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Pneumatologia, por Gordon Chown

 


O Espírito Santo: uma Pessoa ou uma energia?

Apesar de tudo quanto podemos acolher com gratidão daquilo que o Antigo Testamento nos ensina a respeito do Espírito Santo, a doutrina realmente distintiva a respeito provém do Novo Testamento.

Em João 7.39, lemos que “Até então o Espírito ainda não tinha sido dado, pois Jesus ainda não fora glorificado”. O que fica claro é que o Espírito, até então, nunca tinha sido outorgado no sentido mais pleno, e que não seria derramado sobre toda carne até que Jesus fosse glorificado. Ou seja: o Espírito Santo, conforme é definido no Novo Testamento, é outorgado às pessoas como resultado da obra de Jesus Cristo. O Novo Testamento, a partir de então, continua ressaltando a íntima conexão entre o Espírito e Jesus.

O ESPÍRITO DE JESUS

O Espírito Santo é “o Espírito de Jesus” (Atos 16.7), “o Espírito de Jesus Cristo” (Filipenses 1.19), “o Espírito de Cristo” (Romanos 8.9), “o Espírito do seu [de Deus] Filho” (Gálatas 4.6). A obra de Jesus e a obra do Espírito estão profundamente entrelaçadas entre si. O Espírito dá testemunho de Jesus (João 15.26), faz as pessoas lembrarem-se daquilo que Jesus disse (João 14.26) e glorifica a Jesus (João 16.14).

Não se pode negar que o Novo Testamento é marcado por uma profusão da atividade do Espírito, tanto assim que Atos dos Apóstolos poderia ser chamado “Atos do Espírito Santo”. Os Evangelhos relatam o que Cristo fez e disse, enquanto Atos relata o que o outro Consolador fez e disse.

Tudo isso é sempre considerado como uma das conseqüências da encarnação. Não há referência no Novo Testamento a alguma obra do Espírito à parte de Cristo – trata-se do “Espírito de Cristo”. Portanto, o Espírito Santo, ao nos alcançar, transmite a nós os pensamentos de Cristo, suas emoções, sua vontade, sua vitalidade.

MÁ INTERPRETAÇÃO

Repudia-se, assim, uma suposta “Dispensação do Espírito” no sentido de o Pentecostes ter possibilitado um relacionamento com Deus independentemente de Cristo. É da máxima importância ressaltar que ser cristão depende daquilo que Cristo fez.

Hoje, Jesus Cristo faz em mim, mediante o Espírito, aquilo que Ele já fez por mim séculos atrás, na Cruz, por meio de sua Pessoa. É essa revelação do Espírito no Novo Testamento que ocupará a nossa atenção até ao fim desse estudo, no qual selecionaremos os aspectos mais importantes e veremos sua relevância para hoje.

A primeira questão é se o Espírito é uma Pessoa ou uma coisa? É um ser vivente real assim como o Pai e o Filho, ou é um poder, uma influência ou uma força que leva a efeito o propósito divino? Fica claro o impacto primário do ensino do Novo Testamento: o Espírito é considerado consistentemente como uma pessoa. Quanto a Deus Pai, a própria palavra “Pai” tem significado implícito que nos leva a considerá-lo como Pessoa, no sentido mais pleno da palavra. Quanto ao Deus Filho, é mais fácil ainda pensar nele como o Menino de Belém, o Carpinteiro de Nazaré, o Mestre da Galiléia, apesar da sua plena divindade manifestada na Ascensão.

O Espírito Santo, porém, sem o conceito de “Pai” e sem o da encarnação de Filho, é mais difícil retratarmos. Sua operação é interior e invisível, pos Ele nos dá graça, orientação, forças etc. Tanto que poderíamos atribuir a Ele uma influência procedente do Pai. “Espírito” é neutro em grego (e em inglês). Ele é simbolizado no Novo Testamento pelo óleo, fogo, vento, água etc., de modo que as seitas, como as Testemunhas de Jeová e os Adventistas do Sétimo Dia, dentre muitas outras, facilmente o imaginam como uma força inanimada.

