respaldo para tais acontecimentos e reafirmaram que o autêntico mover do Espírito é aquele que traz avivamento espiritual, batismo no Espírito Santo e transformação na vida do homem.

Por meios dos periódicos oficias, a Assembléia de Deus tem se colocado contra essas práticas. Exemplo disso é o Jornal Mensageiro da Paz, que na edição de Setembro de 2007, trouxe uma matéria de capa sobre o pastor Paul Gowdy, um ex-líder da igreja em Toronto, que hoje revela a farsa do movimento. Vários teólogos assembleianos e pentecostais se posicionaram contra o “cair no espírito”. O renomado pastor assembleiano Antonio Gilberto comenta de forma crítica:

Cair no Espírito” é cair e ficar inconsciente; cair não subjetivamente; cair à toda hora; cair em grupos; cair por manipulação de alguém esperto, e ainda mais citando textos bíblicos truncados [7]. E continua: Nas reuniões de “riso no Espírito” há pouco ou nada de leitura bíblica, de pregação e ensino da Palavra de Deus. Durante essas reuniões, eles proferem repetidamente frases como: -Não tente usar sua mente para entender isso, Não ore agora; beba! Receba! Receba um pouco mais. Ora tudo isso é contrário aos ensinos da Palavra de Deus, pois a fé abrange a mente.[8]

O teólogo pentecostal Claudionor Corrêa de Andrade escrevendo sobre o “cair no espírito”, cita exemplo de Gunnar Vingren, um dos fundadores das Assembléias de Deus no Brasil, que viajou em 1923 de Belém do Pará até Santa Catarina para combater o que hoje é conhecido com “Bênção de Toronto”, e Andrade comenta:

Embora fervoroso pentecostal, Gunnar Vingren não se deixou embair pelo emocionalismo nem pelas aparências. Ele sabia que nem tudo o que é místico, é espiritual; pode brilhar, mas não é avivamento. O misticismo manifesta-se também em rebeldias e mentiras. Haja vista as seitas proféticas e messiânicas.[9]

O Dr. Paulo Romeiro, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pastor de uma igreja pentecostal em São Paulo, lembra do equilíbrio em relação ao assunto, mas sem deixar de destacar as mazelas que fenômeno tem trazido ao evangelicalismo, ele diz:

Reconheço que Deus tem poder para tocar alguém hoje de tal forma que a pessoa venha a cair. De modo algum sou contra a verdadeira manifestação do poder de Deus. Esta não me preocupa nem um pouco, pois quanto mais, melhor. O que realmente me preocupa são os abusos gerados em torno de tal prática. Estes trazem mais transtornos e divisões para o Corpo de Cristo do que edificação espiritual.[10]

José Gonçalves, pastor da Assembléia de Deus no Piauí, escrevendo sobre fenômenos neopentecostais, lembra do perigo do sensacionalismo e pauta o assunto pelo equilíbrio. Em artigo, escreveu sobre a possibilidade de alguém cair sob influência divina assim como nos avivamentos do Século 19, mas reconhece os atuais exageros sobre o fenômeno. Gonçalves escreve:

Há o perigo dos “pneumatismos” que conduzem à anarquia espiritual. Na gênese das seitas que dizem ser criação do Espírito de Deus, encontra-se com abundância as mais insidiosas aberrações teológicas. Esse é um problema que não pode ser simplesmente ignorado por se desejar preservar um evangelicalismo ou um suposto avivamento. [11]

Outra observação importante de um teólogo pentecostal, é o que está descrito no Dicionário do Movimento Pentecostal, em relação ao “cair no espírito”. Isael de Araújo escreve:

A comprovação para o fenômeno está inconclusiva. Do ponto de vista experimental, é inquestionável que, ao longos dos séculos, crentes venham experimentando fenômenos psicofísicos nos quais caem no chão. Além disso, eles sempre atribuem a experiência a Deus. É igualmente inquestionável que não existe nenhuma prova bíblica para a experiência como norma para a vida cristã. [12]

Bases bíblicas e evidência histórica.

Fica bem claro, que a posição oficial dos pentecostais clássicos, é que não se deve ir além do que está escrito, como bem recomendou o apóstolo Paulo(I Co 4.6) . A Bíblia menciona nove dons espirituais (carismata pneumatikos), mas não cita o cair no espírito como evidência da plenitude do Espírito Santo. Não há nenhum texto não escrituras que dê espaço para essas manifestações. Muitos neopentecostais insistem que há base bíblica e história para as suas atuais práticas de jogar paletó nas pessoas e essas caírem ou soprar sobre um publico e esses serem cheios do Espírito.

Para muitos neopentecostais, os textos em que personagens bíblicos caem prostrados, como Gn 15.12; I Sm 19; II Cr 5.13,14; Dn 8.17; Mt 2.11; Mt 28.4; At 10.10 e Ap 1.7 são evidências do atual cair no espírito. Ora, nenhum desses personagens bíblicos caíram por ter recebido poder ou algum vigor espiritual, mas antes caíram diante de um estado de reverência ou medo. Eles caíram diante de serem angelicais e com o rosto em terra, não para trás como acontece hoje. Esses versículos nada provam! São textos fora de um contexto, gerando pretextos. Um texto que esses “apologistas” não citam é João 20.22, onde Jesus sopra sobre os apóstolos e disse: “Receberei o Espírito Santo”, mas ninguém caiu! Muito bem leciona o pastor pentecostal Ciro Zibordi:

Os que defendem a “queda no poder” ignoram os fatos de que o culto a Deus é racional (Rm 12.1) e de que o espírito do profeta está sujeito ao profeta (I Co 14.32). Isso significa que, por mais que sintamos a presença do Senhor, em um culto, devemos ser prudentes quantos às reações. Devemos ser meninos apenas na malícia, e adultos no entendimento (I Co 14.20)[13].

Não há evidência bíblicas, mas há evidências históricas? O pastor neopentecostal Marco Feliciano diz que sim, pois no seu livro Chamada de Fogo, Feliciano cita que várias pessoas caiam nas reuniões de D. L. Moddy, Charles Finney e John Wesley. Isso é verdade, mas as pessoas que caiam nas reuniões de Finney, Edwards, Spurgeon, Moddy, Wesley e outros, caiam de maneira diferente ao que acontece hoje. Hoje as pessoas caem por receber alguma coisa, no tempo dos grandes avivalistas as pessoas caiam por convicção de pecado. Hoje as pessoas caem após mensagens de auto-ajuda e triunfalismo, no tempo dos avivalistas as pessoas caiam mediante mensagens como “Pecadores na mão de um Deus irado”. Hoje as pessoas caem após empurrões ou por causa de paletós de pregadores sensacionalistas, no tempo dos avivalistas os que caiam não caíram por causa de gerenciamento, provocações e manipulações de pastores. Hoje os pregadores propagam o cair, no tempo dos avivalistas os grandes homens de fé procuravam desencorajar essas manifestações. Hoje as pessoas tornam o cair um espetáculo, no tempo dos avivalistas esses fenômenos não eram casos de exibicionismos.

O teólogo Erwin Lutzer lembra outra diferença:

Os superapóstolos de hoje afirmam fazer em questão de minutos o que pregadores mais antigos nos dizem que apenas pode ocorrer por quebrantamento diário e submissão a Deus, em geral por sofrimento. Atualmente, nos dizem que só podemos ter poder sendo tocados por um apóstolo supercheio de unção. Eles têm poder próprio.[14]

Portanto, o atual movimento de “cair no espírito” e fenômenos relacionados como: “riso santo”, “dança do Espírito”, “aviãozinho”, “unção da lagartixa”, “reteté de Jeová” etc, não apresentam nenhuma evidência bíblica e chegam a ferir vários princípios bíblicos, como o culto racional, decente e com ordem (Rm 12.1, I Co 14.40).

Conclusão:

Qual é a causa para tanto sucesso de fenômenos excêntricos, extravagantes, exóticos, anti-bíblicos, irracionais, no evangelicalismo?

01. A busca pela espiritualidade superficial. Hoje a dedicação de tempo à oração, meditação bíblica e comunhão entre irmãos é cada vez mais raro no meio evangélico, então a busca por soluções espirituais mais rápidas e instantâneas são frequentes nos cultos.

02. Desequilíbrios eclesiásticos. Como é difícil ser equilibrado no meio evangélico, pois muitos em busca de uma “cristianismo racional”, buscaram um racionalismo cético, naturalista e anti-bíblico denominado de liberalismo teológico. Em contrapartida, outro extremo se levantou, que é a busca por um “cristianismo emocional”, onde o emocionalismo contamina as mentes que pararam de pensar e refletir na Palavra de Deus.