CONSOLADOR OU CONSELHEIRO

A palavra grega em pauta é parakletos, que literalmente significa alguém “chamado ao lado” de outra pessoa, normalmente para ajudar. Pode ser para falar uma palavra favorável no julgamento desta. Nesse sentido, consta em 1João 2.1: “Se, porém, alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo”. Na versão King James, coloca-se Advocate, “defensor” (que não devemos transliterar como Advogado, pois a Bíblia tem juiz, réu e vítima, com suas respectivas testemunhas, todavia não tem o “advogado” moderno).

As demais passagens onde ocorre parakletos são João 14.16, 26; 15.26; 16.7, com a tradução tradicional de Consolador. Na Nova Versão Internacional, é Conselheiro. O essencial, aqui, é que a palavra teria sido entendida pelos leitores originais de João como referente a uma pessoa – seja Consolador, Conselheiro, Intercessor, Defensor, Ajudador (sendo todas essas palavras tipicamente aplicadas a Deus no Antigo Testamento).

Em grego, “espírito” é uma palavra de gênero neutro, conforme mencionamos supra, e o respectivo pronome ou adjetivo está na forma neutra. O apóstolo João obedece essa regra quando as duas palavras estão juntas. Todavia, fora disso, usa o masculino “ele”. Para a gramática rigorosa, é incorreto, mas nos leva a entender que João pensava habitualmente no Espírito em termos pessoais. Veja o que João 16.13 diz: “…aquele [masculino] Espírito [neutro]…” (ARC).

Continuando a análise em grego, precisamos definir “outro Consolador” (João 14.16). Em grego, temos állos, que significa “outro do mesmo tipo”, e héteros, “outro de tipo diferente”.

Na mesa, alguém nos oferece uma laranja e, depois, pedimos állos – mais outra. Se pedirmos héteros, seria outra fruta – banana, maça, pêra etc. Jesus se refere a “állos Consolador” – alguém semelhante a Ele, Jesus.

Nos discursos de despedida de Jesus (João 14.15-17, 25-26; 15.26-27; 16.5-11, 12-15), veremos que o Espírito é sempre referido como uma Pessoa. Ele fará as pessoas se lembrarem daquilo que Jesus falou e as ensinará (João 14.26); testemunhará a respeito de Jesus (15.26); guiará as pessoas, ouve e fala (João 16.13); e glorificará a Jesus e declarará determinadas coisas (João 16.14). Fica claro, então, que no Evangelho de João, o Espírito é considerado consistentemente como Pessoa, e não como mera influência ou poder.

ESPÍRITO SANTO NOS ESCRITOS PAULINOS

O Espírito Santo ocupa espaço considerável nos escritos do apóstolo Paulo. Chega ao ponto de ele dizer: “Se alguém não têm o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo”, Romanos 8.9, e pela proposição positiva: “…porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus”, Romanos 8.14.

Quando Paulo encontrou alguns supostos cristãos, perguntou imediatamente: “Vocês receberam o Espírito Santo quando creram?” (Atos 19.2). Diante da resposta negativa, Paulo passou imediatamente a retificar a situação: “Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo de arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo, as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam em línguas e profetizavam. E estes eram ao todo uns doze varões”, Atos 19.4-7.

Devido a importância que Paulo atribui ao Espírito Santo, suas epístolas abundam em referências ao Espírito Santo. Usualmente, ele refere-se ao Espírito como ativo de alguma maneira. Na base dessas atividades, vê-se que o Espírito é forçosamente uma Pessoa. Vejamos, por exemplo, o que diz 1Coríntios 12.11: “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer”. Essas operações são atribuídas a uma pessoa e o “querer” caracterizam personalidade.