03. Pragmatismo e empirismo evangélico. Um legião de pessoas buscam aquilo que é prático e experimental, sendo presas fáceis de pregadores sensacionalistas, que buscam produzir shows em lugar de cultos. O espetáculos dos anfiteatros tomam conta dos púlpitos que deveriam ser destinados à Palavra.

04. Falta da consciência na suficiência da Palavra. Ir além do que está escrito é a grande moda dos evangélicos contemporâneos, sendo que a Bíblia deixa de ser a regra de fé e prática das liturgias e manifestações espirituais. Já não é suficiente os dons espirituais descritos em diversos textos das Sagradas Escrituras? Para que buscar mais coisas que fogem da Palavra?

Notas e Referências Bibliográficas:

1- Benny Hinn, em 1992, veio ao Brasil em um congresso da ADHONEP (Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno), onde “derrubou” muita gente!

2- CASTLEBERRY, Joseph L. Pós-Pentecostalismo: Estranha moda tenta apagar as manifestações espirituais na igreja. Revista Manual do Obreiro. Rio de Janeiro: CPAD, Ano 27, n° 32, 2005.

3- BENTHO, Esdras Costa. A Bíblia tem a resposta: Há respaldo para “cair no poder”? In Mensageiro da Paz. Rio de Janeiro: CPAD, Ano 76, n° 1458, Novembro de 2006, p. 17.

4- Edir Macedo, pontífice máximo da IURD, é contra o modismo de “cair no espírito”. Na IURD, dificilmente um membro será incentivado a exercer os dons espirituais, consequentemente, os exageros relacionados aos dons são ausentes. Mas a IURD não escapa de uma demostração exótica de experiências, aja vista a prática de exorcismos, que é um verdadeiro espetáculo!

5- R.R. Soares, apesar de ter sua teologia moldada por Kenneth Hagin, é contra o “cair no espírito” e disse no Jornal Show da Fé, que quem cai são “os endemoninhados”.

6- Alguns estudiosos preferem chamar as igrejas praticantes desses modismos de “ultra-pentecostais”.

7- GILBERTO, Antonio. Desvios da Doutrina Bíblica. in Revista Ensinador Cristão. Rio de Janeiro: CPAD, Ano 7, n° 28, p. 19.

8- Idem, n° 29, p. 20.

9- ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Fundamentos Bíblicos de um Autêntico Avivamento. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p. 142.

10- ROMEIRO, Paulo. Evangélicos em Crise. 4. ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1999, p. 77.

11- GONÇALVES, José. Espiritualidade, Avivamento e Equilíbrio. Revista Manual do Obreiro. Rio de Janeiro: CPAD, ano 27, n° 29, Janeiro-Março, p. 40-45.

12- ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p. 616.

13- ZIBORDI, Ciro Sanches. Evangelhos que Paulo Jamais Pregaria. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 34.

14- LUTZER, Erwin W. Quem é Você Para Julgar? 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 104.

 

Autor do Texto: Gutierres Fernandes Siqueira

Vídeo: YouTube.com

fevereiro 14, 2008 at 11:40 am 8 comentários

Cuidado com os animadores de auditório!

benny_hinn_nairobi.jpgO artigo em apreço não tem por objetivo traçar perfil de algum pregador famoso, mas sim alertar contra os mercenários vestidos de ovelhas que andam em nosso derredor. Que possamos tomar o cuidado de que os nossos nomes não estejam no rol de membros do conselho de animadores de auditório! É tempo de tomarmos posição, pois daqui a pouco não acharemos quem pregue a Palavra, mas sobrarão aqueles que buscam entretenimento para o povo.

Como identificar um animador de auditório? Abaixo estão algumas características nada virtuosas desses pregoeiros do triunfalismo utópico.

01. Os animadores de auditório amam a popularidade. Ter nomes em camisetas, em placas de denominações, ser cogitado por várias igrejas e ter agenda impossível de ser cumprida, eis o sonho de todo animador de auditório. Querem popularidade, fama, glória! Para isso foi chamado o pregador do evangelho? Esse deve ser o objetivo daqueles que dizem seguir o humilde Nazareno? Fama e muitos seguidores é sinal de aprovação divina? É claro que não!

Alguém logo argumenta:- Ora, Jesus foi um homem popular em sua época! Mas é bom lembrar que Jesus não buscava popularidade, ele buscava almas! Jesus, mediante muitos de seus milagres dizia ao beneficiado que não contasse nada a ninguém. Quem foi o único homem digno de glória senão Jesus, mas ele “aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens” (Fp 2.7). Quis o manso Filho do Homem nos dar o exemplo!