PERSONALIDADE

A personalidade está envolvida na “mente” ou “intenção” do Espírito (Romanos 8.27), que é considerado entidade pensante, assim como em 1Coríntios 2.11 – “O Espírito conhece”. Não se trata de um ser friamente intelectual, pois Paulo fala do “amor do Espírito” (Romanos 15.30) e da possibilidade de “entristecer” o Espírito Santo (Efésios 4.30). O amor e cuidado do Espírito pelas pessoas são vistos na sua intercessão intensiva “com gemidos inexprimíveis” (Romanos 8.26), e isso “de acordo com a vontade de Deus” (v27), o que enfatiza sua união com o Pai. O Espírito Santo “clama” (Gálatas 4.6), habita nas pessoas (Romanos 8.9), as dirige (Romanos 8.14) e as ensina (1Coríntios 2.13). “O próprio Espírito testifica ao nosso espírito que somos filhos de Deus”, Romanos 8.16.

Semelhantemente, Paulo repetidas vezes associa o Espírito com o Pai e o Filho, como, por exemplo, quando diz: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vocês”, 2Coríntios 13.13; “Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Mas a manifestação do Espírito Santo é dada a cada um para o que for útil”, 1Coríntios 12.4-6; “Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; Um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Um só Deus e pai de todos, o qual é sobre todos e por todos, e em todos”, Efésios 4.4-6.

Não se pode imaginar que Paulo quisesse nos dizer que, apesar de o Pai e o Filho serem Pessoas, o Espírito Santo não é Pessoa. Os três são invocados em pé de igualdade.

DISTINTO DO PAI E DO FILHO

Assim, chegamos a questão do relacionamento entre o Espírito, por um lado, e o Pai e o Filho, por outro lado. A maioria das referências ao Espírito no Novo Testamento alude a Ele em operação, mas sem referência ao Pai ou ao Filho. Exemplificando: “Pelo Espírito, a um é dada a palavra de sabedoria”, 1Coríntios 12.8. Aqui temos o Espírito fazendo algo dentro do crente. Segundo a impressão dada pelo referido texto e por inúmeros outros no Novo Testamento, Ele é classificado como Entidade individual.

No entanto, não podemos ficar somente com alguma impressão. Existem várias passagens que falam de todas as três Pessoas da Trindade. Temos a “graça” em 2Coríntios 13.14, as “unidades” (“um só”) em Efésios 4.4-6 e as “diversidades” em 1Coríntios 12.4-6.

Temos ainda a fórmula batismal registrada em Mateus 28.19: “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Em Marcos 1.10-11, lemos que o Espírito desceu em forma de pomba sobre Jesus e, ao mesmo tempo, a voz do Pai veio dos Céus. Cada membro da Trindade tem seu respectivo papel separado nesse episódio.

No mesmo sentido, vemos o Filho orando ao Pai para ele enviar o Espírito (João 14.16). Tanto o Pai quanto o Filho estão envolvidos na missão do Espírito (João 14.26; 15.26; 16.15). Às vezes, toda a Trindade é mencionada: “Por meio dele [de Cristo] tanto nós como vocês temos acesso ao Pai, por um só Espírito”, Efésios 2.18 (RA). Uma dupla menção acha-se em Romanos 8.11: “E, se o Espírito daquele [de Deus] que ressuscitou a Jesus Cristo dentre os mortos habita em vocês, aquele [Deus] que ressuscitou a Cristo dentre os mortos também dará vida a seus corpos mortais, por meio do seu Espírito, que habita em vocês”. Veja também Romanos 15.16; 1Coríntios 6.11; 2Tessalonicenses 2.13; Tito 3.4-6; 1Pedro 1.2 e Judas 20-21. Essas são passagens suficientes para vermos que o Novo Testamento ensina sobre as três Pessoas em conjunto.

Há passagens que se referem a dois membros da Trindade de modo que não podem ser considerados idênticos. Jesus nos diz: “…é para o bem de vocês que eu vou. Se eu não for, o Conselheiro não virá para vocês; mas se eu for, eu o enviarei”, João 16.7. Esse texto inclui a possibilidade de a identidade entre Jesus e o Espírito ser confundida. Da mesma forma, vemos o Espírito Santo fazendo intercessão por nós diante do Pai (Romanos 8.26-27), o que exclui a identidade do Espírito ser confundida com a do Pai. Por meio desses textos, notamos claramente que é, então, mantida uma distinção entre os membros da Trindade, e é excluída a idéia de o Espírito ser um “aspecto” ou “força” do Pai e do Filho. Assim, o Espírito não é uma coisa, mas uma Pessoa.

ASSOCIAÇÃO COM O PAI E O FILHO

Já notamos que existem várias passagens no Novo Testamento onde o Espírito é mencionado na mais íntima conexão com o Pai e o Filho. Nelas, nada se diz a respeito do relacionamento entre os membros da Trindade. No entanto, muita coisa está subentendida, conforme veremos. Na fórmula batismal (“…batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”, Mateus 28.19), não há definição da natureza essencial dos membros da Trindade. Quanto à deidade, nenhum ser no Céu ou na Terra poderia ser colocado na mesma expressão, na mesma categoria. A palavra “nome” está no singular – o que expressa a unidade das três Pessoas. A deidade consiste no Pai, no Filho e no Espírito Santo.

O mesmo pode ser dito a respeito de todos os textos que vinculam entre si as três Pessoas. O Espírito é um ser em igualdade de condições com o Pai e o Filho. O Espírito participa da inauguração do ministério de Jesus, ao descer sobre Ele no batismo (Marcos 1.10-11). O Espírito também se destaca na encarnação de Jesus.

Em Mateus 1.18, Maria se achou grávida pelo Espírito Santo (Lucas 1.35), vemos ainda o Espírito Santo levando as pessoas a Jesus, testemunhando Dele e continuando a sua obra (João 14.26; 15.26; 16.13-15).

Paulo, em Romanos 15.16, fala dos gentios sendo “santificados pelo Espírito Santo”. As Boas-Novas daquilo que Cristo fez em favor das pessoas incluem um lugar para a operação do Espírito. A obra do Pai em dar vida às pessoas é “pelo seu Espírito, que habita em vós” (Romanos 8.11).

O conceito de Deus, por mais sublime e enaltecido que seja, vir a conviver com o homem em amor e misericórdia é visto em muitas partes das Escrituras: “Pois assim diz o Alto e Sublime, que vive para sempre, e cujo nome é santo: Num alto e santo lugar habito, e também com o contrito e humilde de espírito”, Isaías 57.15.

Às vezes, é deixado claro que é por meio do Espírito Santo que Deus convive entre as pessoas e dentro delas. É assim que Paulo escreve aos coríntios: “Não sabeis, vós que sois templos de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus que sois vós, é santo”, 1Coríntios 3.16-17.

O santuário é onde as pessoas buscam a presença de Deus, é onde Deus habita de modo especial. E no santuário, aqui mencionado, é o “Espírito de Deus” que habita. A inferência é clara: o Espírito Santo é Deus – Deus habitando no homem (1Coríntios 6.19).

De acordo com o registro de João, Jesus, na noite antes da crucificação, disse aos apóstolos: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito da verdade que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós”, João 14.16-17.

Não se trata de uma manifestação fugaz e secundária. A presença do Espírito dentro das pessoas é “para sempre”, enquanto o crente nutri-la. Essa presença santificadora e eterna, como num santuário, não pode ser menos do que Deus.

AS COISAS MAIS PROFUNDAS DE DEUS

Paulo, referindo-se à sabedoria que o Espírito nos revela (1Coríntios 2.6-10a), explica: “O Espírito sonda todas as coisas, até mesmo as coisas mais profundas de Deus. Pois, quem conhece os pensamentos do homem, a não ser o espírito do homem que nele está. Da mesma forma, ninguém conhece os pensamentos de Deus, a não ser o Espírito de Deus”, 1Coríntios 2.10-11.