Apesar da grande popularidade de Cristo, nos seus momentos de explosão de milagres, ele amargou o desprezo dos amigos e discípulos durante o caminho do Gólgota. Como bem havia profetizado o profeta messiânico: “Era desprezado e o mais indigno entre os homens, homem de dores, experimentado nos trabalhos e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum” (Is 53.3).

02. Os animadores de auditório são usuários do marketing pessoal. Certo dia vi um cartaz na igreja em que estava: “Pregador Fulano de Tal, Conferencista, em suas reuniões acontece batismos no Espírito Santo, curas divina, libertações, bênçãos, mas tudo pelo poder de Deus”! Seria cômico se não fosse trágico, pois usa de uma falsa modéstia para falar que todas essas bênçãos, promotoras do seu marketing pessoal, que acontecem simplesmente pelo poder de Deus. É claro que um cartaz bem elaborado como esse, serve para fazer promoção de alguém que quer evidência. Podemos fazer propaganda de milagres? Tornar o poder de Deus algo sujeito a nossa manipulação? Determinar o dia em que um milagre vai acontecer? Isso é o dom da fé ou o mercantilismo da fé?

O animador de auditório fala muito de si mesmo, diz ele: “Eu fiz isso, eu fiz aquilo; no meu ministério acontece isso, acontece aquilo; aqui eu faço e acontece”. Sempre há muita arrogância e busca de auto-promoção. Esse animador é sempre o grande ungido que não pode ser contestado.

03. Os animadores de auditório desprezam a pregação expositiva. Pregar sobre uma passagem bíblica de maneira profunda, bem estudada e pesquisada, além de levar os ouvintes a reflexão. Eis algo que os animadores de auditório abominam! Dizem logo que não precisam de esboços, pois o Espírito Santo revela. Ora, o Espírito Santo é limitado em expressar a sua vontade por meio de um esboço? O que esses animadores não querem admitir é que a pregação expositiva impede o seus teatrinhos, pois a centralidade é em torno da Palavra. Além disso, um sermão expositivo exige tempo e bom preparo, algo descabido na era dos descartáveis e das comidas-rápidas. Bem cantou o salmista: “A exposição das tuas palavras dá luz e dá entendimento aos símplices”(Sl 119.130).

04. Os animadores de auditório desprezam o ensino e o estudo da Palavra. Como pode alguém dizer que foi chamado para o ministério pastoral se não tem apreço para o ensino. Pastor não foi chamado para cantar, construir templos, fazer campanhas sociais, tudo isso é bom, mas a principal missão do pastor é ensinar o seu rebanho. Já dizia o apóstolo Paulo ao jovem pastor Timóteo: “seja apto para ensinar”(I Tm 3.2). O ensino exige aprendizado. Aquele que ensina deve-se dedicar ao ensino (Rm 12.7). Escreveu o professor James I. Packer:

Despreze o estudo de Deus e você estará sentenciando a si mesmo a passar a vida aos tropeções, como um cego, como se não tivesse nenhum senso de direção e não entendesse aquilo que o rodeia. Deste modo poderá desperdiçar sua vida e perder a alma.[1]

Os animadores de auditório não suportam sermões de conteúdo, pois eles querem é entretenimento. São como crianças que deveria ficar na escola, mas pulam o muro para jogar bola. O pregador não pode fugir da responsabilidade de trazer conteúdo bíblico aos seus ouvintes, como disse Paulo: “Pregues a Palavra, instes a tempo e fora de tempo. Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (II Tm 4.2, 15).

05. Os animadores de auditório desprezam temas relevantes em suas pregações. Você já foi em um grande congresso, onde esses animadores de auditório comparecem, cujo tema era “O fruto do Espírito” ou “A Santíssima Trindade”? Mas certamente você já foi em eventos que os verbos mais conjugados foram: receber, vencer, poder, ganhar, conquistar, sonhar, triunfar etc?! Infelizmente os temas essenciais da Bíblia são desprezados nos púlpitos. Onde estão aquelas pregações sobre o “caráter cristão”, “a graça de Deus”, “o céu e inferno”, “a justificação pela fé”, “a mortificação da carne”, “o preparo para um encontro com Deus” etc? Logos os animadores dizem: “Isso é tema para Escola Dominical”, mas eles nunca vão a Escola Bíblica Dominical! E quem disse que pregação não deve conter o temas essenciais da fé cristã?