O Espírito, tendo a própria natureza da deidade, tem nítido conhecimento das coisas de Deus. As mensagens dos profetas, registradas no Antigo Testamento, não tiveram sua origem na sagacidade, entendimento e habilidade deles, mas “falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo” (2Pedro 1.21). O Espírito Santo, de dentro da deidade, inspirou os profetas nas coisas que nenhuma pessoa criada poderia saber por conta própria.

BLASFÊMIA CONTRA O ESPÍRITO

Em todos os três Evangelhos Sinóticos, está registrada a declaração de Jesus no sentido de a blasfêmia contra o Espírito Santo ser considerada o mais hediondo de todos os pecados (Mateus 12.31-32); Marcos 3.28-29 e Lucas 12.10). Mateus e Lucas declaram especificamente que é pior do que a blasfêmia contra o Filho do Homem, Jesus Cristo. Decerto, não se refere a algumas meras palavras levianas ou caluniadoras. Seria mais uma atitude total à vida.

A ocasião foi a declaração dos oponentes de Jesus, no sentido de Ele expulsar demônios por meio de “Belzebu, o príncipe dos demônios” (Mateus 12.24). Atribuíram, deliberadamente, os atos de misericórdia de Jesus, realizados no poder do Espírito Santo, aos poderes do Maligno. Classificaram o bem como iniqüidade, e assim rejeitaram tudo quanto Cristo representava. A consciência de tais pessoas normalmente está cauterizada, em contraste com a consciência tenra, aflita com a possibilidade de ter falado algo assim, sem querer.

Posto que o Espírito Santo caracteriza especificamente a vida nova que Cristo veio trazer, pecar contra o Espírito Santo é repudiar semelhante vida. À luz da revelação luminosa e clara do Evangelho, esse repúdio viola as convicções do intelecto, a iluminação da consciência e os ditames do coração. É atribuir a Satanás uma obra nitidamente da parte de Deus, é dizer que o Espírito Santo é um espírito maligno do inferno, e que Cristo é o próprio Satanás. No presente estudo, o assunto em pauta é a divindade do Espírito Santo, e vemos que blasfemá-lo é pior do que a blasfêmia contra Jesus Cristo, cuja divindade não está em dúvida entre os cristãos.

Confirmação dessa divindade é vista no começo do ministério Jesus, quando “o Espírito o impeliu para o deserto” (Marcos 1.12). Aqui, o Espírito Santo pode ser inferior a Jesus. Da mesma forma, na primeira pregação de Jesus, Ele declarou ser o cumprimento da profecia de Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim” (Lucas 4.18 e Isaías 1.1-2). Seu ministério foi realizado no poder e na orientação do Espírito Santo, que , portanto, não pode ser menos deidade do que Jesus Cristo.

ATRIBUTOS DIVINOS

Em todas as partes do Novo Testamento, vê-se que o Espírito Santo tem atributos divinos. Assim como Deus Pai é considerado onipresente, assim também o Espírito Santo: “Pois em um só corpo todos nós fomos batizados em um único Espírito: quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um único Espírito”, 1Coríntios 12.13. Forçosamente, o Espírito precisa estar em todos os lugares para poder exercer semelhantes funções. Semelhantemente, vemos isso na passagem sobre “as coisas profundas de Deus” (1Coríntios 2.10). Nada, nem sequer as coisas que pertencem à própria natureza de Deus, está desconhecido ao Espírito.