Para pregar os temas relevantes da fé cristã é preciso manejar bem a Palavra da Verdade e ser como Apolo, “varão eloquente e poderoso nas Escrituras” (Atos 18.24). Mas não basta somente boa oratória, eloquência e experiência em homilias, é necessário acima de tudo dominar as Escrituras, ser “instruído no caminho do Senhor” e ser “fervoroso de espírito”, sendo assim, o pregador vai falar e ensinar com diligência “as coisas do Senhor”(Atos 18.25), assim como Apolo.

John Stott escreveu:

O arauto cristão sabe que está tratando de assunto de vida ou morte. Anuncia a situação do pecador sob os olhos de Deus, e a ação salvadora de Deus, através da morte e ressurreição de Cristo, e o convida ao arrependimento e à fé. Como poderia tratar tais temas com fria indiferença?[2]

A partir do momento em que os pregadores esquecem o tema principal do evangelho, eles desprezam o próprio Senhor da Palavra. Quando desprezam o verdadeiro Deus passam a adorar o falso deus da teologia da prosperidade: Mamon! Isso acontece quando as doutrinas centrais do cristianismo são desprezadas.

06. Os animadores de auditório despertam o emocionalismo. O emocionalismo é ser guiado e orientado pelas emoções. A emoção é parte importante do culto cristão, pois nós, os seres humanos, somos emocionais e também racionais; o grande problema é que os animadores valorizam excessivamente a emoção em detrimento da razão. Os animadores chegam a afirmar que as pessoas não precisam compreender aquilo que acontece em suas reuniões ou dizem para que os cultuantes não usem a mente. Outros, mais ousados, ameaçam sua platéia dizendo que Deus condena os incrédulos, com se ter senso crítico fosse incredulidade. A Bíblia adverte contra a credulidade cega, que não analisa e vê, baseado nas Escrituras, aquilo que está engolindo (I Jo 4.1). Os animadores de auditório não gostam de uma platéia que pense!

07. Os animadores de auditório pregam um deus mercantilista. Para os animadores Deus é obrigado a agradar os seus bons meninos dizimistas e ofertantes. A base do relacionamento com Deus é na troca: “Eu vou dar o dízimo para Deus me dar uma casa ou vou fazer uma grande oferta para arranjar uma linda noiva”. Ora, vejam com Deus é visto nos pensamento dos animadores, como um grande comerciante, melhor inclusive que aplicação na bolsa de valores.

Quão miserável é essa espiritualidade mercantilista, onde o dinheiro é visto com mediador entre o homem e Deus; onde a “divindade” faz trocas com homens materialistas. Ó quão miserável e podre doutrina dos animadores de auditório! Mas quão maravilhosa é a visão bíblica do Altíssimo, um Deus de amor que nos transmite graça sendo nos ainda pecadores, e que nos livra do pecado e da morte e nos dá uma nova vida em Cristo! Deus requer adoração por meio da oferta e dízimos.

08. Os animadores de auditório amam títulos. Apesar do horror pelo estudo bíblico, os animadores gostam do título de Doutor em Divindades, que pode ser comprado por dois mil dólares em falsas faculdades nos Estados Unidos e no Brasil, mas só que na América de cima é mais chique! Ora, como alguém se torna doutor em apenas seis meses, eis um rolo gospel do diploma?

Isso mostra que os animadores não estão preocupados com um estudo aprofundado das Escrituras ou até mesmo na trilha de uma carreira acadêmica, o que eles amam na verdade é os títulos. Hoje proliferam os auto proclamados bispos, profetas, apóstolos, arcanjos e daqui a pouco: semi-deus ou vice-deus. Mas é melhor não dar idéia.

Conclusão: Que possamos trilhar pela caminho bíblico de um pregador do evangelho. Onde o amor a Deus e ao próximo está em primeiro lugar, onde a Palavra de Deus tem prioridade e o desejo é glorificar o nome do Senhor e não a si próprio.

Referências Bibliográficas:

1- PACKER, James I. O Conhecimento de Deus. 2 ed. São Paulo: Mundo Cristão, p. 13.

2- STOTT, John. Tu Porém: A mensagem de 2 Timóteo. 1 ed. São Paulo: ABU Editora. 1982 , p 57.

 

Autor: Gutierres Siqueira, moderador do site no Blog Teologia Pentecostal

janeiro 21, 2008 at 10:57 am Deixe um comentário

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