Quanto à onipotência, é possível que seja atribuída ao Espírito Santo em passagens tais como Romanos 15.19 (“… pelo poder de sinais e maravilhas e por meio do poder do Espírito de Deus…”) ou 1Coríntios 12.11, que fala do Espírito que distribui os seus dons “individualmente, a cada um, como quer”. No mínimo, nada ou ninguém pode impedi-lo de fazer tais coisas. A capacidade de salvar, que é atribuída ao Espírito Santo por todo o Novo Testamento (Romanos 8.2, 11 e Tito 3.5), também pode ser considerada atributo divino – no Antigo Testamento, é prerrogativa de Deus dar a salvação ao seu povo.

Nessa categoria de atributos divinos, devemos classificar as passagens que declaram que o Espírito Santo é Autor das Sagradas Escrituras, tais como Atos 1.16 (“…era necessário que se cumprisse a Escritura que Espírito Santo predisse por boca de Davi…”) e mormente Hebreus 10.15 (“O Espírito Santo também nos testifica…”). Ao examinarmos a passagem do Antigo Testamento citado nesse texto, que é Jeremias 31.33, vemos que são palavras do Senhor Deus. Em Hebreus 3.7-9, a expressão “Assim, como diz o Espírito Santo” inclui “onde os seus antepassados me tentaram”. Em Êxodo 17.7, o texto “puseram o Senhor à prova” refere-se a Deus. Fica claro que o Espírito Santo é considerado Deus no sentido mais plenário. Ainda mais porque o Espírito Santo, como Autor do Antigo Testamento, é Autor das palavras reconhecidamente pronunciadas por Deus.

A conclusão lógica é atingida numa declaração explícita de que o Espírito Santo é Deus. Pedro, falando ao marido de Safira, diz: “Ananias, como você permitiu que Satanás enchesse o seu coração, a ponto de você mentir ao Espírito Santo? (…) Você não mentiu aos homens, mas sim a Deus”, Atos 5.3-5. Há, portanto, evidências abundantes da divindade do Espírito. Mas, a conclusão não depende somente das passagens citadas. A divindade do Espírito Santo não é questão de textos isolados, mas é confirmada pelo conceito global da obra inteira Dele.

E isso é de importância tremenda. Quando tomarmos consciência de que o poder que entra em nosso coração e vida ao nos tornarmos cristãos não é o poder de nenhuma criatura, mas do próprio Deus, isso faz de fato a diferença. Para alguns, ter íntima comunhão com um ser angelical poderia valer algo; ter experiência em primeira mão com uma força cósmica, também; mas, conhecer o poder e presença contínua do próprio Deus é algo muito acima de tudo isso.

Por, Gordon Chown – Missionário, tradutor e professor de Teologia.
Manual do Obreiro (CPAD) – 2006.

julho 6, 2008 at 1:33 am 1 comentário

O Espírito Santo nas Escrituras

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1. Títulos do Espírito Santo

 

Para muitas pessoas de nossa sociedade, os nomes pessoais não têm a mesma relevância que os da literatura bíblica. Os pais dão nome às crianças sem pensar no significado, simplesmente copiando dos parentes, amigos ou personagens públicas. Um casal pode dar o nome de Miguel a um filho, sem o mínimo conhecimento do significado original do nome (“Quem é como Deus?”). Os pais que têm um tio muito querido, chamado Samuel (“Seu nome é Deus”), talvez dêem o mesmo nome a um filho. Para um israelita, o nome Samuel proclamava que o portador do nome era um adorador de Deus.

 

Os nomes e títulos do Espírito Santo nos revelam muita coisa a respeito de quem é o Deus Espírito Santo. Embora o nome “Espírito Santo” não ocorra no Antigo Testamento, vários títulos equivalentes são usados. O problema teológico da personalidade do Espírito Santo gira em torno da revelação e compreensão progressivas, bem como da maneira de o leitor abordar a natureza da Bíblia. O Espírito Santo, como membro da Trindade, conforme revela o Novo Testamento, não aparece na Bíblia hebraica. Mesmo assim, o fato de a doutrina do Espírito Santo não estar plenamente revelada na Bíblia hebraica não altera a realidade da existência e obra do Espírito Santo nos tempos do Antigo Testamento. A Terra nunca foi o centro físico do Universo. Mas antes de terem as observações da criação divina — feita por Copérnico, Galileu e outros — comprovado o contrário, tanto os teólogos quanto os cientistas dos tempos passados acreditavam que a Terra era o centro do Universo.

 

Conforme já foi observado, ainda não houve uma revelação da parte de Deus, quer na Bíblia, quer na criação, que abrangesse a totalidade de tudo quanto Deus está dizendo ou fazendo. O modo de entender o Servo sofredor, depois da ressurreição, conforme sintetiza a explicação que Filipe fez de Isaías 53.7, 8 ao eunuco etíope (At 8.26-40), não era uma revelação nova, mas um modo mais exato de compreender uma revelação antiga.

 

O título mais freqüente no Antigo Testamento é “o Espírito de Yaweh” (heb. Ruach YHWH [Yahweh]), ou, conforme consta nas Bíblias em português, “o Espírito do Senhor”. Considerando o ataque que os críticos modernos fazem à presença do Espírito Santo no Antigo Testamento, talvez devamos usar o nome pessoal de Deus, “Yahweh”, ao invés do título “Senhor” (que os judeus dos tempos posteriores ao Antigo Testamento substituíram pelo nome). O que nos interessa aqui é um dos significados de Yahweh: “aquele que cria, ou faz existir”. Cada emprego do nome Yahweh é uma declaração a respeito da criação. O “Senhor dos Exércitos” é melhor traduzido como “aquele que cria as hostes” — tanto as hostes celestiais (as estrelas e os anjos, de acordo com o contexto) quanto às hostes do povo de Deus. O Espírito de Yahweh estava ativo na criação, conforme revela Gênesis 1.2, com referência ao “Espírito de Deus” (heb. ruach ’elohim).

 

Uma preciosa série de títulos do Espírito Santo encontra-se em João 14 – 16. Jesus promete enviar outro Consolador (“Ajudador” ou “Conselheiro”). A obra do Espírito Santo como Conselheiro inclui o papel do Espírito da Verdade, que habita dentro de nós (Jo 14.16; 15.26), como aquEle que ensina todas as coisas, como aquEle que faz lembrar tudo quanto Cristo tem dito (14.26) e como aquEle que convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo (16.8).

 

   Vários títulos do Espírito Santo podem ser encontrados nas Epístolas: “o Espírito de santificação” (Rm 8.2); “o Espírito de adoção de filhos” (Rm 8.15); o “Espírito Santo da promessa” (Ef 1.13); “o Espírito eterno” (Hb 9.14); “o Espírito da graça” (Hb 10.29); e “o Espírito da glória” (1 Pe 4.14).

  

2. Símbolos do Espírito Santo 

 

Os símbolos oferecem quadros concretos de coisas abstratas, tais como a terceira Pessoa da Trindade. Os símbolos do Espírito Santo também são arquétipos. Em literatura, arquétipo é uma personagem, tema ou símbolo comum a várias culturas e épocas. Em todos os lugares, o vento representa forças poderosas, porém invisíveis; a água límpida que flui representa o poder e refrigério sustentador da vida a todos que têm sede, física ou espiritual; o fogo representa uma força purificadora (como na purificação de minérios) ou destruidora (freqüentemente citada no juízo). Tais símbolos representam realidades intangíveis, porém genuínas. 

 

Vento. A palavra hebraica ruach tem amplo alcance semântico. Pode significar “sopro”, “espírito” ou “vento”. É empregada em paralelo com nephesh. O significado básico de nephesh é “ser vivente”, ou seja, tudo tem fôlego. A partir daí, seu alcance semântico desenvolve-se a ponto de referir-se a quase todos os aspectos emocionais e espirituais do ser humano vivente. Ruach adota parte do alcance semântico de nephesh. Por isso, em Ezequiel 37.5-10, achamos ruach traduzido como “espírito”, ao passo que, em 37.14, Yahweh explica que porá em Israel o seu Espírito.

 

Água. A água, assim como o fôlego, é necessária ao sustento da vida. Jesus prometeu rios de água viva, “e isso disse ele do Espírito” (Jo 7.39). O fôlego e a água, tão vitais na hierarquia das necessidades físicas humanas, são igualmente vitais no âmbito do Espírito. Sem o fôlego vivificante e as águas vivas do Espírito Santo, nossa vida espiritual não demoraria a murchar e a ficar sufocada. A pessoa que se deleita na Lei (heb. torah _ “instrução”) de Yahweh e nela medita de dia e de noite é “como a árvore plantada junta a ribeiros de águas… cujas folhas não caem” (Sl 1.3). O Espírito da Verdade flui da Palavra como águas vivas, que sustentam e refrigeram o crente e revestem de poder. 

 

Fogo. O aspecto purificador do fogo é refletido claramente em Atos 2. Ao passo que uma brasa tirada do altar purifica os lábios de Isaías (6.6, 7), no dia de Pentecostes são “línguas de fogo” que marcam a vinda do Espírito (At 2.3). Esse símbolo é empregado uma só vez para retratar o batismo no Espírito Santo. O aspecto mais amplo do fogo como elemento purificador encontra-se no pronunciamento — ou profecia — de João Batista: “Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. Em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará” (Mt 3.11, 12; ver também Lc 3.16, 17).

 

As palavras de João Batista aplicam-se mais diretamente à separação entre o povo de Deus e os que têm rejeitado a Ele e ao Messias. Os o rejeitaram serão condenados ao fogo do juízo. Por outro lado, o fogo ardente e purificador do Espírito da Santidade também operam no crente (1Ts 5.19).

 

Óleo. Pedro, em seu sermão diante de Cornélio, declara: “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude” (At 10.38). Citando Isaías 61.1, 2, Jesus proclama: “O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres” (Lc 4.18). Desde os primórdios, o azeite é usado primeiramente para ungir os sacerdotes de Yahewh, e depois, os reis e os profetas. O azeite é o símbolo da consagração divina do crente para o serviço no reino de Deus. Em 1 João, os crentes são advertidos a respeito dos anticristos:

 

E vós tendes a unção do Santo e sabeis tudo… E a unção que vós recebestes dele fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis (1Jo 2.20, 27).

 

Receber a unção do Espírito da Verdade, que faz brotar rios de águas vivas no mais íntimo do nosso ser reveste-nos de poder para servir a Deus. Na simbologia do Espírito Santo, a água e o óleo (azeite da unção) realmente se misturam!

 

Pomba. O Espírito Santo desceu sobre Jesus na forma de uma pomba, segundo o relato dos quatro evangelhos. A pomba é arquétipo da mansidão e da paz. O Espírito Santo habita em nós. Ele não toma posse de nós, mas nos liga a si mesmo com amor, em contraste às correntes dos hábitos pecaminosos. Ele é manso e, nas tempestades da vida, produz paz. Mesmo ao lidar com os pecadores, Ele é suave, conforme se vê quando conclama a humanidade à vida, no belo, porém tristonho apelo que se encontra em Ezequiel 18.30-32: “Vinde e convertei-vos de todas as vossas transgressões com que transgredistes e criai em vós um coração novo e um espírito novo; pois por que razão morreríeis…? Porque não tomo prazer na morte do que morre, diz o Senhor Jeová; convertei-vos, pois, e vivei”.

 

Os títulos e símbolos do Espírito Santo são chaves para o entendimento de sua obra em nosso favor.

 Autor: Mark D. McLean, teólogo e pastor pentecostal norte-americano. Trecho da obra: HORTON, S. M. Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.   

novembro 29, 2007 at 4:41 pm Deixe um comentário


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